52. i don't start shit

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You did some bad things,
but I'm the worst of them
Sometimes I wonder which one
will be your last lie
They say looks can kill
and I might try
Vigilante Shit, Taylor Swift




MARTINA FERNANDEZ

A casa de Roma estava exatamente como eu me lembrava.

Tudo se mantinha lindo, desde a arquitetura de tijolos às folhas verdes espalhadas pelo quintal após o vento ter sacodido as árvores durante o verão italiano. Com a chave que eu ainda guardava comigo, abri o portão pequeno e entrei.

Depois de ter andado de kart com Carlos, voltamos para Barcelona arrumar as malas. Ele teria que passar uma semana em Maranello a trabalho e eu iria, finalmente, vir pra Roma passar um tempo com a minha mãe.

Ela sabia da minha chegada por que eu tinha telefonado pra ela algumas horas atrás, antes de decolar. Eu sabia que devia algumas explicações desde a última vez que conversamos, naquela ligação de quando chegamos na Bélgica e ela me perguntou sobre Carlos e eu nos beijando como tinha visto na capa de uma revista de fofocas.

Eu passei o vôo todo até aqui pensando nisso.

Pensando na narrativa que eu ia manipular pra contar pra ela sem deixar nenhuma brecha.

Então, comecei com o óbvio.

Carlos e eu nos conhecíamos, isso ela já sabia. Mantínhamos contato mesmo depois que ele começou a correr profissionalmente, isso ela já não sabia com tantos detalhes.

Para tudo evoluir pra um namoro tinha muito chão.

Resolvi incluir o desenvolvimento desse relacionamento a partir do momento em que me mudei pra Austrália, depois de brigar bem feito com o meu pai por causa das dívidas dele e das soluções mirabolantes que ele tinha proposto pra reerguermos a nossa família.

Assim a narrativa se desenvolvia, um grande amigo que estava correndo em Melbourne, com um ombro muito solícito e disposto a me ouvir choramingar sobre os problemas familiares.

Essa foi a nossa reaproximação.

Minha viagem pra Miami pode ser inclusa nessa história só que ao invés de dizer que fui lá receber a notícia de que ele queria uma dupla pra um namoro falso, eu vou dizer pra ela que fui lá encontrar o cara que eu estava saindo desde a Austrália e que estava mexendo comigo.

Então, como o término dele era vagamente recente, vou dizer que optamos por segurar o anúncio do nosso relacionamento até Barcelona.

E aí estava a mentira perfeita, em cada detalhe.

Eu tinha repetido isso pra mim tantas vezes que tudo estava na ponta da minha língua quando empurrei a porta da frente e o rangido preencheu o ambiente.

Olhei a sala, que ficava ao lado do hall de entrada e admirei o ambiente por um momento. É meio triste que por tantos anos esse cômodo tenha ficado sem vida por causa das paredes anêmicas, todas brancas e sem graça. Se essa casa fosse minha eu mudaria tantas coisas nela, começando pela sala. Uma parede colorida ia dar muito mais vida para o ambiente.

Bom, se formos otimistas, esse dia estava próximo, mais alguns meses e a casa seria realmente minha.

Volto ao meu objetivo, olho ao redor, tentando identificar um sinal de vida.

barcelona | carlos sainzOnde histórias criam vida. Descubra agora