Capítulo 76

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-Se quebrar mais um galho seco, você vai me esperar aqui. -resmungou Lizzie.

-Eu não quebrei nada. -reclamou Aidan.

-Você anda como um elefante. Os soldados vão escutar os seus passos lá do outro lado do muro.

-Vão escutar você falando também.-retrucou. -Além disso, a parte difícil de cavar e esconder as bombas ficou nas minhas costas. Então não me culpe por estar cansado.

-Não pode continuar desleixado. Precisa de alguns minutos?

-Não.

-Então não cometa erros. -falou, estendendo outra bomba. -Enterra essa bem ali!

-Perto daquela moita cumprida?

-Aham.

     Os dois caminharam mais alguns passos para posicionar a próxima bomba, e quando isso aconteceu, Elisabeth ergueu os olhos e olhou atentamente ao redor como sempre fazia. A mata estava fria, e se não fosse pelas ocasionais conversas dos soldados no interior da cidade, nada seria ouvido.

-Não vamos ter tempo suficiente. -sussurrou Aidan. -A cidade é enorme, e temos somente duas duplas pra cobrir milhares de quilômetros.

-Precisamos dar conta da metade da cidade. Eu calculei melhor ontem anoite e tive tempo suficiente pra conseguir ajuda. -respondeu, na mesma altura.

-O que vai acontecer depois que o governo cair? -soltou, mudando o assunto.

-Alguém vai assumir o lugar deles.

-Eu sei. Eu só...quero saber o que vai acontecer. Nunca estive numa revolução, guerra ou algo do tipo... você já esteve em algumas, e percebi que é boa em antecipar eventos. Eu preciso saber, pra proteger os meus filhos do que virá.

-Quando o governo cair, alguém vai assumir. Algumas pessoas ainda não lembrarão, e essa parcela não vai aceitar as novas direções do país. Haverá uma guerra cívil, alguns soldados vão desertar, outros tentarão tomar o poder e questionar quem estiver lá. As pessoas que estão sobrevivendo aqui fora provavelmente vão invadir e descontar toda a raiva e dor que passaram, naqueles que viveram lá dentro em segurança. Isso vai desencadear mais morte e conflitos. Depois disso, os outros países vão se sentir ameaçados, e tentar invadir o país para "estabelecer a ordem", mas tudo será como um efeito dominó. As pessoas vão se levantar lá fora e reagir, mas eles vão perder se quem estiver no poder não tiver pulso suficiente para estabelecer a união da nação novamente. O país precisa estar bem antes de derrubar os outros governos, e isso precisa acontecer rápido. As defesas precisam estar levantadas, porque senão haverá um massacre em massa. Farão de tudo para conte-los, e isso inclui bombas nucleares ou...seja lá o tipo de bombas que vocês tiverem hoje. -deu de ombros. -A questão é que ainda tem um longo caminho pela frente e, é possível que Natasha e eu nao estejamos mais aqui. O plano é deixar tudo aqui pronto, porque esse é o "plano B", mas o "A" precisa ser desenrolado no passado. -suspirou. -Então, se está perguntando se é seguro para os seus filhos a resposta é não. Estimo que a paz verdadeira chegue no mínimo em vinte anos.

-Luka vai ter trinta anos, e o Thomi vinte.-lamentou. -Eles não podem continuar vivendo debaixo da terra por tanto tempo.

-E não vão.

-Você disse que não é seguro.

-Olha...o mundo que você conhecia, a vida segura que você conheceu e viveu...eles não vão viver isso. Serão circunstâncias melhores do que aquela na base, mas não perfeitas. Meu pai teve uma adolescência pacífica, já na minha época, a coisa mais marcante foi a guerra. Por mais turbulento que possa ser, aquela foi a minha realidade, e eu aprendi a viver naquele contexto. O mundo gira, muda, e os contextos se transformam. A realidade da juventude dos seus filhos será essa, assim como foi na minha. Mas o filhos deles...-sorriu. -Eles provavelmente terão paz. Então tira essa expressão aflita do rosto, porque você não é um péssimo pai. Algum dia seu filho chorou porque queria comer chocolate?

B.M ConsanguineoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora