B.M Consanguineo

Capítulo 60 -De volta a vida.

Os primeiros instantes antes de entrar numa sala de aula nova não eram tão ruins como todo mundo pensava, o pior de tudo era sair de lá com a enorme sensação de que não sabia nada do que estava sendo ensinado, e a lista de coisas que deveria pesquisar para entender o assunto. Queria entender realmente o que estava pensando quando descidiu que era uma boa idéia enfrentar o início de uma faculdade com a mesma cabeça de uma criança tinha para estudos. Houve um momentos naquela aula, que as palavras simplesmente deixaram de ter significado automático na sua mente, e isso a assustou tanto que marcou sua primeira visita ao psicólogo assim que deixou o local. Precisava ter suas lembranças de volta o mais rápido possível, porque sinceramente sentiu vergonha de perguntar ao colega ao lado o que era "Jurisprudência", ou até mesmo uma palavra simples como "conseguinte."
E como se o seu dia não pudesse ficar pior, ouviu uma conversa no corredor a respeito da festa de inicio das Olimpíadas, que já deveria ter acontecido a muito tempo e que por algum motivo atrasou. Pelo estilo de vida que levava antes, festas não pareciam ser um problema para a sua "antiga versão", mas aquela Natasha desmemoriada sentiu as forças sairem do seu corpo quando soube que era obrigatório fazer pelo menos uma aparição. Talvez fosse o cansaço? Afinal estava acordando muito cedo desde que chegou, mas nada explicava o vazio estranho dentro do seu peito.

-Não vai almoçar?

A pergunta fez o tronco da mulher girar naquela direção com um pouco de surpresa, e franzir levemente a testa.

-Estou sem fome. -respondeu.

-Mesmo assim, pular a refeição pode...

-Estou com sono. -interrompeu. -E sou grande o suficiente pra saber me cuidar.

-Epa! Desculpa...-Alfie ergueu os braços.-Não era minha intenção ser invasivo...amigos, lembra?

-Desculpa...-suspirou. -É só o cansaço...

-Primeiro dia difícil? -ergueu uma sobrancelha. -Sempre é assim. No inicio você odeia, e depois você ama.

-Pensei que fosse ao contrário.

-Nada aqui é muito comum.

-A começar por você.

-Eu? -riu.

-É, suas teorias e o seu jeito misterioso. -revirou os olhos. -Toda aquela história sobre...

-Vai fazer alguma coisa agora? -interrompeu, sabendo que até mesmo no banheiro havia escutas.

-Dormir. -franziu a testa. -E depois comprar um vestido para festa de abertura das Olimpíadas. Fiquei sabendo que será no pátio, e não tenho nada apropriado para o frio. Sabe me dizer como costuma ser esses eventos?

-Nada muito elaborado, mas não está tão frio la fora, viu?

-Estou com um pouco de frio. -deu de ombros.

Alfie franziu a testa, preocupado.

-Você está bem?

-Sim. -concordou.

-Verificou se não está com febre?

-Não estou com febre. -bufou. -É só um pouco de frio!

-Tudo bem...-se rendeu, percebendo sua irritação. -Tem certeza de que não quer ir almoçar?

-Não. -negou. -Marquei de almoçar com um amigo...estou esperando ele chegar pra...remarcar.

O caipira se controlou para não revirar os olhos, porque sabia exatamente quem era esse amigo e o quanto aquela aproximação poderia ser perigosa.

-Ok. Então te vejo mais tarde, certo?

-Até mais tarde. -concordou.

E mais uma vez a conversa dos dois não tinha surtido os efeitos que o Kansas esperava, era como se fosse totalmente invisível aos olhos da sua esposa, e nada havia sobrado daquela faísca que invadia o olhar dela toda vez que se encontravam. Foi nesse nível de desanimo que os seus passos o levaram novamente até a base, agarrado ao curto período que passou com ela naquele lugar. Mais difícil do que não saber nada, era descobrir tudo e mesmo assim não ter a mínima idéia do que fazer para chamar a atenção da sua esposa.
Naquele horário os corredores estavam pouco movimentados, nada além dos guardas que vigiavam os principais setores, e assim que percebeu onde estava não soube exatamente o que deveria fazer. Talvez pudesse dar um "oi" aos seus filhos? Isso seria estranho?