2006, cidade de Bissau.

- Mãe! será que posso ir brincar com aqueles miúdos ali?

- Não Cilisa, você não pode.

- Mas porquê mãe?

- Ahh! Já falamos disso, você é uma prometida, não podes sair por aí brincando com meninos.

2019, cidade de Bissau.

-Ahhhhhhhhhhh! minha barriga... ahhhhhhh! me ajudem.

- Minha nossa... amiga! amiga... me responde Lisa o que é que está acontecendo?

-Me ajude, Fátima.

...

-Olha não podemos mais ser amigas, a tua mãe não te deixa nem cagar sozinha, não posso continuar fingindo que isso, essa situação toda não tem nenhuma implicância em mim. Lisa eu te amo mas, eu não posso perder a adolescência por tua causa. Qual é estamos no século 21, essa cena de ser prometida para alguém que nem sabes o nome foi extinto junto com os dinossauros... já deu pra mim, adeus Cilisa.

Naquela tarde debaixo do sol escaldante no céu, a Cilisa mais uma vez perde uma amiga.

Ela arrasada, volta para casa nos passinhos lentos e falhados sentindo de novo a dor de ser abandonada.

Quando ela chega em casa, foi direto para o seu quarto, deixou as suas coisas no chão e dirigiu-se para a parede onde que cada vez que perde uma amiga, rabiscava um traço indicando a pessoa que perdeu, que a abandonou por causa dessa maldita maldição e, esse último, era das 27 amigas que ela não pude ter desde os seus quatro anos.

2023, cidade de Bissau.

Na sala de aulas o professor fecha o grande livro de anatomia finalizando as aulas, a Lisa pega na sua mala saindo do auditório com as suas longas tranças apanhadas em um coque. Como todos os dias se encontrava sozinha entre varias pessoas que frequentam a faculdade de enfermagem, e todos eles com amigos, namorados, ficantes ou inimigos.

Ela era a esquisita que qualquer um inventava algo para dizer sobre a sua habilidade de ser e estar sozinha, o que de maneira alguma lhe importava.

Fora dos portões da faculdade um carro preto estacionou no outro lado da rua esperando por ela que entra metendo os seus fones de ouvido ignorando a presença do motorista, o homem suspirou profundamente, vendo a menina que ele serviu durante anos se perdendo cada vez mais na frieza e solidão.

As memorias de quando ela entrava no carro sorrindo feliz invadiu a mente do senhorzinho que um dia ja foi o único amigo dela. De vez em quanto, ele olhava para ela no espelho do carro e se perguntava quando é que ela iria parar de sofrer por uma causa que ela nem se quer é culpada? Quando é que a Cilisa vai se sentir feliz novamente? Ninguém merece essa solidão, muito menos a Cilisa, uma menina alegre que se tornou num iceberg em forma de uma mulher bonita.

As pessoas se perguntavam como uma miúda rica, violentamente linda, alta, preta e inteligente não consegue ter um só amigo. Além de ser estranho, baseado no que as pessoas dizem sobre ela muitos achavam que talvez faça sentido a solidão da Lisa.

O carro de luxo parou na frente da porta de entrada de uma enorme casa. A Lisa desceu e o motorista passa direto para a garagem estacionar o carro que é exclusivamente dela, antes que ela possa entrar, a porta se abre revelando uma mulher de quase 50 anos.

- Minha filha você chegou._ disse a senhora Samira, mãe da Cilisa se aproximando com um sorriso na cara, ela parecia mais feliz do que o normal.

Calmamente a Cilisa tira os fones de ouvido e encara a sua mãe seriamente não demostrando nenhuma emoção.

- Algum problema mãe?

- Credo, é assim que cumprimentas a sua mãe? Mas isso não interessa, hoje temos convidados seja simpática, ouviu meu amor?_ Dito isto a Samira deu as costas para filha se dirigindo a sala de estar onde provavelmente estão os tais convidados. Lisa adentra na casa fechando a porta atrás de si e seguiu em direção da mãe sem nenhuma curiosidade para saber o que é que está acontecendo.

Chegando na sala tinha um casal vestidos formalmente e sentados no sofa de costas para a Cilisa que chegava sem fazer barulho nenhum.

A mãe dela que estava de frente para o casal podia ver a Cilisa chegar, ela abriu um sorriso desviando a atenção do casal para a Cilisa.

O homem e a mulher, levantaram do sofa percebendo a presença dela, a Cilisa foi até eles fazendo uma pequena reverência como é do costume da população guineese; reverenciar os mais velhos como sinal de respeito.

-Minha nossa senhora, como você cresceu!_ A mulher desconhecida fala se aproximando da Lisa admirada.-Uma mulher linda, digna para o meu filho._ continuou

"Pera aí, o quê? Como assim digna para filho dela? Não pode ser! Será ela a mãe do meu noivo? E será ele o pai?"

Abismada com a situação, os lábios da Lisa se entreabriram e ela arregala os olhos olhando para eles em choque.

"Isso significa que..."

- Se anime minha filha, você finalmente vai conhecer o Alec Saíde Mane. Teu noivo.

Boneca PretaOnde histórias criam vida. Descubra agora