28

10 1 0
                                    


– Só eu e meu irmão vivemos na capital. – Ele franze a testa para mim e usa sua arma para cutucar a minha. – Mantenha a pistola erguida.

– Vocês são dois? Que Deus nos ajude!

Tento obedecer, mas meus braços estão fracos.

– Fique feliz por saber que nós não somos nada parecidos.

– Você o vê com frequência?

– Não.

Louis avalia o caminho à nossa frente.

– Por que não?

– Não é da sua conta.

Avisto Henry ao longe, andando em meio às árvores na área onde acontece outra disputa. Há uma corda separando os dois campos. Aceno para ele, que ergue a mão em resposta, um sorriso enorme espalhando-se em seu rosto. Louis ergue a arma e puxa o gatilho duas vezes com a precisão de um atirador de elite, acertando a parte traseira da coxa de Henry antes de fungar todo convencido.

– Por que fez isso? Eu não sou da equipe que está contra vocês! – Henry grita.

Ele também conversa com seu marechal e volta a competir, agora ligeiramente manco.

– Que desnecessário, Louis. Faltou espírito esportivo.

Começamos a avançar e ele se abaixa para desviar de uma saraivada, empurrando-me para trás de uma árvore. A bandeira está dependurada perto de nós, mas ainda há dois de nossos oponentes na competição.

– Silêncio – chiamos em uníssono enquanto olhamos um para o outro.

O pior lugar do mundo para brincar do Jogo de Encarar é no meio de uma partida de paintball.

Tenho de apoiar meu capacete contra a árvore para conseguir enxergá-lo direito.

Seus olhos estão de uma cor que eu jamais vi. A emoção do combate o deixa eletrizado. Ele desvia o olhar para verificar se há algo atrás de nós, e agora seu rosto fica sombrio. Como eu consigo manter a compostura diante desses olhos ferozes?

Estamos encostando um no outro. Minha pele fica imediatamente sensível.
E, quando olho de soslaio, vislumbro seu bíceps curvado e pesado. Meu coração palpita quando lembro como foi sentir aquelas mãos em meu maxilar, acariciando-me, inclinando meu rosto para encontrar sua boca.
Quando ele me saboreou como se eu fosse um morango doce. Louis está olhando minha boca e sei que está lembrando exatamente da mesma coisa.

– Você está suando – avisa um Louis com a testa franzida.

Talvez não, então.

Ouço um graveto estalar e percebo que há alguém se aproximando.
Incerta, ergo a mão; Louis assente. Minha hora é essa e ele precisa pegar a bandeira. Agarro sua roupa de paintball e faço-o dar meia-volta e ficar atrás de mim, contra a árvore.

– O que você está…? – ele começa a dizer, mas estou analisando o terreno em busca de uma emboscada. Sou Lara Croft apontando armas, olhos queimando com o gosto da retaliação. Avisto o cotovelo do inimigo atrás dos barris.

– Vá! – grito. Com minha pesada luva, apoio o dedo no gatilho. – Eu cubro você.

E no mesmo instante acontece. Pow, pow, pow. A dor se espalha por meu corpo – braços, pernas, barriga, peito. Chego a uivar, mas os tiros continuam, manchas de tinta por toda a minha pele. Um enorme exagero. Louis nos faz girar e usa o próprio corpo para bloquear os tiros. Sinto-o estremecer conforme ainda mais tiros o atingem e ele levanta o braço para proteger a minha cabeça. Será que posso parar o tempo e tirar uma soneca bem aqui?

Ele vira a cabeça e grita furioso com nosso agressor. Os tiros cessam e, ali por perto, ouço Simon comemorando o triunfo, vejo-o chegar ao topo da colina e segurar a bandeira. Droga. Meu único trabalho e ele não me deixou concluir.

– Você devia ter ido em frente. Eu estava dando cobertura. Agora, perdemos.

Outra onda de náusea quase me faz perder o controle.

– Foi mal aí! – Louis diz com sarcasmo.
Rob está se aproximando, arma apontada para o chão. E eu estou gemendo. A dor pulsa em pontos por todo o meu corpo.

– Desculpa, Lucy. Eu sinto muito. Fiquei um pouco… entusiasmado demais.
Eu jogo muito no computador.

Rob dá alguns passos para trás ao ver a expressão de Louis.

– Você a machucou de verdade – esbraveja meu colega de equipe, e eu sinto sua mão protegendo minha cabeça.

Ele continua me pressionando contra a árvore, joelho entre os meus. E, quando olho à esquerda, vejo Marion nos observando com seus binóculos.
Ela logo pega a prancheta para fazer algumas anotações. Um sorriso toma forma em seus lábios.

– Saia – ordeno, empurrando-o fortemente.

Seu corpo é enorme e pesado, e eu estou fervendo e quero arrancar essa roupa de proteção para me deitar na tinta fria. Todos estamos ofegantes quando voltamos ao ponto de partida, debaixo do terraço. Estou mancando e Louis segura meu braço com força, provavelmente para me fazer andar mais rápido. Vejo Helene lá em cima, ajeitando os óculos de sol. Aceno como o gatinho triste de um desenho animado.

Pessoas gemem enquanto tocam com cuidado nas partes pintadas de seus corpos. Dezenas de trocas estão acontecendo.

Olho para baixo e percebo que a frente do meu corpo está quase toda coberta de tinta. A parte frontal de Louis está parcialmente limpa, mas suas costas estão uma bagunça. Acredite, nós somos mesmo opostos.

Quando tiro as luvas e o capacete, ele me entrega sua prancheta e uma garrafa de água. Levo a garrafa aos lábios e ela parece se esvaziar muito rapidamente. Tudo está estranho. Louis pergunta ao Sargento Paintball se eles têm aspirina.

Henry traça seu caminho, passando por entre nossos colegas caídos no chão, para me encontrar. Fica muito claro como minha aparência deve estar asquerosa.

Ele olha para a parte frontal do meu corpo e exclama: – Nossa!

– Eu me transformei em um ferimento enorme.

– Preciso vingá-la?

– Sim, seria ótimo. Rob, da equipe corporativa, é um cara muito bélico.

– Considere-o liquidado. E o que foi aquilo, Louis? Você atirou na minha perna e eu estava em outra partida, cara.

– Desculpa, eu me confundi – Louis responde com uma voz que respinga falta de sinceridade.

Henry protege os olhos e Louis sorri para o céu. Nossos colegas andam cambaleando, sujos de tinta, com dor, e sem saberem ao certo o que fazer.
As coisas estão começando a se desintegrar rapidamente. Consulto a prancheta.

Percebo que ele escreveu meu nome no seu time em todas as rodadas, possivelmente a pedido de Helene. Ela jamais ficaria sabendo se eu mudasse as combinações. Está jogando Sudoku. Uso o lápis e rapidamente faço alterações antes de chamar as próximas equipes. Resmungando, as pessoas se reúnem em seus grupos.

– Esperem, eles foram buscar o kit de primeiros socorros. É melhor você ficar descansando o resto da tarde. Você não está bem – Louis adverte.

Olho outra vez para Helene e então observo todos à minha volta. Pode ser que, em breve, eu tenha que coordenar todas essas pessoas. Esta tarde é um ensaio, sem dúvida. E não vou falhar agora.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora