Depois da faculdade de gestão de empresas, o Alec chega em casa em passos lentos e furtivos não querendo fazer barulho.

Assim que ele pisa no primeiro degrau das escadas as luzes se acendem e ele para de andar sabendo que o seu plano de não chamar atenção falhou, ele se vira devagar e encara a mãe que também o encarava com uma expressão neutra.

- O senhorito esteve aonde?_ a Delcia se aproxima do filho lentamente sem tirar os olhos do danado.

- Na faculdade._ Ele mente descaradamente sem nem piscar os olhos.

- Ai é?

-Sim!

- Seu idiota, você acha que me engana hein? A faculdade fecha as 20h da noite e você chega em casa as uma da manhã como se você fosse o guarda da cidade, eu e o seu pai passamos a noite inteira te esperando e você na cara de pau mente pra mim seu filho da mãe._ Delcia dava repetidas palmadas no filho que reclamava de dor tentando fugir dela irritada atrás dele.

- Aiiii mãe se calma.

- Me acalmar? tens sorte, se eu tivesse uma vara aqui comigo, com certeza ias dar um tour pelo inferno.

Delcia ajeita o cabelo crespo preso numa fita branca bem fina, enquanto mirava o seu filho irritada.

- O show acabou? _ no alto das escadas o homem vestido de robe preto fala chamando a atenção da esposa e do filho. -Diferente da sua mãe, não tenho tempo para passar a mão na sua cabeça, pega..._ Senhor Leny lança em direção ao filho um molho de sete chave.

A confusão era nitida na face do Alec, pelo o que ele se lembra, a unica vez que o pai lhe deu um presente foi depois de terminar o secundário. Para quê serve essas chaves? Será que ele vai receber um apartamento de presente?

Seria a hipótese mais próxima da verdade se o Alec não conhecesse o pai e o jeito que ele faz as coisas, provavelmente há algo por detrás daquelas chaves e ele com certeza pressentia que se não fosse coisa má, com certeza não é uma coisa boa pra ele.

Delcia se aproxima do Alec pronta para controlar a explosão do filho assim que o Leny o contar sobre as chaves. Ela nunca quis que o filho fosse o alvo dessa tradição, mas quem é ela para ir contra a tradição e contra o seu marido.

Para o Leny é muito importante que o Alec siga a tradição, ele é um homem, e um homem na sociedade guineense só é respeitado quando ele aprende a ter como um dos princípios honrar o Gã da família, igual a quase todos os outros homens da cidade de Bissau, ele pensa daquela forma e nada nem ninguém pode mudar a sua decisão de entregar a honra do Gã nas mãos do filho que tem como o dever de honra-lo.

-Pai! essas chaves são pra quê?

- São chaves da sua nova casa. Amanhã eu e a sua mãe traremos a sua noiva para cá e, vocês os dois viverão aqui no intervalo de um mês, no último dia se casarão e irão para a vossa casa.

"Tão fácil assim?" Pensou o Alec.

Um silêncio inquietante pairou sobre todos, era suposto o Alec falar, berrar explodir qualquer coisa, porém permaneceu quieto admirando as chaves na palma da sua mão e imaginando viver com uma estranha que nem sequer sabe o seu nome.

Não era a culpa da Cilisa, mas para o Alec, o nascimento dela é a culpa da sua desgraça, o que imediatamente torna a Cilisa alvo da sua fúria.

- Ai é?_ Perguntou ele sorrindo sem um pingo de humor na face, estava mais que claro que ele quer matar o pai naquele momento.

- Não me venhas com palhaçadas, trate de vir para casa amanhã cedo para conhece-la._ disse o Leny sem paciência para ouvir a reclamação do filho.

-E... _ Alec deu uma pausa pensando no que dizer ao dizer o pai.- Quem te disse, que irei cumprir com as suas ordens ou seguir a tradição?_ continuou ele.

- Não estamos negociando, tens dever de assumir o Gã e toda a lei do invisível que ele trás, é o teu dever como homem, como o meu filho.

- Filho!? Isso é uma palavra que você não tem direito de pronunciar, eu faço tudo para que você Leny, tenha orgulho de mim, mas a unica coisa com qual te preocupas é a tua reputação e esse maldito Gã... Quero mesmo que o Gã e você vão para o inferno, prefiro casar-me com uma cadela do que com a aquela garota, farei diferente de você que não foi capaz nem de fazer a mãe feliz.

- Basta Alec!_ grita a Delcia percebendo o estado critico da raiva do seu marido. - " Bu padidur que buna rispundi sim!? mostra rispito...!

Não deu tempo para o Alec se arrepender do que falou, o Leny descontrolado acerta um soco no queixo do filho derrubando-o no chão. A Delcia apreensiva e assustada cobre a boca com as mãos enquanto as lágrimas lutavam para não cair dos seus olhos.

Leny avança segurando o colarinho da camisa do filho fuzilando-o com os olhos, vontade dele, é bater no filho até ele aprender a pôr em prática à educação que lhe foi dado, porém lá no fundo ele sabe que o filho está sofrendo com tudo isto. Ele sabe o que é se casar com uma estranha, mas o dever da tradição pesa sobre ele o impossibilitando de aceitar a dor nos olhos do Alec.

A culpa de nunca ter tido à capacidade de fazer a sua esposa feliz dói mais do que qualquer coisa, principalmente porque ele não a conhece de outra forma além de mãe do meu filho, a minha ex prometida que agora é esposa, mesmo não querendo que seja o mesmo para o seu filho, Leny sentia que e o Alec não sabe o quão é importante que ele e a Cilisa fiquem juntos.

- Em casa bem cedo amanhã para conheça-la._ disse o Leny soltando bruscamente o seu menino e sai marchando para distante dele furioso sentido desafiado e devastado pela verdade dita por Alec.

'Notas de páginas'

" Bu padidur que buna rispundi sim!? mostra rispito...!_

significa :

"Respondes assim o teu pai!? mostre respeito...!

Boneca PretaOnde histórias criam vida. Descubra agora