Capítulo 80

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    Natasha estava estranhamente relaxada, um sorriso pequeno surgiu nos seus lábios quando abriu os braços para espreguiçar, e o som de metais colidindo fez a sua testa franzir e o corpo travar. Não precisou de muito esforço pra sentir as correntes de polirium amarradas nos seus pés, e então um série de memórias confusas atingiram a sua mente. Ela abriu os olhos de vagar, espiou o quarto aconchegante, e inspirou profundamente para se acalmar e entender o que estava acontecendo. O lugar luxuoso e extremamente limpo fazia um contrate enorme com as correntes que ligavam os dois tornozelos, de tal forma que seria quase impossível correr pra longe dali. Sua última experiência já havia comprovado que aqueles metais só abriam com imãs, e não havia nada desse tipo naquela sala.
    Encarou a própria roupa, e constatou que felizmente ainda estava vestindo a mesma, mas logo em seguida seus olhos encontraram a câmera no canto do quarto e todo esse alívio foi água abaixo. Não havia nada impedindo as suas mãos, então apoiou o peso na cama e se arrastou até colocar os pés no chão. Seu corpo estava fraco, e seja lá o que tenha lhe acontecido, ficou ainda pior. A última coisa que lembrava, era de responder algumas perguntas de uma jornalista, e depois disso tudo estava confuso demais para entender.
    Havia uma porta que claramente dava para o interior do local, mas o que a atraiu foram as cortinas brancas e esvoaçantes na entrada da sacada. Caminhou com passos leves e fracos até lá, e quase sorriu quando percebeu que estava aberta, mas qualquer tipo de animação foi soterrado quando avistou o que havia do lado de fora. Um quintal cheio de soldados, tanques e todo tipo de segurança que seus olhos jamais sonharam em contemplar. Um drone passou voando sob a sua cabeça, parou por alguns segundos ao focalizar a sua presença, e então continuou o seu caminho.

-É impossível escapar daqui.-sussurrou.

        A segurança parecia tão profunda, que agora entendia o motivo das portas abertas, e soube naquele instante que demoraria meses até que ela tivesse uma mínima chance de escapar. É claro, isso considerando que estivesse realmente em condições de conseguir.
     Levou a mão até a barriga, e xingou mentalmente qualquer um que estivesse ouvindo. Não poderia arriscar a vida daquela criança, e também não estava disposta a perder mais um filho. Da última vez ela não sabia, mas agora como poderia ser imprudente nessas condições? Os primeiros meses eram os mais sensíveis, e depois disso sua barriga estaria grande demais para uma fuga segura. Mais uma vez um sentimento de culpa invadiu o seu coração, e desejou ter ouvido os conselhos do marido e ficado naquele hospital.

-Ai droga...droga de hormônios...-piscou diversas vezes, como se isso fosse impedir os olhos de lacrimejar.

       Espantou a própria angústia, e analisou melhor o ambiente. Aquilo era um deserto? Eles estavam no meio do deserto? Não havia desertos na América, certo? Pelo menos não daquele tipo! Ela estava na Ásia? Franziu a testa, incapaz de entender bem a sua localização.
     Depois de alguns minutos tentando encontrar pistas, ela deixou o exterior e testou a porta principal. Estava aberta.

-Ótimo... não sei o que é mais sinistro, fechada ou aberta. -bufou.

     O corredor era extenso, comprovando que aquela mansão era muito maior do que imaginava, e apesar de estar cheio de câmeras não havia uma única alma viva presente. A pessoa que fez isso deixou a porta aberta, porque acreditava no próprio sistema de segurança, então ela não temeu nem pouco em sair e explorar abertamente o local. Havia portas demais e muita pouca força de vontade para testar cada uma delas, mas as setas no chão eram um indicativo bem explícito do caminho que deveria seguir. Com passos cautelosos, ela caminhou cegamente na direção apontada, desceu as escadas e então escolheu um dos três caminhos disponíveis.

-Comida! -exclamou, aliviada.

      Uma cozinha enorme e vazia, mas a soma de alimentos dispostos em cima da mesa fez tudo isso parece irrelevante. Seu estômago estava roncando, e sabia que seu filho precisava comer.

B.M ConsanguineoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora