22. did we have to do this?

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Did you think we'd be fine?
Still got scars on my back from your knife

Bad Blood, Taylor Swift

CARLOS SAINZ

Depois de Barcelona tivemos uma semana a mais de descanso até que finalmente chegasse a hora de viajar para o Canadá. Meu pai e os membros da minha equipe nos aconselharam a vir alguns dias antes, para sofrermos menos com a diferença de fuso horário, afinal, era uma viagem longa de dez horas através do oceano.

Dessa vez, seríamos só nós dois. Martina e eu.

Meus pais e Blanca estavam ajudando Ana nos preparativos do seu grande dia e, nessa próxima semana que eu estou em Montreal, eles farão degustação do cardápio do jantar e vão escolher decorações do casamento junto com os noivos. Uma parte de mim sentia falta de poder participar mais desses eventos de família, mas sei que minha irmã entende que é inviável ajustar tudo ao meu calendário, então, nos dividíamos como dava de modo que a maior parte da família sempre estivesse junto.

Por um lado, a sensação de não ter tanta pressão externa em momentos fora do grid também era muito boa. Nossos dias em Barcelona foram incríveis, não dá pra negar, mas a tensão entre Martina e eu, embora eu acredite que não foi perceptível à minha família, existia como se fosse um elefante branco entre nós dois que eu enxergava muito bem a cada passo que dava de mãos dadas com ela. Agora, poderíamos apenas ser nós mesmos por um tempo, dormir cada um na sua cama, sem precisar de demonstrações constantes de afeto, já que ela sempre parece um pouco desconfortável e fica rígida ao meu toque.

Confesso que sinto falta de estar com uma mulher que deseje ser tocada por mim.

Desvio o olhar da janela do avião para olhar pra ela. Martina está encolhida na poltrona do outro lado da aeronave, parece totalmente concentrada no livro que minha irmã emprestou pra ela por que desde que nos acomodamos ela não parou de ler nem pra trocar algumas palavras comigo.

*

Os planejamentos para Montreal eram os mesmos de toda semana de GP: me concentrar, manter minha rotina de treinos e dar o meu melhor nas pistas. O único bônus a mais era que agora eu tinha Martina comigo e, necessariamente, precisaríamos fazer alguma coisa juntos. Quando desembarcamos, o aeroporto estava tranquilo e com apenas alguns fãs aguardando a nossa chegada. Assinei algumas camisetas e cards e, logo em seguida, já estávamos no carro indo para o hotel.

Dessa vez, Clair se certificou que tivéssemos uma cama pra cada um, mesmo que Martina não tivesse falado mais nada sobre a experiência de dividirmos a cama em Barcelona, eu sei que isso a incomodou bastante e queria poder ter cumprido a minha parte em todo esse acordo. Pra mim, não foi um sacrifício enorme e tínhamos uma barreira de travesseiro entre a gente, então, não é como se tivéssemos quebrado totalmente essa regra e acordado abraçados ou algo assim.

Estava uma manhã nublada em Montreal quando chegamos no hotel. Assim que nos acomodamos no quarto, decidi que eu precisava de uma corrida pra refrescar a cabeça e mandei uma mensagem para Rupert e Charles, enquanto eu procurava minha roupa de ginástica. Ao contrário de mim, Martina não fez nenhuma menção a estar em algum outro lugar que não fosse o nosso quarto aquecido e, logo depois que chegamos, ela se jogou na cama exatamente da forma que estava. Foi o tempo de eu me trocar no banheiro pra sair para a minha corrida com Charles e ela já estava dormindo abraçada com o livro de Ana.

*

A corrida com Charles e Rupert foi amistosa.

Raramente treinávamos juntos, mas como o preparador do meu colega de equipe tinha vindo em um vôo diferente do dele, ainda não estava disponível para acompanhá-lo no treino, então, propus que ele viesse com a gente. Apesar do cansaço das dez horas de viagem, correr fazia eu me sentir vivo, como se manejar o ar entrando e saindo dos meus pulmões em conjunto com o ritmo de corrida me desse a sensação de estar completamente no controle. 

barcelona | carlos sainzOnde histórias criam vida. Descubra agora