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Pego um post-it em sua mesa e dou um beijo no papel. Puxo-o e colo no meio da tela do seu computador.

– Espero que não esteja criando algum plano.

E saio andando a caminho da copa. Ouço as rodinhas de sua cadeira chiando levemente.

VIVA UM POUCO

O cubículo de Henry parece despojado e um pouco caótico. Caixas de mudança, pilhas de papel e arquivos espalham-se por todos os cantos.

– Oi!

Ele se assusta e faz um risco cinza acidental na fotografia de um escritor, a qual estava editando no Photoshop. Sn, sempre discreta.

– Desculpa, eu devia usar um sininho – brinco.

– Não, tudo bem. Oi.

Ele aperta “Desfazer”, “Salvar” e aí se vira na minha direção, seus olhos deslizando para cima e para baixo, rápidos como a luz, antes de pararem na bainha do meu vestido por alguns segundos a mais.

– Oi. Eu queria saber se você tem alguma invenção para a gente começar a trabalhar.

Não acredito que estou sendo tão direta assim, mas a minha situação é desesperadora. Meu orgulho está em jogo. Preciso de alguém sentado ao meu lado esta noite no bar, ou então Louis vai morrer de rir de mim.
Um sorriso brota em seus lábios.

– Tenho uma máquina do tempo quase concluída para você dar uma olhada.

– Elas são bem simples de criar. Eu posso ajudar, se quiser.

– Diga a hora e o local.

– Naquele bar onde o pessoal vai assistir aos jogos, na Federal? Hoje, às 19h?

– Por mim está ótimo. Aqui, pegue o meu telefone.

Nossos dedos roçam quando ele me entrega o papel com seu número.
Minha nossa! Que cara mais gentil. Onde ele esteve esse tempo todo?

– Vejo você hoje à noite. Leve, hum, os desenhos técnicos da máquina do tempo.

Aceno para ele e subo as escadas até o andar de cima, mentalmente me parabenizando pela missão cumprida.

Hora de trabalhar. Sento-me outra vez na cadeira e começo a desenvolver a proposta sobre o nosso desejo de promover uma atividade em equipes.
Coloco dois espaços para assinatura na parte inferior, assino e coloco sobre a mesa dele. Louis demora duas horas antes de sequer olhar para o documento.

Quando enfim decide pegá-lo, lê tudo em cerca de quatro segundos. Assina e coloca sem nem dar atenção em sua bandeja de documentos a serem retirados.

Ele está com um humor estranho esta tarde.

Bato os dedos na mesa e começo o Jogo de Encarar. Louis precisa de uns três minutos, mas enfim expira e bloqueia sua tela. Olhamos tão profundamente focados nos olhos um do outro que é quase como se estivéssemos em um ambiente 3-D de computador; nada além de linhas verdes e silêncio.

– E aí, nervosa?

– Por que estaria?

– Seu grande encontro, Moranguinho. Já faz algum tempo que você não sai com ninguém. Acho que desde que a conheço.

Ele faz aspas no ar quando diz “grande encontro”.
Está certo de que tudo não passa de uma mentira.

– Sou seletiva demais.

Ele bate os dedos na mesa com tanta força que parece chegar a doer.

– É mesmo?

– Estamos em uma seca terrível de homens interessantes por aqui.

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora