Boneca Preta

5

Assim que as luzes se acendem os olhos do Alec se apagaram como se fossem um fósforo totalmente consumida pelas chamas. A princípio a Delcia parecia estar num sonho, mas quando viu o seu marido andando devagarzinho para perto do filho como se este fosse um leão faminto prestes a ataca-lo, lhe fez perceber que no sonho ela claramente não estava.

- O que foi isso?_ perguntou ela sem obter respostas de ninguém.

- Alec! a quanto tempo vem isto a acontecer?_ Perguntou o Leny a um passo do filho, ele toca cautelosamente na testa dele medindo a temperatura do mesmo que pelo vistos disparou assombrosamente.

-Só uma vez, quando eu estava na escola!_ respondeu o garoto totalmente confuso com a reação do pai.

- O que está acontecendo, o que é que aconteceu na escola ãhm?_ De novo a Delcia perguntou alterando um pouco a voz não aguentando mais estar perdida, mas o Leny permaneceu atento ao filho.

- E quando aconteceu, o que foi que você fez?

- Corri para a dispensa da limpeza e fiquei lá no escuro para me acalmar.

- Quem te viu ?

- Só o rapaz com quem discuti.

- E onde ele está?

- Por que tantas perguntas?_ chateou-se o Alec.

- Só responde.

- Ele morreu no mesmo dia, foi atropelado por um carro e morreu no hospital e tudo por culpa minha, feliz agora pai?_ disse o menino revivendo o pesadelo que vivenciou no dia em que um colega de escola morreu após uma discussão com ele.

- Mas o que é que está acontecendo Leny?_ Delcia grita tremendo de medo e bastante confusa.

- Delcia o nosso filho é um portador de espíritos do caos._ Por fim disse o Leny depois de longos segundos calado.

Silencio era o hino nacional naquele momento, tanto o Alec assim como a Delcia ficaram estáticos processando as palavras que o Leny acabou de proferir. Foi mais que um balde de água fria, foi uma Antártida inteira jogada em cima deles, ninguém sequer respirava direito depois daquela declaração.

- Aquela miúda é a unica pessoa que pode controlar o Alec, a reação dela logo ao entrar nessa casa não foi por medo e nem pela ansiedade, ela sentiu todas as ondas de vibrações caóticas e tenebrosos que vem do espirito do caos adormecido dentro do nosso filho.

De novo o silêncio chegou chegando em todos eles. Leny não parecia nem um pouco nervoso ou assustado muito pelo contrario ele estava mais calmo que as ondas do mar de madrugada.

Pensar que esse dia chegou pode até ser um alívio para o homem que teve fazer que o filho e a esposa sofrer para esconder a verdade sobre o espirito do caos.

- Afinal o que é essa coisa de espírito do caos? E porque raios Leny, você está me contando só agora que o nosso filho é amaldiçoado? O que você acha que sou para me tratar como uma idiota ou uma imbecil que não faz ideia das coisas?_ O coração da Delcia pesava e tanto. Uma coisa é não ter a noção de quem é o seu marido, quais são os gostos dele, o que ele mais detesta, o que é que ele pensa e entre muitas outras coisas que um casal normal partilham e a outra é quando há algo relacionado com o filho dela e ela não sabe de nada.

- Pera aí, sou amaldiçoado? perguntou o Alec rompendo ainda mais o coração da Delcia, entretanto ninguém lhe respondeu, clima entre so seus pais era muito intenso.

- Não tinha um jeito fácil de te dizer isso, eu tentei reverter essa situação colocando a minha vida em risco para salvar o Alec desse fardo horroroso, porém fracassei e desde então eu não consigo viver comigo mesmo sabendo que não sou util nem para salvar o meu filho e ser verdadeiro para minha esposa. Eu nunca te achei uma idiota, nem uma imbecil, foste sempre a mulher mais interessante que eu tive a honra de conhecer.

Mesmo depois dessas palavras a Delcia não reagiu, o olhar dela para o Leny era de puro ódio, vontade de estrangular o marido não lhe faltava.

-Você Leny vem comigo._ Como um cachorro obedecendo a sua dona, o Leny saiu atrás da esposa sentindo toda a culpa no coração.

Era o único jeito de proteger a sua família, ele mesmo leva consigo as marcas de todas as vezes que tentou redirecionar o espirito maligno para ele e como consequências acabou despertando ele mais cedo. Delcia nunca o perdoaria por isso, mas ele na mesmo repetia o ato mil vezes se for necessário para ver o Alec livre desse espírito.

O que ele falou sobre acha-la a mulher mais interessante que ja viu, ele não estava mentindo, pois pode não parecer, mas o Leny gosta de como a Delcia é vaidosa, carinhosa, generosa, bondosa, firme e ao mesmo tempo explosiva. E naquele momento ele sabia que estava a caminho de um sermão de dois dias e uma explosão com radiação de Chernobyl.

Dentro do quarto, o Leny fecha as portas atras de si afrouxando um pouco a gravata enquanto olhava para a sua esposa de costas para ele com as mãos na sua cintura coberta por um vestido midi amarelo.

Ela vira a cabeça violentamente olhando para o marido com olhos semicerrado.

- Leny, não quero saber a porra da historia toda, nem sequer quero saber o que é essa coisa quer com o nosso filho. O que eu realmente quero saber é o porque você sempre me deixa no escuro feito uma idiota?_ as lagrimas de mansinho cintilavam nos olhos dela.

A verdadeira dor da Delcia não é por seu marido ter escondido esse facto durante vinte de dois anos, a dor dela é de não saber o que o filho esteve a enfrentar esse tempo todo sem ao menos poder ajuda-lo.

-Porque você decidiu me fazer sentir assim, é certo que não me amas e eu nuca esperei que me amasses, mas ele é porra do meu filho seu imbecil, filho da puta estupido pateta de merda seu cabrão eu vou te matar._ Enquanto ela falava batia no marido cheio de raiva chorando convulsamente.

- Ele está sofrendo, ele sofreu todo esse tempo e eu não pude nem se quer o ajudar, tudo por sua culpa... buaahhhhhh._ continuou ela a bater no esposo que permaneceu parado deixando ela tirar toda a frustração até perder as forças.