barcelona | carlos sainz

2. saudi arabian is a blank space

Saw you there and I thought
"Oh, my God, look at that face
You look like my next mistake
Love's a game, wanna play?"

— Blank Space, Taylor Swift

American Express, em nota: O início da temporada da Fórmula 1 foi eletrizante, entre brigas por posições, falhas técnicas e términos de relacionamento, os pilotos resolveram comemorar (e também afogar as mágoas) em um luxuoso clube de strip-tease de Bahrein. Enquanto Charles Leclerc passou a noite com uma única bebida em mãos, Carlos Sainz foi visto dançando com diversas mulheres, da mesma forma que Lando Norris. Para alguns, o mesmo combustível que serve para comemorações, também serve para os consolos no final do dia, não é mesmo?

CARLOS SAINZ

Na minha cabeça, ainda estava tocando uma música alta e uma loira bem gostosa estava passando as mãos em mim. Como eu sentia saudade dessa vida, ir para a balada solteiro era uma coisa totalmente diferente. Ela alcançou minha boca e me beijava com muita vontade, parecia que eu estava no paraíso até que...

— Sainz — uma sacodida bagunça as imagens dentro da minha cabeça e a loira some como se fosse uma tempestade de areia —, acorda!

— Ah não... — resmungo quando identifico a voz de Rupert, o meu preparador físico. — Que horas são?

— É a hora da sua corrida matinal — ele responde sério e puxa o cobertor no qual estou enrolado — Levanta essa bunda bronzeada daí, não quero saber de manha. Já me bastou ter que dar um chega pra lá na ruiva que estava na sua cama.

Ruiva? O que aconteceu com a loira?

Abro os olhos e luz do meu quarto de hotel agride meus olhos. Dou uma espiada pela grande janela do quarto e percebo que ainda está escuro lá fora, agora eu tenho certeza que isso é uma punição pelo que quer que tenha acontecido ontem à noite. Clair, minha relações públicas, com certeza vai estar irada quando me encontrar no café da manhã mas se eu beijei uma loira e acordei com uma ruiva, isso significa que a noite valeu a pena.

Levanto da cama e estou me sentindo péssimo, com o estômago embrulhado e um gosto de tequila na boca. Ainda assim, visto minha roupa de corrida enquanto Rupert me espera com uma expressão séria.

— Ela vai me comer vivo hoje, não vai? — pergunto e dou um último laço no cadarço do meu tênis.

— Ela vai servir a sua cabeça numa bandeja de prata se você aparecer em mais uma manchete do American Express beijando uma garota.

Dou uma risada e caminho na direção dele. Rupert me olha e sinto a pena no seu olhar pelo meu estado que deve estar completamente deplorável. Caminhamos até o elevador e torço internamente para que a nossa corrida seja na esteira da academia do hotel, gastei toda a bateria social ontem e acho que já chega de fotos minhas em redes sociais.

Ficamos em silêncio por um momento e me dou o luxo de fechar os olhos.

— Clair me disse que quer você e Charles em uma reunião hoje após o almoço, junto com o Klay.

— Por que ela precisa de nós dois, não basta ela se reunir com o assessor do Charles em particular? — questiono, Rupert está atrapalhando os trinta segundos que eu tenho de descanso. — Eu preciso dormir...

— Depois do que você aprontou ontem à noite, acho bom não fazer muitas perguntas...

— Tá. Corrida, banho, soneca, almoço, reunião e arrumar as malas para partirmos hoje à noite — revejo minha agenda do dia em voz alta. — Certo?

— Esqueceu da sessão de musculação, depois da reunião.

Deixo o ar escapar em um suspiro e, assim que a campainha do elevador apita e vejo que estamos no térreo, concluo que o dia vai ser longo hoje.

•

Na reunião, Clair estava realmente furiosa, mas o que ela tinha pra falar do episódio de ontem ia muito além do que eu imaginava. De qualquer forma, tive minha punição por estar nem aí pra mídia e ela realmente prometeu servir minha cabeça numa bandeja de prata, assim como Rupert tinha previsto, se eu saísse mais um pouquinho da linha. Porém, me deu uma brecha, eu poderia fazer o que quisesse, desde que ninguém tirasse uma foto minha pra comprovar minhas ações.

Então, o saldo do dia foi positivo. Arrumei minhas malas e me despedi de Bahrein com boas lembranças.

A Arábia Saudita era de longe um dos GPs que eu considerava mais entediantes e que normalmente não oferecia grandes emoções, além é claro de estarmos correndo em uma zona de alta periculosidade quando o quesito é segurança nacional. De qualquer forma, não era um circuito que permitia ousadias, ao menos não sem correr o risco de sofrer um acidente ou sair sem um pedaço do carro a cada ultrapassagem.

Então, a nossa race week começou tranquila, embora eu estivesse ainda meio amassado das boas horas em Bahrein. Eu e Charles demos várias entrevistas, respondendo uma ou outra pergunta diferente a respeito do circuito e das pequenas mudanças feitas nos carros. Tivemos horas no simulador, treinos extras, banhos de água gelada e, para não fugir do padrão, Charles tenso com a corrida e Lando planejando escondido qual seria a nossa próxima escapada.

O clima no motorhome ainda não estava dos melhores, Clair ainda estava brava e Klay sempre me dizia meias palavras quando eu perguntava alguma coisa. Mas nada que abalasse o meu bom humor, afinal, eu não tinha tantos motivos externos para me aborrecer. Enquanto aguardava o começo da quali deitado, na cama no meu closet improvisado, chequei algumas coisas no meu celular. Realmente haviam muitas manchetes sobre minha noitada em Bahrein, eu sempre achava engraçado como eles me pintavam como um sem vergonha e não como um homem que apenas estava se divertindo.

Meu pai também tinha me ligado algumas vezes e sua última mensagem estava longe de ser educada, ainda mais quando ela começa com a frase "Você tem noção que está sujando o nome da sua família...". Eu amo meu pai, mas essa coisa de querer que minha imagem seja impecável sempre causa atrito entre nós, só por que ele próprio nunca esteve envolvido em quaisquer escândalos e acredita que eu tenha que seguir seus passos exatamente como ele os deu. Era chato essa imagem de bom moço, gosto mais da minha.

Martina também tinha respondido, prometendo que nos falaríamos em breve e que poderíamos combinar algo na Austrália daqui há 2 semanas.

— Carlos — o sotaque francês me chama e quando ergo a cabeça, Leclerc está encostado na porta, com um 55 enorme estampada, parecendo preocupado. — Tem um minuto?

— Claro.

— Escuta, sobre aquela reunião com a Clair e o Klay... — ele começa, então, era isso que o estava preocupando.

— Relaxa, acho que aquela comida de rabo foi suficiente pra entrarmos na linha — falo. — Somos um time, Charles, eu não faria nada de propósito pra prejudicar você e sei que isso é recíproco da sua parte também.

Ele sorri e o alarme do meu despertador soa, estava na hora de irmos para a garagem nos concentrarmos para a quali.

— Vá lá e arrebenta, não fica pensando muito nisso — o aconselho antes de deixar o meu celular no armário do closet, dar um tapinha carinhoso em seu ombro e sair pela porta para começar o meu ritual de concentração.