CAPÍTULO 5

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[POV Luiza]

- Mamãe? Mãe Luiza? - aos poucos a voz de Léo vai ficando mais alta, quando olho ao redor, ele e Nádia estão me encarando na mesa de jantar sem entender o que está acontecendo.

- Que foi, Lu? Tá tudo bem? - encaro Nádia um tanto surpresa. É a primeira vez que ela fala comigo desde o dia da festa do nosso filho.

- Oi filho? E tá tudo bem sim - falo a última parte olhando pra minha esposa.

- Olha, comi tudo, até o brócolis - ele sorri orgulhoso.

- Uau! Eu não acredito que você comeu tudo! - abro um largo sorriso. - O que isso significa, mamãe Nádia?

Não estamos cem por cento, mas nosso filho não precisa sentir tanto o impacto disso, apesar de saber que discutimos. Sempre tivemos um ambiente leve e amoroso, não vai mudar agora.

- Chuva de beijinhos! - Nádia, que está sentada na outra ponta da mesa, levanta e corre em direção ao pequeno que já pede socorro no meu colo.

Enchemos suas bochechas de beijos em meio a risadas e gargalhadas.

Após cansarmos, foi a vez de Nádia fazer a rotina da noite dele, fazê-lo escovar os dentes, colocar o pijama e ir dormir.

Aproveito o pouco tempo totalmente sozinha e sento no divã que fica debaixo da janela do quarto. A lua serena e o silêncio lá fora, contrastam bastante com como me sinto.

Não posso ser hipócrita e dizer que não senti nada ao ver Valentina, ainda mais quando ela tocou minha mão. Nossa relação antes de ter ficado estranha assim, era de muito amor, companheirismo, éramos muito amigas e eu particularmente também sinto falta disso.

Vou realmente usar esse tempo para entender o que aconteceu nesses anos todos e o porquê de suas atitudes.

Por outro lado, é muito grave saber que uma indústria farmacêutica que eu pessoalmente estou começando a certificar, pode ser responsável pela perda de várias vidas no interior de São Paulo. Nós fazemos uma investigação detalhada com cada empresa para termos certeza da índole de cada uma e se tem um bom histórico, só depois disso a empresa está apta para o iniciar a certificação.

Se essa empresa conseguiu burlar esse processo, alguém da Terra Verde pode ter ajudado a falsificar alguns documentos ou a alterar algo no sistema.

São sentimentos que me deixam triste e pensamentos que me deixam confusa. Minha cabeça ferve de tantos cenários possíveis e bem no meio disso tudo ainda tem meu casamento que já foi perfeito, mas que hoje está muito estranho.

- Amor? - Nádia me tira de meu transe novamente.

- Oi? - ela está sentada na beira da cama.

- Você tá bem? Aconteceu alguma coisa no trabalho?

- Não, estou apenas bem cansada, mas bem. - é uma investigação criminal em andamento, não posso contar. - Mas nada novo, e você? Como está?

- Estou bem, quero conversar com você. - ela pede permissão para se sentar ao meu lado.

- Pode sentar e pode falar também. - a olho nos olhos e eles já estão marejados.

- Eu sinto que falhei com você, com o nosso filho. Quero pedir perdão pelas coisas que disse, como você deve ter sentido eu tinha bebido naquele dia. Não justifica as coisas que falei, mas explica um pouco.

- Explica muita coisa, só não apaga o fato de não ter ido na festa dele ou pelo menos ter avisado do que tinha acontecido.  - ela chorava enquanto encarava o chão.

- Me desculpa, eu vou a uma reunião de novo e conversarei com meu padrinho de sobriedade. Não quero perder vocês.

- Você precisa se empenhar assim pra não perder a você mesma de novo. - respiro fundo e a puxo para meus braços. - Só não faz isso de novo, tá?

- Prometo que não irá se repetir. - ela me aperta no abraço e agora chora copiosamente.

Depois de pelo menos uma hora nos soltamos do abraço e tomamos banho separadas. Quando me deito na cama, vestindo apenas um conjunto de babydoll branco, Nádia se aproxima.

- Posso fazer uma massagem em você?

- Claro que sim. - sorrio timidamente e deito de bruços.

- Sem roupa. - ela sussurra no pé do meu ouvido me fazendo arrepiar.

A obedeço e após despejar um pouco de óleo de massagem nas mãos, Nádia inicia a massagem em minhas costas. Que bom que ela está disposta a fazer tudo ficar bem, enquanto isso eu relaxo.

Não percebi quão cansada estava até relaxar o suficiente para fechar os olhos e deixar meus pensamentos viajarem direto pra ela.

[Lembrança ON]

Mais cedo na empresa...

- Não quero te ouvir. - fui mais seca do que gostaria.

- Não quer, mas você vai. - ela adota uma postura mais autoritária e prende minha atenção. - Eu sei que temos muitas pendências para tratar. Também sei que te devo diversos pedidos de desculpas e se me permitir, farei tudo isso. Mas você precisa deixar essa questão de lado por um minuto e ouvir o que tenho a dizer. Dá pra ser? 

[...]

- Comigo, eu fecho os contratos. - as borboletas que estavam no meu estômago quando ela chegou sumiram, talvez o sentimento tenha acabado. - Vou pedir para que a Isabela te dê o acesso necessário.

Pego o telefone no gancho e disco o primeiro número, seu reflexo de quem tem treinamento policial foi anos luz mais rápido que eu.

Ela segurou minha mão esquerda para me impedir de terminar de discar. Sua mão quente e macia envolve parcialmente a minha de forma sutil, mas precisa. E lá vem a avalanche de sentimentos e sensações que achei que estivessem adormecidos. Ótimo, eu que lute pra lidar com isso.

[Lembrança OFF]

O tom autoritário de Valentina é algo que me deixou um pouco desnorteada. Na infância e adolescência, ela era a filha extrovertida e que sabia se impor e eu deveria aprender com ela, mas depois que ela desapareceu da minha vida achei que tivesse perdido esse traço.

Devo admitir que essa foi uma bela de uma surpresa positiva.

Sua mão macia segurando a minha, seus olhos verdes e concentrados olhando pra mim, todas as partes dessa reunião ficam repassando em loop na minha cabeça. E pensar que verei aquela mulher com mais frequência do que deveria.

Sinto algo quente percorrendo a extensão de minhas costas e desperto bruscamente de mais um dos devaneios que esse encontro me rendeu o resto do dia. Nádia desliza sua língua até minha bunda e tenta descer o contato.

Me afasto dela o mais devagar possível, dando a entender que não quero.

- Que foi? - ela me questiona.

- Obrigada pela massagem, amor. - me sento na cama. - Mas eu não estou com cabeça pra isso hoje.

- Me negando fogo, Luiza? Que isso? - ela parece frustrada.

- Isso sou eu dizendo que não quero, ué. Tenho que estar afim sempre?

- Tá bom, tá bom! Desculpa, só fiquei na expectativa, você parecia estar gostando...

- Desculpa te frustrar, amor. Vem, dorme abraçada comigo?

Nos acomodamos e abracei Nádia por trás em uma conchinha.

Hora de dormir, ou ao menos tentar, porque no fundo eu sei que não tô com cabeça pra sexo porque meus pensamentos estavam em outro lugar, em outra pessoa, eles estavam com Valentina Albuquerque.

Tinha Que Ser Você - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora