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Uma longa pausa se instala e eu espero ouvi-la dizer alguma coisa.

– Pensei que seria um pouco mais flexível com isso. – Seu tom de voz já começa a se tornar uma impressionante combinação de gelo e petulância. – Realmente não estou me sentindo bem.

– Se você precisar ir para casa… – começo enquanto Louis repuxa as sobrancelhas e fecha a cara. – Bem, vai precisar tirar licença-médica e trazer um atestado amanhã.

– Não vou ao médico só porque estou cansada e com dor de cabeça. Ele vai me dizer para dormir. É só isso que quero ir fazer.

– Eu realmente sinto muito se você não está se sentindo bem, mas essa é a política do RH.

Louis ergue a mão para cobrir a boca e esconder seu sorriso. Agora estou jogando o Jogo do RH com Julie.

– Sente muito? Eu não chamaria isso de sentir muito, de forma alguma.

– Estou sendo justa com você, Julie. Eu já dei prazo extra em várias outras ocasiões. Mas não posso ficar aqui até tarde toda vez para finalizar esses relatórios.

Louis gira a mão no ar. Eu continuo: – Se você atrasa, eu acabo tendo que ficar até tarde.

– Você não tem família nem namorado nesta cidade, tem? Ficar até tarde não afeta a sua vida como afeta as das pessoas com maridos e… digamos, pessoas que têm família.

– Bem, eu não vou arrumar marido ou ter uma vida se ficar todo dia aqui até 21h, vou? Espero receber o relatório de Alan antes das 17h.

– Você passou tempo demais na companhia daquele Louis horrível.

– Parece que sim. Aproveitando, não vou poder acompanhar sua sobrinha no estágio, não é conveniente para mim.
E assim encerro a ligação.

Louis relaxa na cadeira e começa a rir.

– Cacete!

– Eu fui incrível, não é? Você viu?

Dou um soco no ar e finjo acertar Julie. Louis descansa as mãos sobre a barriga e me observa enquanto finjo ser uma boxeadora.

– Tome essa, Julie, e leve junto com você sua vida, seu marido e seu distúrbio ridículo do sono.

– Coloque tudo para fora.

– Tome essa, Julie, você e sua enxaqueca.

– Você foi mesmo incrível.

– Tome essa, Julie, você e suas unhas francesinhas.

– É isso aí!

Ele está sorrindo abertamente para mim, nesse mesmo escritório que no passado foi um campo de batalha, então solto o corpo na cadeira, fecho os olhos e sinto o calor de sua satisfação vindo do outro lado da passarela de mármore. Então é essa a sensação? Poderia ter sido assim esse tempo todo?
Não era tarde demais.

– Chega de ficar aqui até tarde. Eu certamente destruí minha relação com ela, mas valeu muito a pena.

– Em breve você vai ter uma vida e um marido.

– Em breve mesmo. Provavelmente na próxima semana. Espero que ele seja muito gentil.

Abro os olhos e o jeito como ele me encara me faz desejar não ter dito isso. Nós dois hesitamos e seus olhos brilham. Acabo de interromper a fluidez que havia entre nós.

– Por favor, deixe-me desfrutar deste momento. Louis Partridge é oficialmente meu amigo.

Entrelaço meus dedos e alongo os braços sobre a cabeça.

– Vou sair para uma reunião durante o café da manhã. Louis, preciso dessas estatísticas na hora do almoço – o senhor Bexley informa, passando entre nós.

Acho que todos sabemos que essa reunião vai ser regada a um enorme prato de bacon.

– Já estão prontas. Vou enviar por e-mail agora mesmo.

O senhor Bexley raspa a garganta. Imagino que esse seja seu jeito de agradecer ou elogiar. Em seguida, vira-se para mim.

– Bom dia, Sn. Belo vestido, esse seu.

– Obrigada.

Que nojo.

– Afie as garras. A entrevista é em breve. Tiquetaque.

Ele vem até a beirada da minha mesa e me analisa do pescoço para baixo.
Resisto à vontade de cruzar os braços. Não sei como Bexley não percebeu o olhar assassino de Louis refletido em dezenas de superfícies. Continua avaliando minha aparência com aqueles seus olhos de bêbado.

– Pare com isso – Louis ordena com uma voz dura a seu chefe.

– Estou preparadíssima para a entrevista. – Olho para baixo, analisando meu corpo. – Senhor Bexley, o que o senhor está olhando?

Calmamente miro nos olhos de Bexley e ele praticamente leva um choque.
Em um instante, desvia o olhar e começa a passar os dedos por seus cabelos esparsos, o rosto queimando, vermelho.

Cara, hoje eu estou do caralho!

Louis aperta o maxilar e olha para sua mesa de vidro com tanta raiva que me surpreende o fato de ela não estilhaçar.

– Pela amostra que tive aquele dia no escritório de Helene, imagino que esteja bem-preparada. Doutor Louis, talvez tenhamos que discutir sua estratégia.

Puta merda! Ele vai contar a Louis sobre meu projeto. Lanço um olhar cheio de pânico na direção de Louis, que olha para seu chefe como se aquele velho fosse um completo idiota.

E aí ele me lembra que não é meu amigo. E, não importa quantas vezes nos beijemos em seu sofá, ainda estamos no meio de nossa maior competição.

– Não vou precisar de nenhuma ajuda para derrotá-la.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora