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Às 18h30, meu joelho começa a tremer.

– Vai se atrasar?

– Não é da sua conta.

Droga! Será que Louis nunca mais vai embora? Ele já trabalhou onze horas hoje e ainda tem o frescor de uma rosa. Já eu, tudo o que quero é me jogar de cara na cama.

– Você não disse que era às 19h? Como vai pra lá?

– Táxi.

– Eu também vou para lá. Dou uma carona para você. Faço questão.

O rosto de Louis deixa claro que ele está se divertindo muito durante essa nossa interlocução. Ele espera que eu confesse que estava mentindo. É bom ter Henry como uma carta na manga.

– Tudo bem. Pode ser.

Minha fúria por ele ter roubado a atividade de formação de equipe já ficou para trás, deixando apenas uma leve camada de raiva. Tudo está pouco a pouco saindo do controle.

Vou ao banheiro feminino e levo minha nécessaire de maquiagem. Meus passos ecoam pelo corredor vazio. Faz muito tempo que não vou a um encontro romântico. Ando ocupada demais. Entre o trabalho, odiar Louis Partridge e dormir, me resta pouco tempo para qualquer outra atividade.

Louis não consegue acreditar que alguém possa gostar de passar algum tempo em minha companhia. Para ele, sou uma viborazinha repugnante.

Cuidadosamente aplico o lápis de olho, traçando um olho de gato. Tiro o batom até ele estar praticamente todo desbotado. Passo perfume no sutiã e dou a mim mesma uma piscadela, pronunciando algumas palavras de encorajamento.

Tenho um par de brincos longos no bolso lateral da nécessaire e os coloco nas orelhas. Do escritório para a noite, como dizem aqueles artigos de revistas. Estou ajeitando o sutiã quando trombo com Louis, na saída do banheiro. Ele traz o meu casaco e a minha bolsa. O choque pelo contato com seu corpo é um golpe.

Ele me olha com estranheza.

– Para que se arrumou tanto assim?

– Nossa, obrigada.

Estendo a mão e pego a bolsa. Ele continua segurando meu casaco e aperta o botão do elevador.

– Então hoje terei a oportunidade de ver seu carro? – digo para tentar quebrar o silêncio. Esse pensamento é mais desesperador do que encontrar Henry. O carro é um espaço bem pequeno e fechado. Louis e eu alguma vez nos sentamos um ao lado do outro antes? Duvido. – Faz muito tempo que tento imaginar como é seu carro. Creio que seja um fusca. Um fusca branco e enferrujado, como o Herbie.

– É melhor repensar.

Ele distraidamente abraça meu casaco. Seus dedos entrelaçam-se ao cinto.
Ali, contra seu corpo, a peça mais parece uma jaqueta infantil. Sinto muito por esse pobre casaco. Estendo a mão, mas Louis me ignora.

– Mini Cooper do começo dos anos 1980. Verde-limoso. Não tem como empurrar o banco para trás, então os joelhos ficam cada um de um lado do volante.

– Sua imaginação é muito vívida. Você dirige um Honda Accord 2003.
Prata. Uma bagunça enorme no interior. Problema crônico no câmbio. Se fosse um cavalo, você já o teria matado.

O elevador chega e eu entro com cuidado.

– Você de fato é um stalker muito melhor do que eu.

Sinto uma pontada de medo quando vejo seu polegar apertar o botão da garagem. Ele me observa com olhos sombrios e intensos. Está claramente planejando algo.

Talvez pretenda me matar ali mesmo, no subsolo. Vou acabar morta em uma caçamba de lixo. Os investigadores vão ver minha meia arrastão e maquiagem pesada e pensar que sou uma prostituta. Perseguirão todas as pistas erradas.
Enquanto isso, Louis estará calmamente limpando meu DNA de seus sapatos e preparando um sanduíche.

– Olhos de assassino em série. – Eu queria não soar tão amedrontada. Ele observa seu reflexo na parede espelhada do elevador.

– Entendi o que quis dizer. E você está com aqueles olhos de quem não se aguenta de tesão.

Ele leva dramaticamente o dedo na direção do painel de botões do elevador.

– Não, esse também é meu olhar de assassino em série.

Louis deixa uma respiração pesada escapar e aperta o botão de emergência, forçando o elevador a parar bruscamente.

– Por favor, não me mate. Deve ter câmeras aqui.

Assustada, dou um passo para trás.

– Duvido.

Ele parece pairar sobre mim. Ergue a mão e eu começo a levantar os braços para proteger o rosto, como se estivéssemos em algum filme de terror de segunda categoria. Acabou. Ele vai me estrangular. Perdeu a sanidade.
Louis me segura pela cintura e me levanta, equilibrando minha bunda em um corrimão que eu até hoje sequer tinha percebido que existia. Meus braços se apoiam em seus ombros e meu vestido desliza até a parte superior das coxas.

Quando ele olha para baixo, deixa escapar uma expiração esgotada, que soa como se eu o estivesse estrangulando.

– Me coloque no chão. Isso não tem graça nenhuma!

Meus pés se debatem, mas é inútil.

– Venha aqui perto um segundo.

– Para quê?

Tento descer, mas ele abre a mão em minha cintura e me pressiona contra a parede. Aperto seus ombros até chegar à conclusão de que seu corpo é formado por músculos fortes debaixo daquelas camisas de Clark Kent.

– Puta merda! – Sua clavícula é como um pé de cabra sob as minhas palmas.
Digo a única coisa idiota que me vem à mente: – Músculos. Ossos.

– Obrigado.

Estamos os dois desesperados por ar. Quando pressiono a perna contra seu corpo para me equilibrar, suas mãos envolvem minha panturrilha.

Quando ele coloca a mão em meu maxilar e inclina a minha cabeça para trás, espero que comece a me enforcar. A qualquer momento seus dedos vão começar a apertar e a minha morte vai começar. Nariz com nariz. Respiração contra respiração. A ponta de um dos dedos está atrás do lóbulo de minha orelha e eu estremeço quando ela desliza.

– Moranguinho… – A palavra doce se dissolve e eu engulo em seco. – Eu não vou te matar. Como você é dramática!

Em seguida, ele pressiona a boca levemente contra a minha.

Nenhum de nós fecha os olhos. Encaramo-nos como sempre, mais perto do que nunca. Suas íris são contornadas por castanho e preto. Seus cílios baixam e ele me observa como uma expressão que parece ser de ressentimento.

Seus dentes prendem meu lábio inferior em uma mordida fraca e sou inteiramente tomada por ondas de arrepios. Meus mamilos se contraem.

Meus dedos dos pés se curvam dentro do sapato. Acidentalmente toco-o com a língua quando faço uma varredura em busca dos danos, embora não tenha sentido nenhuma dor. Meu cérebro gira irremediavelmente tentando encontrar explicações para o que está acontecendo e meu corpo começa a recuperar a força.

Quando ele vem em minha direção outra vez e começa a movimentar sua boca contra a minha, abrindo-a suavemente, a ficha cai.

Louis. Partridge. Está. Me. Beijando.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora