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Sinto-me infantil enquanto olho para os punhos enrolados da camisa dele, um dos quais agora contém meu DNA. Está concentrado na tela de seu computador e não fala comigo há horas. Eu sem dúvida estraguei tudo, e estraguei feio.

– Vou mandar lavar a seco a sua camisa – ofereço, mas ele não reconhece a minha presença. – Eu compro outra para você. Desculpa, Louis…

Ele me interrompe:

– Você pensou que tudo seria diferente hoje?

Sinto um nó enorme apertando a minha garganta.

– Eu esperava que sim. Não fique bravo.

– Não estou bravo.

Seu pescoço está vermelho em contraste com a gola branca.

– Estou tentando dizer que sinto muito. Eu queria agradecer por tudo o que você fez por mim.

– E essas belas margaridas são para mim, então?

As palavras me fazem lembrar uma coisa que pode consertar tudo.

– Espere. Eu trouxe um presente para você.

Pego em minha bolsa o pequeno cubo plástico com um laço vermelho.

Entrego-lhe como se fosse um Rolex. Seus olhos brilham com uma emoção que não consigo decifrar antes de ele franzir outra vez o cenho.

– Morangos.

– Você disse que amava morangos.

A palavra “amor” provavelmente nunca foi pronunciada neste escritório, e ela faz minha voz tremer. Louis me lança um olhar afiado.

– Fico surpreso por você se lembrar de qualquer coisa.

Ele coloca os morangos em sua bandeja de documentos a serem recolhidos e loga outra vez no computador.
Depois de vários minutos de silêncio, arrisco mais uma vez:

– Como eu posso retribuir… tudo o que você fez?

O equilíbrio mudou dramaticamente entre nós. Agora eu estou em dívida com Louis. Eu devo a ele.

– Diga-me o que eu posso fazer. Eu faço qualquer coisa.

O que eu quero dizer, na verdade, é: “Converse comigo. Explique para mim. Eu não vou conseguir corrigir nada se você me ignorar.”

Vejo-o ainda digitando, seu rosto tão sem expressão quanto o de um boneco de teste de colisão. Uma pilha de documentos com as estatísticas de vendas descansam à sua direita e ele usa a caneta marca-texto para destacar alguns números. Enquanto isso, não tenho o que fazer sem Helene aqui.

– Eu limpo seu apartamento para você. Vou ser sua escrava por um dia.
Eu… faço um bolo para você.

É como se um painel à prova de som tivesse sido instalado entre nós. Ou como se eu tivesse sido levada daqui. Eu devia deixá-lo trabalhar em silêncio, mas não consigo parar de falar. Ele não está me ouvindo, então pouco importa se eu pronunciar as próximas palavras em voz alta:

– Eu vou com você ao casamento.

– Fique quieta, Sn.

Então ele está me ouvindo.

– Vou ser sua motorista. Você pode beber o quanto quiser. Pode ficar superbêbado e se divertir pra caramba. Eu vou ser sua chauffeur.

Ele pega a calculadora e começa a digitar. Insisto.

– Eu o levo para casa e o coloco para dormir, como você fez comigo. Pode vomitar na Tupperware e eu lavo. Aí estaremos quites.

Louis descansa os dedos na lateral do teclado e fecha os olhos. Parece estar recitando mentalmente uma série de palavrões.

– Você nem sabe onde é o casamento.

– Só não vou com você se for na Coreia do Norte. Quando é?

–No próximo sábado.

– Eu estou livre. Combinado. Me passe o seu endereço e eu vou buscá-lo e tudo.
Diga a que horas posso ir.

– É muita presunção da sua parte imaginar que eu não tenho acompanhante.

Quase abro a boca para responder que de fato sei que eu sou sua acompanhante.

Nesse exato momento, meu celular toca. Henry. Giro minha cadeira em 180 graus. Será que ele ainda não descobriu que já inventaram mensagens de texto?

– Oi, Sn. Está se sentindo melhor? Nosso jantar ainda está em pé? – Sussurro baixinho:

– Não sei. Tenho que ir buscar o carro e estou me sentindo péssima.

– Já ouvi tanto sobre esse seu carro.

– Acho que ele é prata… É basicamente o que me lembro dele.

– Eu reservei uma mesa para às 19h hoje. Bonito Brothers. Você disse que gosta de lá, certo?

Não me resta escolha, então. É difícil conseguir uma reserva nesse restaurante.
Tento não bufar.

– O Bonito Brothers é legal. Obrigada. Não vou ter muito apetite, mas farei o meu melhor. A gente se encontra lá.

– Até mais tarde.

Desligo e passo um tempinho olhando para a parede.

– Henry Cavill tem uma noite cheia de clichês à sua espera. Restaurante italiano, toalha de mesa xadrez. Provavelmente uma vela. Ele vai empurrar a última almôndega com o nariz na sua direção. Segundo encontro, certo?

– Vamos mudar de assunto.

Finjo começar a digitar. Minha tela fica tomada por mensagens de erro.

– A maioria dos caras arrisca um beijo no segundo encontro.

Essas palavras me deixam paralisada, provavelmente com a loucura transparecendo nos meus olhos. A ideia de Louis fazer um esforço em um segundo encontro é inconcebível. Louis em um encontro romântico por si só é uma ideia inconcebível.

Imagino-o sentado diante de uma bela mulher, sorrindo, rindo. Aquele mesmo sorriso que ele abriu para mim. Seus olhos brilhando, esperando um beijo de boa-noite. Sinto a pressão no peito. Tento limpar a garganta, mas não funciona.

Não sou a única com aparência de louca.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora