When we first dropped our bags on apartment floors
Took our broken hearts, put them in a drawer— Welcome to New York, Taylor Swift
CARLOS SAINZ
O ar quente de Bahrein foi um ótimo jeito de começar a temporada. Confesso que eu estava com saudade disso tudo. Saudade de arrumar as malas, saudade de rever meus colegas de grid, saudade de ficar ansioso com a corrida e até de me enfiar em debaixo da água gelada que está sempre congelante demais pro meu sangue quente espanhol. Depois de uma pré-temporada produtiva, viajando e me preparando fisicamente com a minha equipe, eu estava pronto pra estar de volta.
Enquanto estou deitado na minha cama do hotel, no domingo pós corrida, eu sentia os efeitos do meu corpo depois desses insanos quatro dias. A corrida não foi como eu imaginava, até por que qualquer piloto que se preze sempre vai se imaginar como número um, como um campeão. O P4 foi o meu início e também o meu fim no GP de Bahrein, não posso dizer que fiquei completamente satisfeito mas, ao mesmo tempo, concordo que foi um resultado bom. Em qualquer esporte, assim como na Fórmula 1, não basta só saber atacar, é preciso também saber se defender.
E ter me mantido entre o P5 e o P3 me mostrou que eu sabia sim me defender bem. Embora, convenhamos, Fernando Alonso tenha furado minha defesa com maestria, assim como fez com todo mundo que estava abaixo dele, perdendo apenas para o Checo... Mas isso não é assunto para a minha cabeça agora, tenho certeza que a equipe vai querer discutir isso na próxima reunião de estratégia, então, me dei ao luxo de simplesmente relaxar enquanto olho a bonita paisagem desértica pela enorme janela do meu quarto.
Poucos minutos depois, escuto alguém bater na porta. Pela forma impaciente, imagino que Lando esteja do outro lado. Nem preciso me mover para atendê-lo, depois de sermos companheiros na McLaren muitos limites entre nós tinham sido ultrapassados, entre eles: bater na porta e entrar logo em seguida, sem esperar resposta.
— Eu não acredito que você ainda está deitado, Carlitos — o bom humor dele era impressionante —, eu que termino em P17 e você que está jogado na cama com essa cara de morte?
A risada dele ecoou no quarto e, por um momento, senti saudade do tempo que dividimos juntos como colegas de equipe. Não existia dias sem alegria perto de Lando. Com Charles as coisas são mais harmônicas, no geral, ele tem um humor mais maleável que o meu, mas nada muito exagerado.
— Também senti sua falta, grilo falante — me junto à risada dele, relembrando um velho apelido que dei pra ele uns anos atrás.
— Mas agora é sério, nossa escapada ainda está de pé, né? Até Charles topou ir... — ele se joga ao meu lado na cama e vira para me cutucar. — Se você ficar bêbado e ligar pra sua ex, eu não responderei por mim.
Esse era o espírito de Lando Norris: a vida é um lugar para se dirigir em alta velocidade, festejar com os amigos os momentos bons, e também os ruins, e claro pegar garotas. Era só isso que importava pra ele.
— Fique tranquilo, a única coisa que quero da minha ex é distância. Agora eu sou um homem oficialmente livre!
Outra batida na porta que Lando tinha deixado aberta e as figuras esguias de Charles e Daniel aparecem. Pelo visto a lista de convidados dessa escapada estava mesmo ficando grande.
— Como se em algum momento namorar tivesse te impedido de ser um homem livre, não é mesmo? — Daniel diz no meio de uma risada calorosa, engatando uma piada velha sobre momentos da minha vida que todos sabemos que não fui o homem mais fiel do mundo. — Vamos lá ver se Pierre e companhia estão prontos pra sair, de lá passo aqui resgatar vocês desse quarto horrendo cor de areia.
— Não vem com essa, espera que eu vou com você! — Lando protesta e dá um pulo da cama em direção a porta. — Carlitos, dez minutos e venho te tirar da fossa.
E assim, os três somem da minha vista, sem se importar de deixar a porta do quarto escancarada. Respiro fundo e penso um pouco nesse término. Ele foi necessário, um namoro não tem que ser um protocolo ou um molde apenas para mostrar para os outros, mas muitas vezes no mundo em que vivemos acaba sendo exatamente isso, como um troféu em uma estante que serve apenas para ser mostrado aos outros.
Ainda fico deitado na cama, me sentindo bem mais animado pra sair e aproveitar um pouco a nossa última noite em Bahrein. Pego o celular e procuro o contato de Martina, uma das minhas amigas mais próximas e quem ficou do meu lado depois de tudo o que aconteceu com o meu namoro. Eu e ela nos conhecemos há muito tempo, no passado eu duvidaria que ainda continuaríamos próximos, mas Martina é aquele tipo de pessoa que não importa quanto tempo você não fale com ela, assim que ligar e ouvir a voz dela do outro lado da linha, você sabe que nada mudou na amizade de vocês.
De vez em quando, eu precisava de um colo que só Martina poderia dar, uma conversa sem julgamentos. Eu sabia que na maior parte das vezes, ela apenas não me levava a sério, mas isso não vem ao caso agora. Decido ligar pra ela e, assim que o telefone começa a chamar, me arrependo. Afinal, ela está na Austrália agora e pode ser muito tarde da noite. Três toques e nada. Uma outra hora eu ligo então...
— Falando com a namorada, Sainz? — Esteban Ocon aparece na porta aberta e contenho a vontade de revirar os olhos.
— Uma amiga...
— É, já ouvi essa história antes — ele retruca e me dá um sorriso.
Não tenho nada contra ele, na verdade, só não gosto da maneira com que ele aparece do nada no meio das conversas. É como se ele estivesse em todos os lugares ao mesmo tempo tentando capturar uma informação que vá lhe valorizar. Pode ser apenas uma birra minha, mas é curioso que não seja exclusiva quando se trata desse moleque.
— Vai sair com a gente? — pergunto antes que ele suma de novo.
— Sim, Lando me disse pra vir até aqui, ver se você não tinha pegado no sono.
Dou uma risada e resolvo finalmente levantar. Preciso entrar no clima que Lando apelidou de "personalidade dupla", no qual deixamos as tristezas trancadas dentro do guarda-roupas do hotel e vestimos nossa melhor personalidade: a que é inimiga da tristeza e melhor amiga da diversão.
Decidi que hoje estou comemorando o fim do meu relacionamento de uma vez por todas, se querem falar da minha vida, não estou nem aí, podem falar o quanto quiserem. Estou comemorando o meu P4 como estreia na temporada, por que fiz um bom trabalho e pontuei pelo menos. Estou comemorando pelas garotas que vou beijar esta noite e, quem sabe, acorde muito bem acompanhado amanhã.
No fim, depende apenas de mim todas essas coisas.
Fecho a porta e cumprimento Ocon com um aperto de mão, não demora muito e logo vejo Lando, Charles e Daniel vindo na nossa direção. Penso uma única vez na minha assessora de imprensa e faço uma prece dentro da minha cabeça, por que pra juntar todos esses caras juntos, a festa de hoje no mínimo ia nos render uma primeira página.
Mas e daí? Eu sou solteiro mesmo.
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barcelona | carlos sainz
Fiksi PenggemarCarlos não imaginava que seu maior pesadelo estava prestes a começar após ficar solteiro e finalmente começar a aproveitar a vida em todas as baladas que pudesse frequentar. A notícia que o American Express soltou no primeiro dia útil da semana após...