barcelona | carlos sainz

5. and when melbourne goes crashing down

Fade into view, oh
It's been a while since
I have even heard from you

— Style, Taylor Swift

CARLOS SAINZ

Quando chego no hotel, sinto meu corpo todo doer. Eu estava vindo de uma série de GPs nos quais eu aloprei demais com as bebidas e as mulheres, há pelo menos um mês meu nome está nas capas de revistas e jornais de fofoca. Por causa disso, alguém resolveu achar que eu tenho cara de pai do ano e pra piorar o meu próprio pai está ameaçando colocar um segurança no meu pé para evitar que eu faça alguma bobagem, dá pra acreditar?

Tudo isso e ainda preciso lidar com o fato de que a Ferrari quer que eu resolva essa situação com abstinência ou com uma namorada falsa. Ou ainda pior: com as duas coisas.

Eu me sinto um grande de um merda e estava sendo bom passar pelo menos alguns minutos do dia sozinho.

Assim que me troco, após sair do banho, o telefone do quarto toca e a atendente questiona meio mal humorada se conheço uma garota morena chamada Martina Fernandez e que está dizendo que é minha amiga.

Essa é a primeira vez que sinto vontade de rir hoje.

É claro que ninguém ia deixar ela subir com tanta facilidade, onde eu estava com a cabeça? Oriento a funcionária a liberar a subida dela, dizendo que é uma amiga da família e que é importante que ninguém saiba que ela esteve aqui. A funcionária concorda e, minutos depois, escuto batidas na porta.

Martina continuava igual eu me lembrava, só que mais bronzeada desde a última vez que a vi. Ela é uma garota morena, de olhos castanhos e com algumas sardas. Tem cabelos ondulados rebeldes que sempre estão meio armados por causa do vento. Quando penso nela, sou invadido pela lembrança dela usando uma calça jeans de comprimento um pouco abaixo dos joelhos, alguma camiseta lisa que eventualmente estava suja nas bordas de quando ela resolvia revelar suas fotos em casa e tênis. Sempre usando um tênis.

E era exatamente assim que ela estava hoje. As sardas pipocando do seu nariz, as roupas iguais a última vez que me lembro e seus tênis clássicos.

O sorriso que ela abriu quando me viu foi terapêutico pra mim. Não deu nem tempo de dar oi e ela já tinha jogado os braços pelo meu pescoço, me capturando para um abraço.

— Chili Pepper — ela sussurra a versão do apelido que foi ela mesma que criou tempos atrás —, meu Deus, como você está ótimo! Faz tanto tempo que a gente não se vê!

Dou uma risada e com a mão livre, encosto a porta do quarto, antes de finalmente envolvê-la nos braços e completar o nosso abraço.

— Não é minha culpa se você some né, Tina — reclamo. — Também senti sua falta, você decidiu se mudar pro país que fica literalmente quase no fim do mundo.

— Qual é, você mora a cada duas semanas em um lugar, não sei do que está falando, seu nômade.

Ela desfaz o abraço e não perde tempo tirando os tênis e se jogando na minha cama. Essa era Martina, ela se sentia a vontade em absolutamente qualquer lugar e eu gostava disso nela.

— Agora, sério, me conta a verdade — ela diz e percebo que segura o riso entre os lábios —, que história é essa que você vai ser papai?

Me junto a ela na cama e acho que é a primeira vez no dia que dou um sorriso sem graça ao falar desse assunto.

— Não tem história nenhuma, não vou ser pai — digo de forma honesta. — Todas essas fofocas são mentira...

Martina por um momento fica em silêncio, apenas olhando pra mim e sei que ela está usando o próprio detector de mentiras que parece que nasceu com ela. Após alguns segundos, a expressão em seu rosto relaxa e eu sei que ela acredita em mim.