PRÓLOGO

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MARÇO DE 2008

[POV Luiza]

- Tá, mas e se a gente brincar de 'Quem sou eu?' - sugeri ao sentar sob a sombra das árvores do quintal de casa.

- Valentina, vem filha. Precisamos buscar seu irmão. - a mãe de minha quase irmã de criação a gritou de longe.

- Puts, não vai dar tempo, e se eu tentar convencer minha mãe a voltar aqui de novo essa semana?

- Ótima ideia. - apertamos as mãos como quem selava um pacto.

- Tchau, Valen! - acenei. - Tchau, tia Catarina!

- Tchau, Lu!

Eu, no auge dos meus 12 anos, tenho Valentina e Igor como melhores amigos, mesmo com os gêmeos sendo 2 anos mais novos que eu. Minhas irmãs já são maiores de idade, não me dão muita atenção. Sara tem 18 e Carol 22, ambas moram com o pai, elas escolheram assim.

Nunca fui uma criança muito extrovertida, nem muito boa em interagir com outras crianças e isso sempre foi a causa de vários comentários da minha mãe como "Olha como eles são mais comunicativos, filha" ou "Por que não tenta ser mais como a Valentina e o Igor?"

Ela e a tia Catarina tem uma amizade desde que eram pequenas, quando tiveram filhos se aproximaram mais ainda, tia Catarina me considera como filha dela e minha mãe faz questão de chamá-los de filhos dela, só não sei se isso é porque ela gosta deles ou porque gostaria que eles fossem filhos dela ao invés de mim.

[POV Valentina]

- Filha, você sabia que a Luiza vai começar a fazer aulas de dança? Ela mesma pediu pra mãe dela.

- Começou - Igor riu ironicamente no banco de trás do carro.

- Ah é mãe? Que bom pra ela. - sorri falsamente e desviei o olhar pro outro lado.

Toda vez é essa mesma via sacra, sempre que vamos na casa de Luiza e da tia Sônia minha mãe fica me comparando com a Lu. Eu gosto muito dela, de brincar e conversar sobre tudo, mas isso já tá ficando bem chato. Nem o Igor aguenta mais.

- Não precisa responder assim. Você não gosta de dança? - ela não desiste.

- Você sabe que não é o que gosto de fazer, mãe.

Ela é só 2 anos mais velha, mas nossa mãe quer que a sigamos como uma religião. Tudo que ela faz é aplaudido, tudo que a gente faz? É banal.
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JUNHO DE 2011

[POV Valentina]

Hoje é a festa de aniversário de 15 anos da Luiza, e ela tá tão linda... Não, quer dizer, a festa está muito linda e legal.

- Todo mundo vai sacar que você gosta dela se você não parar de secar ela!

- Oi? Eu não gosto de meninas, Tico. - tentei desviar o foco para outra coisa.

- Tava quase babando olhando pra ela, Teco.

- Sai daqui, vai. Tem um grupinho de meninas te olhando lá na entrada do salão. - o empurrei e ele foi correndo antes de confirmar se era verdade ou não. Hormônios.

Luiza interagia com a maioria dos convidados, não tinha falado comigo ainda porque a evitei a festa inteira. A verdade é que eu não entendo o que sinto por ela, mas ficar perto me faz sentir umas coisas estranhas. Minha barriga fica parecendo que tá cheia de borboletas, eu fico nervosa quando preciso falar com ela, nem pra apresentar trabalho no colégio fico tão nervosa assim.

Mas não, não pode ser amor porque amar ela seria errado, ela é uma menina que nem eu e praticamente minha irmã. Além disso, amar alguém do mesmo sexo é pior que usar drogas. Fala da minha mãe.

Tinha Que Ser Você - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora