Capítulo 68

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   A reunião com a nova comandante não foi  o que nenhum dos soldados esperavam. Por se tratar de uma emergência, apenas os líderes de equipe foram convidados, e isso indicava que Natalia obviamente estaria ali. Pra maioria, ainda era estranho ver uma pessoa diferente direcionar a reunião, e mais estranho ainda era sentir a tensão pairando no ar.
   A questão é que a antiga Marechal estava claramente irritada com o sumiço de um dos seus projetos, e todo mundo ali sabia que a única pessoa com recursos suficientes para fazer isso era a ex comandante. No entanto, sem provas isso era uma mera especulação.

-Estão ouvindo?! -questionou Henks.

     Todo mundo parecia concentrado demais em intercalar olhares entre as duas mulheres, e a presença de Natalia no meio deles ainda era um pouco assustadora para alguns.

-A missão de vocês fora desses muros não é mais capturar pessoas.

    Os distraídos pareceram surpresos.

-A partir de agora, quero que se concentrem nos recursos. Todos sabemos como os rebeldes sobrevivem saqueando antigas farmácias, mercados, plantações. Eu quero que cada equipe explore essas fontes e confisque tudo o que encontrarem no caminho.

-Vamos deixar eles morrendo de fome? -questionou um dos soldados.

-Vamos fazer cada rebelde sair da toca, e quando não restar mais alternativa, eles mesmos se entregarão a nós.

      Nem mesmo Natalia, no seu tempo de represália contra os rebeldes, foi capaz de tamanha maldade.

-Alguma pergunta?

     A sala ficou em silêncio.

-Natalia?

      A ex comandante apenas ergueu uma sobrancelha, se negando a responder com um cumprimento militar, simplesmente porque sabia que Henks estava se referindo a ela pelo primeiro nome apenas para provocar. Se estava sendo desrespeitada, retribuiria esse favor sem se importar com as consequências. No entanto, essa pequena desobediência quanto a hierarquia de comando não pareceu irritar a mulher, que apenas soltou um sorriso tranquilo e gesticulou com as mãos para dispensar todo mundo.
     Geralmente os líderes costumavam conversar um pouco após as reuniões para alinhar os objetivos, mas ninguém ali estava confortável em fazer isso diante de quem até alguns dias atrás era a chefe. Por isso, Alfie não seguiu até o refeitório como costumavam fazer, e alcançou os passos apressados da filha.

-Ei! Natalia!

      A mulher encarou o rosto que tentou ignorar durante toda a reunião, mas não diminuiu os passos.

-Como está Lueny?

-Bem.

-Eu...-gaguejou. -Pensei em sair um pouco com ela... será que...

-Ela está na escola.

-Eu sei, mas...

-Passe na minha casa depois do café da tarde. Pode pegar ela com a babá.

-Ok.

       Alfie continuou caminhando ao lado dela, sem saber exatamente o que dizer. Ele já estava por dentro do que tinha acontecido no enterro da sua mulher, e queria muito encontrar uma forma de se aproximar dela.
     Por outro lado, tudo o que Natalia queria era esquecer que o seu primo existia. Um primo que na verdade era o seu pai, casado com a mãe que tinha enterrado a pouco tempo. Tudo isso era demais pra ela.

-Quanto tempo você vai continuar me seguindo? -questionou, seca.

-Nós estamos indo para o mesmo lugar.-se defendeu.

B.M ConsanguineoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora