Tinha Que Ser Você - Valu

CAPÍTULO 1

JANEIRO DE 2026 - RIO DE JANEIRO - DIAS ATUAIS

[POV Luiza]

- Isabela, pode por favor me trazer um café descafeinado? - praticamente imploro para minha secretária por telefone.

- Claro, estarei aí em 5 minutos.

Só assim para aguentar a rotina corrida em que estou essa semana, recesso é bom, até a página dois. O retorno é desgastante e desesperador, ainda mais quando você é quem comanda tudo.

O lado bom de ter uma sócia é que alternamos o período de recesso e agora vou poder descansar. Só vim essa semana porque tive uma reunião importante e delicada com um cliente muito grande e importante que precisa de nossos serviços com urgência.

Fundei a Terra Verde Soluções Ambientais, logo que saí da faculdade de Engenharia Ambiental, em 2019. Aqui presto todos os tipos de serviços especializados na gestão e preservação do meio ambiente, isso inclui estudo de impacto ambiental, desenvolvimento de soluções sustentáveis para minimizar impactos negativos no ecossistema e principalmente atuando com a assessoria em conformidade com as normas ambientais. Apesar de esses três serviços serem nossos pilares aqui na empresa, nós oferecemos outras 10 opções que nossos clientes podem escolher entre um ou todos, em resumo no total temos uma base de mais ou menos 250 colaboradores, isso só na unidade do Rio.

- Senhora? Isabela pediu que eu trouxesse o seu café. - a copeira entrou na sala após bater na porta brevemente.

- Obrigada, Carla! - expiro pesadamente.

- É um daqueles dias cansativos?

- Muito, ah as férias né? Primeiro te relaxa, depois te faz surtar - ri sem muito humor.

- Já tá acabando e a senhora dá conta, sempre dá. - seu sorriso confiante quase me contagia. - Bom, vou voltar pro meu cantinho, mas qualquer coisa a senhora pode me chamar

- Obrigada, Carla. Você é incrível. - sorrio largamente em resposta ao incentivo sincero.

Daqui a pouco, após o expediente, preciso buscar o Léo, meu filho de 5 anos. Ele passou o fim de semana na casa da vó.

Três batidas na porta, não esperava ninguém, não no final do meu horário de trabalho.

- Isabela, você deixou quem entrar? - não tive resposta pelo telefone do escritório.

- O amor da sua vida - reconheço a voz e levanto o olhar pra porta.

- Amor? - me levanto e abro um sorriso enorme. Caminho a passos apressados em direção a morena que também me encara sorrindo.

Ao sentir meu corpo se chocar com o dela, a abraço com força.

- Que saudade - suspiro abafado no meio do abraço.

- Achou mesmo que não voltaria a tempo de buscar nosso pequeno?

É engraçado como conheci Nádia, era o meu último dia de trabalho num quiosque na Praia da Concha em Arraial do Cabo, trabalhei lá nas férias pra levantar a quantia necessária para poder comprar os livros do próximo semestre da faculdade. No mesmo dia que eu ia sair, ela entrou justamente para me substituir, logo eu precisei ensinar o funcionamento do quiosque pra ela durante o dia todo.

Ao fim do expediente, caminhando para o ponto de ônibus, conversa vai, conversa vem e ela pediu meu número. Depois que ela me chamou por SMS, nunca mais paramos de conversar.

Depois de encerrar alguns processos na empresa, seguimos de carro para a casa de minha mãe, deixei meu filho com a vó mais babona que conheço.

Nádia espera no carro como sempre faz quando busco ele, minha mãe não tem o menor problema com o fato de eu ser casada com uma mulher, mas o santo delas simplesmente não bate.

Caminho pelo jardim impecável e alcanço a campainha ao lado da porta principal. Uma correria se torna audível no lado de dentro.

- Oi filha - minha mãe abre a porta com cautela olhando para baixo.

- Oi mãe - sigo seu olhar e tudo que consigo fazer é sorrir.

- Mamãe! - o garotinho loiro de olhos castanhos mais lindo do mundo salta em meu colo.

- Oi meu amor - o abraço com força enquanto ele agarra meu tronco como um coala. - Tudo bem?

- Ele está mais do que bem, já jantou e tomou banho, não para de falar que vai ver a mamãe Nádia amanhã.

- Filho, tem uma surpresa pra você lá no carro - coloquei ele no chão e o pequeno correu em direção ao veículo. - Obrigada, mãe

- Por nada, filha. - me despeço para mostrar a surpresa.

- Olha quem veio mais cedo pra te ver! - abro a porta do carona e ele vê a outra mãe.

- Mamãe Nádia! - com ajuda o pequeno se lança sobre o colo dela.

- Oi filhote! Que saudade - sempre me emociono ao ver os dois juntos dessa forma.

- Vamos? - pergunto depois de certo tempo.

- Vamos! - Léo responde todo animado e vem para meu colo para que eu possa prende-lo à cadeirinha no banco de trás.

Alguns minutos depois, estamos a caminho de nosso apartamento na Lagoa.

Nádia havia preparado o jantar antes de ir me buscar e isso facilitou muito nossa rotina da noite.

Perto das 22h subi para o quarto do Léo para fazê-lo dormir e graças à deusa ele dormiu em questão de minutos.

É sempre muito satisfatório e nostálgico lembrar de tudo que passei para conquistar as coisas que tenho hoje. Meu filho é o meu maior orgulho, é um menino doce, empático e mais sensato que muito adulto.

minha casa, uma empresa e sinto que com 30 anos já alcancei minhas metas "principais" por assim dizer. Tenho tudo aquilo que sempre sonhei e sou grata todos dias por isso.

- Dormiu? - Nádia me encontra no corredor saindo do quarto de nosso filho e me agarra por trás pela cintura.

- Em menos de meia hora - respiro fundo e assim que passamos pela porta viro de frente para ela.

- Cansada? O que acha de assistirmos um filme?

- Meu sobrenome é Cansada, sabia não? Claro que quero assistir - brinco e arranco um riso seu.

- Eu tô com tanta saudade - Nádia fechou e trancou a porta atrás de si sem me soltar de seu braço.

- Eu também , amorzinho - após passar o braço ao redor de seu pescoço, prendo seu lábio inferior com os dentes e puxo com cautela por um instante.  -  Nossa, mas a sala não é por ali?

Em resposta, Nádia me tira do chão e conduz até a cama.

- Nós vamos pra lá... daqui a algumas horas. - seus lábios se arrastam por meu pescoço.

Respiro profundamente sob o corpo de minha esposa. Acho que no fundo, tanto ela quanto eu sabemos que não vamos mais sair desse quarto por um bom tempo.