CAPÍTULO 7

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[POV Luiza]

Saber a versão de Valentina foi como um divisor de águas, ela não teve culpa do que a mãe dela fez com a cabeça dela, não teve culpa de existir numa sociedade que tem como principal objetivo reprimi-la, mas ela sim teve culpa da atitude que teve no nosso último encontro 10 anos atrás e do seu silêncio durante esse período. E ela reconheceu isso.

Fico feliz que ela tenha entendido quem é e que tenha se libertado das coisas que a mãe dela dizia sobre ela, mas lamento muito por não ter sido a primeira pessoa com a qual ela vivenciou realmente essa experiência.

Depois do almoço animado e esclarecedor voltamos para a empresa, tínhamos alguns indícios de que a empresa investigada não apresentou todos os documentos necessários, alguns outros dados eram bem distoantes da normalidade e isso chamou a atenção da delegada. Provavelmente teremos que averiguar isso pessoalmente.

- Obrigada pela carona - Valentina estaciona sua SUV em frente a minha garagem, segundo ela os vidros são fumê então ninguém do condomínio reparou demais, tudo aqui vira fofoca por isso preciso ser cautelosa.

- Por nada, estará de carro amanhã? - ela me olha após desligar o motor.

- Não, Nádia ficará com o carro essa semana. - evitei ao máximo falar de minha esposa para Valentina o dia todo, mas em algumas situações é inevitável.

- Posso passar aqui e te buscar, o que acha? - de repente ela parece ansiosa pela resposta.

- Acho que me pouparia um estresse com motoristas de aplicativo cancelando minha viagem pra empresa logo cedo. - abro um largo sorriso e ela retribui.

Olho para a garagem e nada do carro, a casa toda está escura e já são quase 20h, Valentina repara na minha inquietação.

- O que foi? - agora ela também está em estado de alerta.

- Nádia não chegou, preciso saber do Léo - bufo inconformada e pego o celular para tentar ligar pra ela. Sem resposta. - Ele sai 17h.

- Vou ligar no colégio e perguntar se já buscaram ele, ok? - ela pega seu celular e imediatamente começa a ligar.

- Nádia, onde você está? Já pegou o Léo? Por favor, me liga de volta! - deixo recado na caixa postal e minha voz sai trêmula, quando me dou conta eu estou tremendo por completo.

Valentina dá partida no carro e faz uma manobra perigosa para nos colocar para fora do condomínio, acelera novamente quando estamos na rua sem me dizer uma palavra do porque estamos fazendo isso.

- Ele ainda está no colégio, Lu. - é inexplicável quanta raiva estou sentindo. Ela teve coragem de deixar meu filho plantado no colégio esperando por ela!

- Não precisa fazer isso, Valentina. Eu vou sozinha. - olho pra ela e ela parece estar na missão mais importante da vida dela.

- Não vou deixar você sozinha. - quando me concentro na rua de novo estamos a um quarteirão do colégio de tão rápido que Valentina dirige pelas ruas.

Chegamos no colégio e de longe já vejo Léo com a mochila nas costas esperando sentado numa cadeira do lado de fora junto a um funcionário que na realidade acho que é o caseiro.

- Você me espera? - olho por cima do ombro na direção de Valentina.

- Sempre, vai lá, Lu. - seu sorriso consegue me fazer sorrir também.

- Ali! Minha mamãe! - Léo grita com um misto de animação e desespero quando me vê descer do carro e corre em minha direção.

- Oi filho, me desculpa. - me ajoelho em sua frente e o abraço forte, logo ele começa a chorar copiosamente com o rosto escondido em meu pescoço. - Vem, vamos pra casa

Tinha Que Ser Você - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora