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É claro que neste novo planeta ao qual viajei não há ninguém além de Louis.
Ele olha por sobre o ombro, sem dúvida ouvindo meus passos insanamente altos.
E olha outra vez, só para ter certeza.

– Estou na rua, perseguindo alguém – grito.

As palavras não saem no tom que eu pretendia. Não saem leves nem com um toque de humor, mas sim como um aviso. Agora, sou um animal assustador.
Ergo as mãos para mostrar que não estou armada. Meu coração bate acelerado.

– Eu também – ele responde.
Outro táxi passa.

– Aonde você está indo? – minha voz ecoa pela rua vazia.

– Já disse. Estou perseguindo alguém.

– Assim, a pé? – Dou seis passos mais para perto. – Você saiu para andar?

– Eu ia correr pelo meio da rua como o Exterminador do Futuro.

Dou uma risada escandalosa. Estou quebrando as regras ao rir para ele, mas não consigo me conter.

– Você está a pé, afinal. E com pernas de pau – brinca, apontando para os meus saltos altos.

– Elas me dão alguns centímetros a mais para conseguir olhar sua lixeira.

– Encontrou alguma coisa interessante?

Louis se aproxima e para até haver cerca de dez passos nos separando.
Quase consigo sentir o cheiro de sua pele.

– Basicamente o que eu esperava. Cascas de legumes, filtro de café usado, fraldas geriátricas…

Ele solta a cabeça para trás e ri para as estrelas visíveis em meio às nuvens. Essa risada incrível e animada é ainda melhor do que eu lembrava.

Cada átomo do meu corpo vibra com a necessidade de ter mais dessa risada. O espaço entre nós pulsa com energia.

– Você sabe sorrir – é tudo o que consigo dizer.

Seu sorriso vale mil palavras de qualquer outra pessoa. Preciso de uma fotografia. Preciso de algo a que me apegar. Preciso que esse planeta bizarro deixe de girar para eu poder congelar esse momento no tempo. Que desastre.

– O que eu posso dizer? Você está engraçada esta noite.

O sorriso em seu rosto se desfaz quando dou um passo para trás.

– Então dar meu endereço era tudo o que eu precisava fazer para encontrá-la aqui? Eu devia ter dado o endereço logo no primeiro dia.

– Para quê? Para você pegar seu carro e me atropelar?

Chego um pouco mais perto, até estarmos próximos, debaixo de uma luz.
Passei mais de oito horas olhando com ele hoje, mas, fora do contexto do escritório, Louis parece totalmente diferente, e estranho.

Seus cabelos brilham úmidos e há cor em suas bochechas. A camiseta azul de algodão deve ser mais suave do que os lençóis de um bebê e o ar frio deve estar castigando seus braços expostos. A calça jeans velha adora seu corpo e o botão pisca para mim como uma moeda romana. O cadarço de seu tênis está frouxo, quase desamarrado. É uma imagem e tanto.

– O encontro não foi bom? – ele arrisca.

Para seu crédito, não dá nenhuma risadinha. Aqueles olhos fortes me observam pacientemente. Ele me deixa ficar ali e tentar pensar em alguma resposta. Como eu faço para sair dessa situação? O constrangimento começa a tomar conta de mim outra vez agora que a piada entre nós começa a perder seu efeito.

– Foi tudo bem – respondo, vendo que horas são.

– Mas não foi ótimo. Afinal, você está na frente do meu prédio. Ou está aqui para me contar alguma notícia boa?

– Ah, cale a boca. Eu só queria… Sei lá. Ver onde você mora. Como poderia resistir? Andei pensando em colocar um peixe morto na sua caixa de correspondência um dia desses. Você viu onde eu moro. A situação estava injusta e desigual.

Ele não se distrai.

– Você beijou aquele cara, conforme combinamos?

Olho para a lâmpada.

– Sim.

– E aí?

Sinto um arrepio quando ele toca a mão em meu quadril e olha para a rua, aparentemente confuso. Passo as costas da mão nos lábios.

– O encontro foi legal – começo, mas ele se aproxima e envolve meu maxilar com suas mãos.

A tensão faz o ar estalar.

– Legal. Legal e bom e interessante. Você precisa de algo melhor do que “legal”.
Conte a verdade.

– Legal é exatamente o que eu preciso. Preciso de algo normal e tranquilo.

Percebo a decepção em seus olhos.

– Não é disso que você precisa, acredite.

Tento desviar o olhar, mas ele não permite. Sinto seu polegar acariciando a minha bochecha. Tento afastá-lo, mas acabo puxando-o mais para perto, agarrando sua camiseta.

– Ele não é bom o suficiente para você.

– Nem sei por que estou aqui.

– Sabe, sim. – Ele beija a minha bochecha e eu fico na ponta dos pés, arrepiada.
– Você está aqui para me dizer a verdade. Assim que parar de ser mentirosa.

Ele está certo, é óbvio. Está sempre certo.

– Ninguém sabe me beijar como você.

Tenho o raro privilégio de ver os olhos de Louis brilharem por algum motivo que não seja irritação ou raiva. Ele se aproxima para me avaliar.

Sempre que me olha nos olhos, parece sentir-se reassegurado, então me abraça e me levanta do chão. Sua boca toca a minha.

Nós dois deixamos suspiros de alívio escapar. É inútil mentir sobre o motivo de eu estar ali, na calçada molhada em frente ao seu prédio.

Começamos apenas respirando o ar que sai pelas narinas do outro, mas logo a pressão em nossos lábios ganha força e nossas bocas se abrem. Falei mais cedo “que importância isso tem?”. Para mim, infelizmente, esse beijo importa.

Os músculos em meus braços começam a tremer pateticamente contra o pescoço de Louis, e ele me abraça mais apertado, até eu sentir que tomou conta de mim.

Meus dedos se curvam em seus cabelos e eu puxo aqueles fios sedosos. Louis geme. Nossos lábios se entregam à luxúria do beijo.

Deslizam, empurram, escorregam.
A energia que costuma nos açoitar inutilmente agora tem uma válvula de escape, forma uma corrente elétrica entre nós, circulando dentro de mim e invadindo-o.

Meu coração se acende como uma lâmpada em meu peito, a luz se tornando mais forte a cada movimento dos lábios.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora