27. you'll see me in hindsight, martina

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I thought heaven can't help me now
Nothing lasts forever
But this is gonna take me down
Wildest Dreams, Taylor Swift


CARLOS SAINZ

Eu estava deitado na minha cama enrolado no lençol enquanto tentava pegar no sono, mas esse passeio com Martina, não saía da minha cabeça. Ela tinha razão, a estratégia que estávamos usando de fazer apenas o que Clair planejava pra nós não era boa e tinha muitas pontas soltas. Com a nossa própria estratégia, nós dois tínhamos aproveitado bastante a tarde de ontem respondendo perguntas daquela lista idiota.

Ok. Eu admito. Apesar de idiota, foi muito divertido.

Embora ela tenha escolhido todas as perguntas dessa vez, no meio da nossa conversa eu me peguei pensando que também queria saber as respostas dela. Quando Clair nos entregou a lista aquele dia, apenas dei uma olhada por cima, mas não cheguei a elaborar nenhuma resposta de fato, então tudo o que eu disse para Martina foi algo espontâneo, pensado na hora, o que tornou as coisas ainda mais interessantes.

Na nossa viagem toda de volta para Spilberg, ela estava distraída olhando a paisagem, quase não conversamos. Estava um silêncio confortável entre nós dois enquanto eu acelerava pela rodovia vazia do interior da Áustria. Mas confesso que algo dentro de mim se incomodava um pouco com esses pequenos silêncios, que eu não sabia se estavam relacionados com o fato de termos nos beijado ou por que ela só ficava tímida quando eu flertava com ela.

O que fazia eu me sentir um pouco culpado, por que nada fazia muito sentido, embora fosse exatamente o que nós dois concordamos em fazer.

Durante a tarde toda Martina me dava aquele riso fácil, permitia que eu segurasse a sua mão sobre a mesa e flertava comigo como se fosse algo natural, mas a confiança dela claramente se abalava assim que eu ficava perto o suficiente para sentir o seu perfume doce.

Será que ela ficava nervosa?

No entanto, o que estava me perturbando mais em toda essa situação é que eu guardava um segredo dessa tarde com ela. Um segredo que tentei ignorar durante todo o trajeto de volta, que tentei me enganar que foi uma mentira inocente, mas ainda assim eu me pegava pensando nisso em qualquer momento que minha mente ficava desocupada. O meu cérebro apenas queria entender duas coisas.

A primeira é por que ela ficava tão acanhada quando juntava a boca na minha.

A segunda, e a principal, é por que eu desviei o olhar do dela para observar o café Liebe e seus ipês atrás de nós e menti que tinha alguém na janela só por que queria dar um beijo nela.

Troco de posição na cama mais uma vez e me sinto um ridículo. Eu não preciso inventar nada para uma mulher querer me beijar e sei disso, então, por que fiz isso mesmo assim?

Eu não conseguia entender.

O fato dela não ter nem questionado ou virado o rosto pra confirmar o que eu lhe contei mostra o quanto Martina confiava em mim. Agora eu estou me sentindo um ordinário por ter mentido pra ganhar um beijo dela e a outra parte de mim, a que não se arrepende da minha mentira, não parava de pensar no quanto eu daria tudo pra beijá-la de verdade.

Assim, só pra experimentar a boca dela do jeito que qualquer mulher deve ser beijada, mesmo que em um namoro de mentira. Não dá pra negar que é impossível sustentar isso se ninguém nunca visse um beijo decente entre nós dois.

barcelona | carlos sainzOnde histórias criam vida. Descubra agora