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Hoje, tive que vir de ônibus. Mal consegui subir a escada sem mostrar a minha roupa íntima e, quando as portas se fecharam, eu me dei conta de que esse vestido foi um catastrófico lapso de julgamento. A buzina entusiasmada de um caminhão enquanto eu andava do ponto de ônibus à B&G confirmou essa hipótese. Se as lojas de departamento já estivessem abertas, eu entraria para comprar uma calça.

Mas eu dou conta de enfrentar essa situação. Vou ter que passar o dia inteiro sentada. As portas do elevador se abrem e, é claro, Louis está em sua mesa. Por que ele sempre tem que chegar tão cedo ao escritório? Aliás, será que esse cara vai para casa? Ou dorme em uma gaveta em algum necrotério escondido por aqui? Acho que ele poderia perguntar a mesma coisa a meu respeito.

Eu esperava ter um ou dois minutos sozinha aqui no escritório para me preparar para o longo dia em que terei de permanecer sentada. Mas lá está ele. Eu me escondo atrás do cabide de casacos e finjo procurar alguma coisa na bolsa para tentar ganhar tempo.

Se me concentrar no vestido como meu principal problema, posso ignorar os flashbacks do sonho de ontem à noite. Ele ergue o olhar, deixando para trás a agenda, mantendo o lápis na mão. E me encara até eu começar a abrir o cinto do casaco, mas não consigo continuar. O castanho de seus olhos é ainda mais vívido do que em meu sonho. Ele me estuda como se estivesse ocupado lendo a minha mente.

– Está frio aqui, não está?

Com a boca franzida em sinal de irritação, ele acena com a mão em círculos como quem quer dizer “Acabe logo com isso”. Respirando fundo para ganhar força, tiro o casaco e o dependuro em um cabide especial, acolchoado. Sinto a fricção dos fios da meia arrastão entre as minhas coxas enquanto ando até minha mesa. Estou praticamente usando um maiô.

Observo seus olhos voltarem-se à agenda, os cílios escuros derramando sombras em formato de meia-lua em suas bochechas. Ele parece um garoto, até erguer o rosto e mostrar que tem os olhos duros e especulativos de um homem. Meu tornozelo quase cede.

– Uau! – exclama com uma voz arrastada. Observo seu lápis para ver se fará algum tipo de anotação. – Tem um encontro ardente hoje, Moranguinho?

– Sim – minto automaticamente, e Louis prende o lápis atrás da orelha, todo cínico.

– Conte-me mais.

Tento apoiar a bunda despreocupadamente na beirada da minha mesa. O vidro é frio contra a parte de trás das minhas coxas. É um erro terrível, mas não posso ficar em pé agora, pois vou parecer uma idiota. Nós dois olhamos para as minhas pernas.

Observo meus sapatos vermelhos e lustrosos e chego a ver o vestido refletido ali, de tanto que brilham. Deixo meus cabelos caírem sobre os olhos. Se eu me concentrar nesse vestido ridículo, vou acabar esquecendo que meu cérebro quer que ele me lamba, me morda, me arranque a roupa.

– O que foi? – Dessa vez, sua voz soa formal. – O que aconteceu? Deslizo o dedo por um dos diamantes formados pelas linhas da minha meia arrastão.

O sonho certamente aparece estampado em meu rosto. Minhas bochechas estão esquentando. Ele usa a camisa vermelha, suave e sedosa como os lençóis do sonho.

Meu subconsciente é depravado. Tento fazer contato visual, mas me acovardo e só consigo perambular até minha cadeira. Queria poder perambular para longe daqui, até a minha casa.

– Ei – ele chama mais duramente. – O que foi? Conte para mim.

– Eu tive um… um sonho.

Digo a frase como alguém diz “a minha avó morreu”. Sento-me na cadeira e pressiono os joelhos um contra o outro até os ossos rangerem.

– Descreva esse sonho.

Ele está outra vez segurando o lápis e eu sou como um cachorrinho vendo o movimento de uma faca e um garfo. Começamos a jogar o Pingue-Pongue das Palavras. Quem não conseguir pensar em uma resposta primeiro perde.

– Seu rosto está todo vermelho. Até o pescoço.

– Pare de olhar para mim.

É claro que ele está certo. Esse escritório que mais parece um globo de espelhos confirma sua frase.

– Não consigo. Você está bem na minha linha de visão.

– Bem, tente.

– Não é sempre que vejo uma combinação tão interessante de roupas reveladoras no ambiente de trabalho. No manual do RH que dita as regras de vestimentas adequadas…

– Você não consegue afastar o olhar das minhas coxas pelo tempo necessário para consultar o manual.

É verdade. Ele olha para o chão, mas, depois de um segundo, seu rosto se volta outra vez ao osso do meu tornozelo e vai subindo.

– Eu já memorizei o manual.

– Então deve saber que minhas coxas não são um assunto apropriado para conversa. Se eu tiver que usar aquele vestido de poliéster, aí você pode dar adeus às minhas coxas.

– Mal vejo a hora. De conquistar a promoção, quero dizer. Não as suas coxas… Ah, deixe pra lá.

– Vá sonhando, seu pervertido.

Digito minha senha. A anterior expirou. Agora é MORRA-LOUIS-MORRA!

– A vaga é minha, e não sua.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora