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O sol se aproxima um pouco mais do horizonte enquanto Louis nos guia pelo trânsito carregado da tarde. Parece que todos os habitantes da cidade tiveram a mesma ideia: é hora de escapar e fugir para a beleza da serra.
Preciso quebrar esse silêncio desconfortante.

- Então, quanto tempo de carro?

- Quatro horas.

- O Google Maps está dizendo cinco - rebato sem pensar.

- Sim, se você dirigir feito uma vovozinha. Fico contente por eu não ser o único stalkeando a cidade natal dos outros.

Ele suspira e freia quando um carro corta à nossa frente.

- Filho da puta!

- Como vamos passar essas quatro horas?

Sei bem o que quero fazer. Deitar-me aqui, nesse banco de couro, e olhar para ele. Quero inclinar o corpo e pressionar meu rosto junto à firmeza de seu ombro.
Quero respirar e gravar tudo em minha memória, para o dia em que eu precisar.

- A gente sempre consegue passar as horas de algum jeito.

- E então, onde vamos ficar hospedados? Por favor, não diga que será na casa dos seus pais.

- Na casa dos meus pais.

Quase dou um pulo no banco.

- Puta merda! Por quê? Por quê?

- Eu estou brincando. A festa será em um hotel. Patrick reservou um monte de quartos. É só falar que estamos lá para o casamento quando chegarmos.

- É um hotel decadente?

- Desculpa, mas não, nem de longe. Mas vou dar um jeito para você ficar sozinha em um quarto.

Ele parece estar levando muito a sério a promessa de não encostar um dedo em mim. É um balde de água fria no fogo queimando em meu coração, e agora só restam as cinzas, e eu nem sei se me sinto aliviada.

- Por que você não fica na casa dos seus pais, então?

Ele acena uma negação.

- Não quero.

Sua boca se repuxa, fazendo o rosto parecer entristecido. Em um ímpeto, dou tapinhas em seu joelho.

- Eu te apoio esse fim de semana, está bem? Como no paintball, mas a oferta só vale para esse fim de semana.

- Obrigado por me cobrir. Você foi atingida várias vezes. Até hoje não sei por que fez aquilo.

Louis aperta os olhos para protegê-los do sol. Encontro um par de óculos escuros no porta-luvas. Pego-os e limpo as lentes na manga da blusa.

- Bem, você me fez ser a última pessoa atrás da bandeira. A mais dispensável.

- Fiz isso porque você parecia prestes a cair. - Ao aceitar os óculos, completa: - Obrigado.

- Ah, pensei que fosse mais um dos seus truquezinhos. Não havia ninguém para me dar cobertura. Sn Hutton, escudo humano.

- Eu estava dando cobertura para você.

Ele dá uma olhada no retrovisor e troca de faixa na pista.
Sinto uma leve centelha se acendendo em meu coração.

- Mas você tinha que ter visto meus hematomas.

- Eu vi alguns.

- Ah, é mesmo... Quando tirou a minha blusa do Dorminhocossauro. - Descanso a bochecha no banco e abro os olhos. Estamos parados no semáforo e posso ver um sorrisinho brotando no canto de sua boca.

- Você não tem ideia do quanto me arrependo por você ter visto meu pijama.

Minha mãe me deu aquela peça alguns anos atrás, no Natal.

- Ah, não se sinta constrangida por isso. Fica ótimo em você.

Dou risada e parte do estresse deixa meu corpo. A cidade logo se transforma em distritos menores e o sol começa a se pôr enquanto seguimos nosso caminho cercado por campos verdes. Nunca estive tão longe assim da capital. Preciso começar a viver, em vez de simplesmente fazer o mesmo caminho todo dia, entrando e saindo da B&G como uma ovelhinha de rebanho.

- Você comentou que estou indo para dar apoio moral. Pode me explicar por quê? Sinto que preciso ter acesso a algumas informações de antemão.

- Eu tenho... - ele começa a dizer, mas para e suspira.

- Bagagem? - arrisco. - Do que você está falando?

- Em grande parte, é um problema que causei. Cometi alguns erros e não me dediquei o suficiente a me tornar um profissional importante. Agora tenho que ir para casa e ver o pessoal esfregar isso na minha cara. Vai doer um pouco.

- Medicina. - Sem pensar, reduzo toda a situação a uma única palavra. - Sinto muito, fui insensível.

- Você está falando com o rei da insensibilidade, esqueceu?

Ele mexe os ombros, desesperado para mudar de assunto. Sinto pena.

- Eu deveria vir a este lugar um fim de semana qualquer e explorar um pouco.
Poderia comprar algumas coisas para decorar meu apartamento.

Olho de soslaio para Louis. Buscando um coleguinha para comprar antiguidades? Sério, Sn, tome jeito.

- Bem, tenho certeza de que seu novo amiguinho Henry adoraria trazê-la aqui.

Cruzo os braços e ficamos em silêncio por 23 minutos, de acordo com seu relógio digital perfeitamente pontual.
Sou a primeira a voltar a falar: - Antes de esse fim de semana terminar, eu vou estourar sua cabeça. E aí vou descobrir o que se passa nesse seu cérebro maldoso.

- Tudo bem.

- Estou falando sério, Louis. Você está destruindo minha sanidade.

Inclino-me para a frente, apoio os cotovelos nos joelhos e esfrego as mãos no rosto.

- Meu cérebro maldoso está pensando em parar para jantar em breve.

- O meu está pensando em estrangular você.

- Estou pensando que, se a gente pular de uma ponte, não terei que ir a esse casamento.

Ele olha para mim e parece não estar totalmente de brincadeira.

- Que ótimo. Preste atenção ao trânsito ou seu desejo vai se tornar realidade.

Quando de fato cruzamos uma ponte, eu o supervisiono toda desconfiada.

- Estou pensando... no consumo de combustível do meu carro.

- Obrigada por dividir essa informação valiosa sobre o que se passa na sua cabeça.

Ele olha para mim pensativo.

- Estou pensando em beijá-la no meu sofá. Penso nisso com uma frequência perturbadora. Penso o tempo todo em como seria estranho passar meus dias sem tê-la sentada à minha frente.
O problema da verdade é que estamos viciados.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora