Capítulo 23

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   Natasha saiu bem cedo de fininho da sala onde as mulheres tinham literalmente capotado depois da noite passada, desejando ter um celular nas mãos para fotografar aquela cena maravilhosa de ver todo mundo amontoado um em cima do outro. Colocou a mão na frente boca para conter o bocejo, um sinal de que claramente seu corpo desejava dormir mais, a questão é que a cabeça não permitia que isso acontecesse. Tinha muita coisa pra pensar, e entre essas coisas estava como contaria ao seus filhos sobre o pai deles.
  Caminhou em direção ao seu quarto, gostando do clima naquela base deserta, numa paz que quase nunca rondava por ali devido a correria do dia a dia daquelas pessoas. Mas no meio do caminho, mudou o rumo dos passos quando viu uma figura conhecida entrar no salão de treinamentos. Franziu a testa, e seguiu de longe o sujeito, vendo-o tirar a camisa e iniciar uma sequência de socos contra o saco de pancadas.

-Logo cedo? -soltou, assim que se aproximou o suficiente.

       Viu os ombros dele tencionar, indicando que tinha acabado de levar um susto.

-Você podia parar de chegar assim. -resmunga Rick.

       Havia alguma coisa diferente no tom de voz dele.

-Está tudo bem? -cruzou os braços, se aproximando mais.

-Sim.

-Está mentindo.

-Se sabe, porque pergunta?

-Uh... alguém não acordou bem hoje...

-Desculpa... foi grosseiro da minha parte...-parou socar o alvo a frente, e bufou.

-Você acordou cedo demais.

-Você também.

-Eu não consegui dormir. -admitiu. -Mas e você?

-Passei anos acordando nesse horário no exército. -Explicou, tateando o banco onde tinha deixado a toalha jogada, para sentar. -Preocupada com os problemas?

-Aham. -suspirou. -E você?

-Quer me fazer falar, não é?

-Só quero saber o motivo dessa cara estar assim... parece que alguém morreu...

-Não quero compartilhar.

     Natasha sentou ao lado dele.

-É sobre a... visão?

-Esse deveria ser o meu motivo para estar assim? -franziu a testa.

-Não. -falou. -Mas imagino que seja um dos motivos.

-Você quase acertou...-suspirou. -Só... não entendo o motivo do seu pai ter me trazido aqui também...quer dizer, no que exatamente poderia ajudar? Elisabeth já fez um discurso sobre isso mas...

-Você sente que não tem propósito. -analisa.

-E você é boa analisando pessoas...-sorriu.

-Por causa da sua visão, acha que não pode ajudar em nada? -continuou.

-E por acaso posso?

-Eu entendo o que está sentindo...

-Desculpe, mas dúvido que possa entender.

-Ah...posso sim...-riu. -A pouco tempo atrás eu tinha uma espécie dê acidente... não foi algo tão grave quanto não poder enxergar, mas meus tímpanos foram danificados e por causa disso não podia mais lutar. Toda vez que fazia algum esforço como simplesmente abaixar rápido demais para pegar alguma coisa, ou subir uma escada, era como se tudo girasse...entende? Eu não podia mais lutar. -franziu a testa. -E também me senti sem propósito ou até inútil...

B.M ConsanguineoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora