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– Quase não suporto vê-la fazendo isso – consegue dizer.

– Cabelos presos ou soltos?

Ele parece indeciso. Segura minhas madeixas e diz: – Presos.

Solta os fios, mas continua mexendo neles como se fossem flocos de neve.

– Soltos.

– Metade preso, metade solto. Que assim seja, então. Pare de ficar agitado, você está me deixando nervosa. Por que não vai beber alguma coisa no bar, lá no térreo? Coragem na forma de álcool. Eu posso dirigir até a igreja.

– Esteja lá embaixo em, hum, quinze minutos, está bem?

Quando Louis vai, o silêncio preenche o quarto como se eu estivesse dentro de um balão. Então, sento-me na beirada da cama e me analiso. Meus cabelos caem por sobre os ombros, minha boca é um coraçãozinho. Pareço estar ficando louca.

Tiro as roupas, visto as roupas íntimas, coloco a meia-calça e olho para o vestido.

Eu ia comprar uma peça cerúleo, algo que pudesse usar em outras ocasiões, mas, quando vi o vestido azul, sabia que teria de ser esse. E a cor não teria como combinar mais com ele.

A vendedora me garantiu que o caimento estava perfeito, mas o jeito como Louis esfregou a mão no rosto deixou transparecer que ele estava lidando com uma psicótica. É a verdade inegável. Estou praticamente me pintando com o mesmo tom de seu quarto. Com alguns movimentos dignos de uma contorcionista, consigo fechar o zíper.

Escolho descer a enorme escada em espiral em vez de tomar o elevador.
Quantas oportunidades mais terei? A vida começou a parecer uma grande chance de transformar cada momento em uma memória. Desço em círculos e sigo na direção do homem maravilhoso de terno e camisa azul no bar.
Ele ergue o rosto e me olha de um jeito tão intenso a ponto de me deixar tímida.
Mal consigo colocar um pé na frente do outro. “Psicótica, psicótica”, sussurro para mim mesma enquanto me ajeito diante dele e apoio o cotovelo no balcão do bar.

– Como Você Está? – consigo dizer, mas ele só me encara. – Já sei, já sei, sou uma psicótica, usando a mesma cor das paredes do seu quarto.

Constrangida, esfrego a mão no vestido. É uma peça que mais parece digna de uma formatura retrô, com o decote profundo e a cintura bem justinha. Sinto o cheiro do almoço sendo servido no restaurante do hotel e meu estômago resmunga penosamente.
Ele balança a cabeça como se eu fosse uma idiota.

– Você é linda. Você é sempre linda.

Enquanto o prazer dessas palavras aquece meu peito, lembro-me que tenho de ter modos.

– Obrigada pelas rosas. Em momento algum agradeci, não é? Eu adorei.
Ninguém nunca tinha me mandado flores antes.

– Batom vermelho. Vermelho Lança-Chamas. Eu nunca me senti tão péssimo quanto naquela ocasião.

– Eu já perdoei você, lembra?

Dou um passo, posicionando-me entre seus joelhos e segurando seu copo.
Sinto o cheiro.

– Nossa, esse suco em pó é bem forte.

– Eu precisava. – E engole sem nem piscar. – Ninguém nunca me mandou flores também.

– Todas essas mulheres ridículas não sabem como se deve tratar um homem.

Ainda estou agitada com a revelação de mais cedo. Claro, ele é um idiota crítico, calculista e territorialista 40% do tempo, mas nos outros 60% tem humor, doçura e vulnerabilidade.
Parece que fui eu quem bebeu todo o suco em pó.

– Pronto?

– Vamos.

Esperamos o manobrista trazer o carro. Olho para o céu.

– Bem, dizem por aí que chuva no dia do casamento é sinal de sorte.

Apoio a mão no joelho agitado dele quando estamos a caminho.

– Por favor, relaxe. Não sei por que tudo isso é tão importante.

Ele não responde.

A igrejinha fica a dez minutos do hotel. O estacionamento está repleto de mulheres com aparência fria e usando tons pastéis, abraçando-se, disputando a atenção de homens e crianças.
Estou prestes a começar a abraçar a mim mesma para me proteger do frio quando ele me puxa ao seu lado e me leva para dentro, dizendo “oi, conversamos melhor mais tarde” para vários parentes que o cumprimentam em tom de surpresa antes de olharem para mim.

– Você está sendo muito grosseiro.

Sorrio para todos enquanto passamos e tento não tropeçar.
Seus dedos deslizam na parte interna do meu braço e ele suspira.

– Primeira fila.

Ele me arrasta pelo corredor. Sou uma pequena nuvem no caminho de um avião de guerra. A musicista está ensaiando alguns acordes no órgão e deve ter sido a expressão de Louis que a fez apertar várias teclas em uma dissonância carregada de medo. Chegamos ao primeiro banco. A mão de Louis agora mais parece um torno apertando a minha.

– Oi – ele diz, soando tão entediado a ponto de merecer um Oscar. – Chegamos.

– Louis! – A voz é de sua mãe, presumo, que se levanta rapidamente para abraçá-lo.

A mão dele solta a minha e eu o vejo abraçá-la. É preciso dar os créditos a Louis.
Ele a abraça bem apertado.

– Oi – cumprimenta-a, beijando sua bochecha. – Está muito bonita.

– Em cima da hora… – comenta o homem sentado no banco, mas acho que Louis não percebe.

A mãe dele é uma mulher pequena, de cabelos claros, com aquela covinha rosada na bochecha, aquela que sempre desejei ter. Seus olhos acinzentados adotam um tom misterioso quando ela se afasta para olhar para seu filho alto e lindo.

– Ah, lindo!

Ela sorri para ele e olha para mim: – Esta é…?

– Sim. Esta é Sn Hutton. Sn, esta é a minha mãe, doutora Elaine Partridge.

– É um prazer conhecê-la, doutora Partridge.

Antes que eu possa piscar, ela já está me abraçando bem apertado.

– Pode me chamar de Elaine, por favor. Finalmente a conheci, Sn! – diz contrameus cabelos. Então, afasta-se um pouquinho para me analisar. – Louis, ela é linda.

– Muito linda, sim.

– Ah, eu vou guardar você para sempre! – ela me diz, e não consigo segurar um sorriso bobo.

O olhar que Louis lança para mim diz claramente: “Está vendo?” Ele esfrega as palmas das mãos na calça do terno e seus olhos quase parecem os de um louco.

Talvez sofra de eclesiofobia.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora