Capítulo 18

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-Como assim a gente atropelou alguma coisa?! -Resmunga Natasha, irritada.

       Becker desceu do carro sem dar ouvindo aos xingamentos da outra, que fazia de tudo pra soltar as próprias cordas com o pedaço de vidro que achou no chão do carro.  Nat sentiu o caco perfurar um pouco a sua pele, por ter acertado a si mesma na tentativa de se livrar rápido das cordas.
     Ela desceu do carro três minutos mais tarde de Elisabeth, que tinha se agachado na frente do carro nesse meio tempo, analisando o que tinham atropelado.

-O que tem aí? -Natasha surgiu na frente do carro, curiosa. -Oh...merda...morreu?

-Não... está vivo...-disse Lizzie, aliviada.-Mas quebrou uma perna...

-Eu nem sabia que ainda existiam cachorros nesse fim de mundo! -bufou.

      Um cachorro caramelo de porte grande estava deitado da frente do carro,  com os olhos fechados e a respiração pesada.

-A pancada foi forte...é difícil saber se a perna é o único problema. -suspirou. -Eu disse que deveriamos ter ido mais de vagar!

-Era você quem estava no volante! -se defendeu. -E essa porcaria de carro deveria ter freio automático! No meu tempo já tinha isso e...-pausou, pensativa.

-O que foi? -Lizzie estranhou a reação dela.

-Não deveria ter freio automático?-repetiu, como se aquilo explicasse sua reação.

      Becker pareceu entender onde ela queria chegar.

-E aquele negócio de comando de voz?-lembrou. - Porque o carro da sua filha, só você tinha permissão para dirigir...

-A gente conseguiu dirigir um carro do governo? -duvidou. -Droga, o sistema do carro está desligado...-concluiu. -De alguma forma eles desligaram...

-Então conseguimos roubar o carro porque eles deixaram. -finalizou.

-Exatamente.

-Provavelmente acreditando que a nossa primeira reação seria correr pra casa. Esse plano é velho, usavam no meu tempo. -enrrugou o nariz. -E agora?

-Agora a gente deixa esse carro aqui e sai correndo.

-E o cachorro?! Ficou maluca?!

-Obvio que não vamos deixar ele...-Nat revirou os olhos. -Você carrega.

-Que? Eu?!

-Eu sou alérgica.

-Você morre se tocar num cachorro?-debocha Lizzie.

-Quase isso. -resmunga Natasha. -Pega logo esse cachorro! -massageou os pulsos. -A gente precisa sair daqui.

      Becker bufou, e com todo cuidado que pôde tratou de pegar o cachorro machucado nos braços, torcendo pra que aquele deslocamento de um lugar ao outro não causasse mais mal à ele. Nenhuma das duas sabia ao certo como iriam tratar e cuidar daquele animal, ainda mais porque o porte dele era grande demais pra passar desapercebido.
     As duas sairam correndo dali o mais rápido que podiam, guiadas por Natasha, que tomou a decisão de simplesmente seguir a direção que imaginava ser a certa, talvez seu senso de direção não estivesse tão afiado, mas tinha quase certeza de que indo por aquele caminho chegariam mais próximas da base. Aquele dia tinha sido desastroso: mal tinham ficado 24 horas longe da base e já sentiam desejo de voltar, porque a quantidade de adrenalina que já tinham produzido era o suficiente. Além disso, continuar andando pela cidade só iria aumentar ainda mais o risco de serem pegos de novo pelo pessoal do governo.
    Elisabeth sentia a respiração pesada do cachorro, e se sentiu mal pelo estado do animal. A pancada tinha sido forte, e ele não parecia no melhor dos estados. Aquele fim de mundo tinha conseguido desidratar o animal, indicando que provavelmente ele não tinha ou talvez nunca teve alguém que cuidasse dele.
     Não demorou muito até conseguirem alcançar o parque industrial de onde tinham saído. Ainda havia uma certa cautela e preocupação de que de alguma forma estivessem sendo seguidas, mas depois de se fazer o possível para ter certeza de que não isso não me estava acontecendo, elas desceram pelos túneis. A parte mais difícil foi se arrastar pelos túneis com um cachorro machucado nas mãos, no entanto depois de quase trinta minutos fazendo isso lentamente para evitar danos, encontraram o final da tubulação. Estavam dentro da base de novo, e felizmente naquele horário o corredor estava vazio. Dava pra ouvir o som das crianças gritando e conversando na sala à poucos metros dali, indicando que estavam em horário de aula.
     
-Como vamos andar com esse cachorro nas mãos? -resmunga Elisabeth, vendo a outra fechar a tubulação.

B.M ConsanguineoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora