57. i've waited a hundred years

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Though we're tethered to the story we must tell
When I saw you, well I knew we'd tell it well
Turning Page, Sleeping At Last

CARLOS SAINZ

Martina comigo em Maranello foi o alívio que eu precisava depois da reunião de equipe do início da semana. Foi muito bom ter alguém pra distrair a minha cabeça e não deixar que os pensamentos ruins virassem um furacão dentro de mim.

E isso ela fazia bem. Como fazia.

A melhor parte foi acordar enroscado no corpo quente dela e poder dividir todas as minhas partes sem se sentir constrangido, principalmente aquelas que não mostro pra ninguém.

Apesar de estarmos nos dando bem, durante essa semana percebi que havia algo de estranho nela, mas Martina não verbalizou em nenhum momento que tinha algo a incomodando, embora eu soubesse que sim.

Quando a questionei sobre o porquê voltou mais cedo de Roma, a resposta que ela me deu sobre isso foi que o seu pai voltou mais cedo de sua viagem de negocios e avisou que chegaria apenas no dia. Então, Martina resolveu ir pra Maranello já que não conseguiria passar o tempo com a sua mãe como estava planejado.

Me preocupa essa situação, afinal, eu sei que Hector Fernandez é ardiloso.

O que esperar de um homem que traiu a própria família por pura ganância?

Uma parte de mim se sentiu aliviada que ela decidiu não ficar lá. Vai saber o que aquele homem poderia ter dito à ela, ainda mais que agora a mídia toda está falando sobre nós dois. É impossível que ele não saiba que estamos juntos e, vindo dele, a chance de querer chantagear a Martina se sequer percebesse que isso poderia não ser real era alta demais pra arriscar.

O resto dos dias se resumiu em um clima esquisito na Scuderia e com meu companheiro de equipe. Embora não tenhamos trocado uma palavra sobre a reunião com Vasseur, parecia haver um muro invisível entre nós dois. Durante todas as atividades dessa semana, eu tentei ser o mais profissional possível, mas ainda estava chateado com toda a situação, com todos eles e pela forma com que me trataram. Então, não me restava muitas opções além de fazer o meu trabalho bem feito e falar o mínimo possível.

Agora a prioridade é a Holanda e o resto da temporada com as corridas seguintes.

O fim da semana chegou rápido e o casamento da minha irmã seria uma distração a mais pra tudo o que está se passando na minha cabeça.

Ana decidiu se casar em uma igreja em Madri, onde seu noivo Rodrigo frequentou a vida toda, e em contrapartida a festa seria na vinícola dos nossos pais em Ávila, uma cidadezinha nos arredores da capital onde passaríamos as próximas duas noites.

Assim que acordei, comecei a me preparar para o ensaio geral do grande dia no qual íamos repassar os últimos detalhes e eu já estava pronto pra ir, enquanto Martina ainda dormia abraçada em um travesseiro.

Olho pela janela do segundo andar e vejo as parreiras verdinhas tomarem conta de todo o horizonte enquanto os passarinhos cantam dando um tom a mais para a manhã. A propriedade dos meus pais em Ávila é um lugar acolhedor, mas pra mim, nem de longe, tinha o mesmo significado que a casa de Barcelona.

No entanto, para minha irmã mais nova, esse lugar sempre foi mágico e esteve nos seus sonhos de menina toda vez que ela falava sobre casamento. Não dá pra negar que Ana é a mais romântica de nós três, mas o que esperar de uma garota que foi criada tendo como maior hobbie ler em uma biblioteca? Me assustaria se ela não quisesse encontrar um amor como os que lia nos livros, mas seria ainda mais torturante se ela não o encontrasse.

barcelona | carlos sainzOnde histórias criam vida. Descubra agora