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Consigo respirar e nosso movimento lento e sensual se transforma em uma série de beijos mais rápidos, com mordidas leves. Ele está testando, e percebo que guarda certa timidez. Sinto-me como se Louis estivesse me contando um segredo.

Nesse beijo, há uma fragilidade que eu jamais esperaria. É como reconhecer que um dia essa memória vai desaparecer. Ele está tentando me fazer lembrar. É tão doce e amargo que meu coração começa a pesar.
Quando minha boca se abre e eu tento entregar minha língua, ele encerra o beijo com um tom casto.

Teria esse sido o último beijo?

– Meu beijo característico do primeiro encontro.

Ele espera uma resposta, mas deve ter visto em meu rosto que não sou capaz de articular nenhuma linguagem humana neste momento.

Continua me apertando em um abraço caloroso. Cruzo os tornozelos e olho em seu rosto como se jamais tivesse visto essa pessoa antes. O impacto de sua beleza é quase assustador aqui, tão próximo, com esses olhos iluminados.
Nossos narizes se esfregam. As centelhas estão em minha boca, minha boca tão desesperada por ligar-se novamente à dele.

Imagino-o em um encontro com outra mulher e um golpe de ciúme atinge o meu estômago.

– Está bem, está bem. Você venceu – admito quando recupero o fôlego. – Mais.

Empurro o rosto para a frente, mas ele parece não entender o sinal. Por mais delicioso que tenha sido, esse beijo foi apenas uma demonstração do que ele é capaz. Preciso daquela intensidade que tivemos no elevador.

Um casal de meia-idade passa de braços dados por nós, estourando a bolha na qual nos encontrávamos. A mulher olha para trás encantada.

Claramente somos adoráveis.

– Meu carro está ali – aponto.

– Meu apartamento está ali – ele aponta para cima e me coloca cuidadosamente no chão, como se eu fosse uma garrafa de leite.

– Não posso.

– Covardezinha.

Ele já entendeu qual é a minha. E agora é a minha vez de lançar algo completamente sincero.

– Está bem, eu admito: estou morrendo de medo. Se eu subir, nós dois sabemos o que vai acontecer.

– Por favor, explique.

– Ou Algo Assim vai acontecer. Aquela coisa de que falei outro dia. Não vamos chegar vivos à entrevista na semana que vem. Nós dois vamos ficar aleijados na cama, com os lençóis rasgados.

A boca dele se inclina no que acredito que será um sorriso capaz de explodir meu coração, então me viro e aponto na direção do carro. Dou o primeiro passo e começo a correr.

– Não. De jeito nenhum – ele diz.

Entra no lobby do prédio me levando sob seu braço como se eu fosse um jornal enrolado. E vai ver se há alguma correspondência na caixa de correio.

– Relaxe. Eu só vou mostrar o meu apartamento para você, assim ficaremos empatados.

– Sempre pensei que você vivesse em algum lugar subterrâneo, perto do núcleo da terra – consigo pronunciar enquanto ele aperta o botão do quarto andar.

Ver seus dedos me faz ter flashbacks. Olho para o botão vermelho de emergência e para o corrimão.

Tento discretamente sentir seu cheiro. Deixo a discrição para trás, enterro o nariz em sua camiseta e inspiro duas abundantes lufadas. Viciada infame.
Se ele percebe, não diz nada.

– Tio Satanás não tinha nenhum apartamento disponível na minha faixa de preço.

O elevador é grande e não há qualquer motivo para eu continuar aqui, em seus braços. Mas quatro andares é uma distância tão curta que creio não haver motivo para afastar meus braços de sua cintura. Seus dedos estão em meus cabelos.

Abro lentamente as mãos, uma delas em suas costas, a outra em seu abdômen.
Músculos, carne e calor. Estou pressionando outra vez o nariz contra suas costelas, inalando um pouco mais.

– Venha – ele chama discretamente, e já estamos atravessando o hall.

Ele destranca a porta e eu me pego vacilando na entrada do apartamento de Louis Partridge. Tira meu casaco como se estivesse descascando uma banana. Eu me preparo para o que está por vir.

Josh dependura meu casaco perto da porta.

– Então… entre.

Não sei o que esperar. Talvez uma cela de cimento cinza, sem qualquer personalidade, com uma enorme TV de tela plana e um banquinho de madeira.
Um boneco de vodu com cabelos negros e batom vermelho. Uma boneca da Moranguinho com uma faca atravessada no coração.

– Onde fica o jogo de dardos com a minha cara bem no centro do alvo? – inclino o corpo ainda mais para dentro.

– Fica no quarto de visitas.

O apartamento é masculino e escuro, luxuriantemente aquecido, todas as paredes pintadas em tons de chocolate e areia. Sinto um leve cheiro de laranja. Um sofá enorme aparece no centro, diante daquela tela de TV gigante que parece ser característica de todo homem – tela que ele não havia desligado antes de sair. Estava muito apressado. Tiro os sapatos e imediatamente encolho um pouco mais. Ele entra na cozinha e eu continuo espiando.

– Dê uma olhada. Sei que está morrendo de curiosidade. – Ele começa a encher uma chaleira prateada.

Já eu deixo escapar uma expiração trêmula. Não estou prestes a ser atacada.

Ninguém ferve a água com antecedência, exceto talvez na Idade Média.

É claro que Louis está certo. Estou morrendo de curiosidade para dar uma olhada.

Foi para isso que vim aqui. O Louis que conheço já não é suficiente.

Informação é poder, e agora nem todas as informações são suficientes para mim.

Um gemido silencioso e exasperado está alojado em minha garganta.
Isso à minha frente é muito melhor do que ver a calçada na frente do prédio.
Há uma estante de livros tomando toda uma parede. Perto da janela, vejo uma poltrona e outra luminária, com uma pilha de livros iluminados por ela.
Fico imensamente aliviada com isso. O que eu faria se ele fosse um belo iletrado?

Gosto de suas luminárias. Piso dentro de um dos grandes círculos formados pela luz lançada sobre o tapete oriental. Olho para baixo e estudo a estampa; folhas de hera se curvando e enrolando. Na parede de sua sala de estar há a pintura de uma colina, possivelmente italiana, talvez toscana. É original, não é impressão em massa; posso notar os pequenos golpes do pincel e também que a moldura dourada é intrincada. Há prédios na encosta da colina;
torres de igreja e um céu escuro, arroxeado, ao fundo. Um leve sinal das mais discretas estrelas.

Algumas revistas de negócios descansam sobre a mesinha de centro. Há uma bela almofada no sofá, feita de fileiras e fileiras de fitas azuis. Tudo é tão… inesperado. De verdade. É como se um ser humano de verdade vivesse aqui.

Percebo assustada que esse apartamento é muito mais adorável do que o meu.

Olho debaixo do sofá. Nada. Nem sequer poeira.

Avisto um pequeno pássaro de origami feito com um pedaço de papel que certa vez lhe entreguei durante uma reunião. Está equilibrado no canto da estante de livros. Vejo um Louis de perfil na cozinha enquanto ele coloca duas xícaras no balcão à sua frente. Que estranho imaginá-lo colocando o pequeno pedaço de papel no bolso e trazendo para casa.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora