CAPÍTULO 39

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[POV Valentina]

- Igor? - não consigo encontrar uma razão lógica pra tudo isso. - Que droga me deram? 

- Não acredita em seus próprios olhos? - ele me lança seu sorriso cínico. - Pra começo de conversa nunca estive no acidente, inclusive precisei de um esforço descomunal pra não rir da sua cara naquele dia.

- Você não vai se livrar dessa, Igor. - enquanto falo ele dá a volta na cadeira, ficando atrás de mim.

- Calada, irmãzinha. - ele me segura pelo pescoço com uma das mãos, me enforcando. - Você só fala quando eu disser que pode, entendeu?

As coisas começam a escurecer ao redor, sinto que a qualquer momento vou cair de cara no chão, até tento assentir com a cabeça, mas não encontro forças.

- Si..sim. - finalmente falo e ele solta meu pescoço.

- Claro que entendeu, você sempre foi a mais inteligente. Bom, deve estar se perguntando se eu tenho a ver com a Pure Life. Não só tenho, como também sou dono dela.

- Você é doente! - esbravejo.

Ele saca uma pistola do cós da calça e encosta o cano em minha bochecha.

- Não vou avisar de novo. - sua voz é assustadoramente tranquila. - Não sou doente, inclusive nunca estive tão saudável? Foi bem fácil manipular aquela médica, nossos pais e todas as outras pessoas que tornaram isso possível com uma quantia generosa de dinheiro.

- Por quê? - sussurro baixinho pensando comigo mesma.

- Oi? Achei que fosse óbvio. Eu te odeio, assim como odeio tudo que você representa pra mim. - ele agacha na minha frente novamente. - Você e sua família insuportável. Falando na Luiza e no Leonardo...

- Não ouse falar deles. - tento acertá-lo com um chute sem sucesso.

- 'Não ouse falar deles' - Igor imita minha voz - Ai como você é irritante!

- Deixa eles em paz, sou eu quem você quer, não é?

- Eu sim, mas parte do acordo foi que Nádia teria sua família de volta e Carla poderia tirar uma casquinha de você. - ele me analisa antes de se colocar em pé novamente. - Até mais tarde, Teco. Aproveite a massagem, é cortesia da casa.

Ele simplesmente se vira e sai, percebo que dá um comando positivo pra um de seus capangas que entra acompanhado de mais um.

- Tô apenas seguindo ordens, dona. - reconheço a voz do capanga que me acertou mais cedo. Sem hesitar ele me joga no chão e passa a desferir diversos golpes contra meu corpo enquanto o outro só observa.

As pancadas não param, só param um pouco quando o agressor cansa. Em algum momento senti uma costela quebrar, depois disso? Meu corpo inteiro parece entorpecido, não consigo sentir nada. Acredito que seja meu sistema simpático acionando o estado de "luta ou fuga" e liberando endorfina, cortisol e adrenalina pra evitar que eu sinta a dor, apesar do nítido dano físico. Será que esse é o famoso momento de clareza antes da morte?

- Mas que porra é essa? - um homem entra na sala aos berros.

- Senhor, foi ordem do Senhor Igor. - o que estava me batendo retruca.

- Quem paga a droga do seu salário sou eu! - ele dá um soco em algo de metal, como um armário.

Ele agacha na minha frente e acho que está me analisando. Mal consigo fazer com que o ar entre por meus pulmões e a falta de oxigênio está me fazendo perder os sentidos, dentre eles a visão. A dor que é a pior parte, ainda não se faz presente, o que me dá um certo tempo de absorver a maior quantidade de informações quanto possível.

- O que devemos fazer, senhor? - tento focar os olhos nele pra enxergar melhor seu rosto.

- Faça ela apagar, imbecil! E depois chame a Dra. Verônica pra consertar isso aí.

Um dos capangas rapidamente alcança algo nas prateleiras ao redor e agacha na minha frente, acho que tem clorofórmio em sua mão.

- Nem precisa. - meus olhos simplesmente não conseguem mais ficar abertos. Tudo ao redor parece distante, até que ouço um deles dizer. - Ela já apagou.
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No dia seguinte...

[POV Igor Albuquerque]

- Ainda não acredito que você foi frouxo o suficiente pra trazer uma médica pra ela! - aperto com força o copo de whisky em minha mão.

- Como vai trocar ela, negociar ou qualquer coisa se ela estiver morta? - ele responde em tom tão ríspido quanto o meu.

- Não daria esse prazer de acabar com ela de vez pra um capanga seu.

- Igor...

- Lucas! Pare me encher a porra do saco também!

- Era pra tudo ser muito bem executado pra ninguém ir preso, amor. Você sabe disso, mas ela te desestabiliza de uma forma que parece que você escolhe não pensar.

- Fica impossível trabalharmos juntos se você duvida até da minha capacidade de separar as coisas. - respiro fundo.

- Desculpa. - Lucas se aproxima. - Vou pedir pra deixarem ela viva e apresentável, ok? Vou dispensar a médica.

- Não, você tem razão. Se aqueles incompetentes a machucaram mais que o que necessário, é bom deixar ela em condições de andar pelo menos. - bufo. - E as coisas na empresa? Não conseguimos reverter a medida provisória ainda?

- Ainda não e acho que nem conseguiremos. Difícil a Pure Life sobreviver a uma ordem do presidente pra se manter fechada.

Ser casado com o CEO de uma indústria farmacêutica veio bem a calhar. O conheci oficialmente numa balada, mas nosso encontro obviamente foi premeditado. No fim das contas me apaixonei por ele e pela ganância que sempre o fez ser implacável quando o assunto é dinheiro.

Quanto ao plano, é bem simples: Valentina estava em todos os lugares em que queríamos que ela estivesse.  No almoxarifado da Pure Life escondida quando foi com a Luiza encontrar meu marido, omitiu provas da sua chefe direta, cometeu abuso de poder contra Nádia e ainda invadiu a própria casa e ainda roubou o vídeo pra não ter provas disso.

Não foi culpa dela? Faremos parecer, no fim será a palavra dela e da Luiza contra os 'fatos'.
A cereja do bolo será ver a cara de desespero dela quando se der conta de que tudo que ela tem até então é insustentável pelo fato de haver um gigantesco conflito de interesse que ela acha que ninguém sabe que existe.
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[POV Valentina]

Tento virar o rosto e me arrependo amargamente da tentativa ao sentir meu nariz e rosto inteiro doerem pela menção de contração muscular. As dores. Todas elas de uma só vez.

Abro os olhos e percebo que estou numa sala iluminada apenas com a luz natural e com um colchão surrado e encardido no canto. Tento ouvir algo lá fora, silêncio absoluto. Ao menos não estou mais com os braços presos.

- Preciso levantar. - sussurro forçando meu corpo a se movimentar.

A pressão na barriga causa uma dor excruciante, não lembro a última vez que senti uma dor tão forte assim.

- Droga! - esbravejo baixinho e com uma das mãos tateio a área que dói.

Tem um tipo de curativo aqui, mas a questão que não quer calar é: mandaram cuidar de uma pessoa que querem matar? Só então percebo que não se trata de um crime passional, é uma negociação e eu serei a moeda de troca.

Todas as minhas tentativas falham miseravelmente, estou muito debilitada pra tentar sair daqui, um sopro do primeiro capaganda que me ver em fuga e eu caio no chão, pra eu sair daqui viva? Só por um milagre.

Passos se aproximam da porta e por instinto me encolho no colchão. A porta se abre e a figura que se esgueira pela porta como quem faz algo escondido me é familiar, aliás é bem familiar. Me surpreende muito sua presença aqui depois de tudo que aconteceu.

- O que você está fazendo aqui? - pergunto em voz baixa.

- Oi pra você também. Eu vim tirar você daqui! Me escuta, não temos muito tempo.


Tinha Que Ser Você - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora