Capítulo 45

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Alec entreabriu os lábios incrédulo nos seus olhos. O homem a sua frente era totalmente igual a ele, a pouca diferença era nos cabelos longos e a velhice que o tempo vinha carregando.

A sua larga calça branca feita de linho de algodão  e a camisa do mesmo tecido estavam cobertos de sangue preta e viscosa. O fedor do sangue não permitia a respiração profunda do Alec e nem da Lisa, ao contrario dos demais  que pareciam nem um pouco incomodados com o cheiro de morte presente no campo da batalha. Na verdade o cheiro horrível não vinha apenas da camisa manchada do Mustafa, assim como nos por toda a parte . Homens e mulheres lutando lado a lado para derrotar seres que a boneca nunca pensou que podiam ser reais. Criaturas horrendas, com carne podre caindo aos poucos pelo chão enquanto lutavam bravamente contra os  homens do Tafa. A cada minutos mais homens do rei morriam pelas mãos dos balefuls pela a capacidade absurda que têm de tolerar feridas profundas e hemorragia. Mustafa olhava para aquilo com horror,  11 anos nesta situação de guerra, os seus homens não estavam mais aguentando tamanha balbúrdia.

Ele silenciosamente olha para a esquerda e viu um jovem de quase 30 anos vomitando sangue, olhou para uma mulher guerreira sendo fatalmente espancada por um baleful e sentiu o seu coração palpitar porém o sentimento lhe pegou de surpresa. Mustafa pela primeira vez em toda a sua vida sentiu-se desesperado.

 Na antiga sociedade guineense era considerado covardia um homem entrar em desespero, ainda mais em campo de batalha sobre tudo sendo um rei. Era inadmissível. Desespero era o sinônimo de covardia naquela época, os homens acreditavam que quanto mais desespero mais mais é o amortecimento da coragem e um homem sem coragem é igual a um homem sem a postura.

- Senhor conta quê ku no na fassi, situasson i ka di mindjor pa noz. (Senhor diz pra nós o que fazemos, a situação não é dos melhores para nós.)- Mustafa apenas enfia a ponta da lança no chão rachando o solo.

- Eu gostaria de ter mais tempo com você meu sangue, então vamos ser breves.- Tafa, dá um passo se aproximando do Alec, ele pousa a mão no ombro do miúdo dando um abraço nele logo a seguir.

- A verdade que você busca não está aqui filho, está dentro do seu coração. Evite no máximo usar o poder do caos, usada numa larga escala será possível que venhas a te tornar no filho das trevas o que já está a acontecer no caso. A guerra já chegou na tua porta pequeno, pegue a sua esposa e vão embora daqui, procuram a verdade na vossa realidade.- Mustafa se afasta do pequeno deixando-o com mais dúvidas ainda. -  Ahh! antes que eu me esqueça pegue!- Mustafa tira a bandana preta que tinha no pescoço e deu para o Alec. Este segura a bandana e um arrepio percorre todo o seu corpo.- Vai te ajudar futuramente.- fala desviando os olhos para a Lisa.

- Estrela que dança, tenho só uma coisa pra te pedir. -Mustafa sorriu com ternura e orgulho no olhar, ele se posiciona levantando o dedo indicador e o médio, levando-os  até ao nível do nariz..- A sua verdadeira tarefa, não é ser a rainha do Gã, mas digo que é ser a rainha dele. - Mustafa olha para o Alec, antes de voltar a olhar demoradamente para a boneca com uma expressão tranquila e serena. O herói da guerra sussurra algumas palavras e uma luz emana dele juntamente com uma onda de força de repulsão enorme capaz de mover veículos como tanque blindados.

Lisa e Alec foram arremessados para dentro de um portal, ficando cada vez mais longe daquele lugar terrível e sem vida. Rei e rainha que vieram a procura da verdade estavam voltando sem nada esclarecido, estava ainda mais confuso que antes.

Era pra ser um papo tranquilo num final da tarde, com todos eles tomando chá a volta de uma mesinha de madeira velha enquanto o Tafa falava sobre as coisas que eles queriam saber, mas, parece que essa verdade tem que ficar de onde está, pois nem tudo deve ser sabido ou contado.

Alec com os seus próprios olhos viu como foi a grande guerra. O cansaço nos olhos do Mustafa era profunda e cru, que chega a deixar sequelas de tristeza na alma de quem olha para ele. Era tanta dor e tanta perda, anos lutando contra um povo, uma nação que só trás  destruição, dor e ódio com tanta força de vontade e esperança de dar um futuro melhor para as crianças, mas até naquela nada de melhor ou de mudanças. Com certeza ele não podia ir contra tudo e dar as costas para o futuro que as crianças mereciam, ele não podia simplesmente deixar a guerra continuar, não tinha como deixar. Mesmo custando a sua vida e a vida de muitos no campo de batalha ele acabou com aquilo tudo de uma vez, invocando o Saíde ao fazer um pacto com ele.  A prova de que ele conseguiu a paz que tanto almejava, é de ter visto e sentido o seu sangue nas veias de um homem que tem tudo para superá-lo, vir buscar a verdade no mundo subconsciente. 

Boneca PretaOnde histórias criam vida. Descubra agora