43

7 2 0
                                    


– Então…

Minhas esperanças foram esmagadas, e acho que ele percebeu. Henry estuda meu semblante. Foi como se eu estivesse beijando um primo. Tudo errado.

Quero repetir o procedimento só para ter certeza e, quando vou um pouco para a frente, ele dá um passo para trás e tira as mãos de mim.

– Gosto de passar tempo com você – começa a dizer. – Você é legal.

Termino a frase para ele.

– Então podemos ser amigos? Sinto muito.

Seu rosto deixa transparecer a decepção por não ter sido ele quem propôs isso, uma mistura de alívio e irritação que me faz gostar menos desse cara.

– Sim. É claro. Somos amigos.

Pego a chave do carro.

– Bem, obrigada pelo jantar. Boa noite.

Vejo-o se distanciando, erguendo a mão para acenar um tchau. Henry gira a chave do carro no dedo, seus passos são lentos. Um jantar caro em troca de um beijo ruim.

Está bem, você venceu o jogo do beijo, Louis Partridge. Como eu previa.
Uma nuvem de tempestade se forma dentro de mim. Que noite mais tediosa. Que desperdício.

Mas a pior parte? Se Louis não existisse, esse encontro teria sido bom, segundo os meus padrões. Perfeitamente agradável. Já passei por noites mais tediosas e beijos muito piores. Muito embora a química não fosse a ideal, poderíamos ir construindo algo aos poucos. Essa foi a única oportunidade em minha história recente, e ela foi arruinada.

Era como se Louis estivesse sentado em uma terceira cadeira em nossa mesinha romântica, observando tudo, julgando tudo. Lembrando-me de tudo o que eu perderia. Quando olhei para a boca de Louis, implorei para sentir alguma coisa.

Quando chego a ruas desconhecidas, encosto o carro e passo incontáveis minutos brigando com as configurações do GPS, meus dedos desajeitados pressionando todos os botões errados, um pedaço de papel azul entre os meus dentes.

Insulto a mulher do GPS com os piores nomes que me vêm à mente.
Imploro para ela parar. Mas ela não para. A insuportável me direciona ao apartamento de Louis.

Não vou ao prédio dele. Não sou tão patética a esse ponto. Estaciono em uma rua lateral e olho para o prédio, imaginando qual daqueles quadradinhos iluminados o representa.
Louis, por que você me arruinou?

Meu celular vibra. É um nome que quase nunca vejo na tela.

Louis Partridge: E aí? Suspense etc.

Tranco o carro e ajeito o casaco enquanto vou andando. Tento pensar em uma forma de responder. Mas, francamente, nada me ocorre. Meu orgulho está ridiculamente ferido. Eu devia ter tentado com mais afinco esta noite.

Devia ter me convencido um pouco mais. Mas tenho tanto medo de tentar.
Componho uma resposta. O emoji do cocô sorrindo. Resume tudo.
Decido dar a volta no quarteirão de seu prédio, rezando para não ser sequestrada.

Mas não preciso me preocupar demais. A chuva afastou todos os stalkers, até o mais dedicado deles, das ruas. Meus saltos vermelhos ecoam alto enquanto concluo o reconhecimento da área.
É estranho andar e tentar enxergar as coisas pelos olhos de outra pessoa – pior ainda quando se trata do seu inimigo declarado. Observo as rachaduras na calçada e me pergunto se ele pisa nelas quando anda até o mercadinho de orgânicos. Quisera eu morar perto de um armazém assim; talvez isso me animasse a não comer tanto macarrão com queijo.

Sempre suspeitei que as pessoas aparecem em nossa vida para nos ensinar alguma coisa. Tenho certeza de que Louis nasceu para me testar. Para me empurrar além do limite. Para me tornar mais forte. E, até certo ponto, isso tem se mostrado verdadeiro.

Passo por uma vitrine e paro, estudando meu reflexo. Esse vestido é realmente lindo. Minhas bochechas e meus lábios estão novamente corados, em grande parte por obra de cosméticos. Penso nas rosas. Ainda não consigo entender. Elas foram enviadas por Louis Partridge. Ele foi até uma floricultura, por vontade própria, e escreveu quatro palavras em um cartão que virou todo o jogo.

Poderia ter escrito qualquer coisa. Qualquer uma das seguintes opções teria sido perfeitas: Sinto muito; Peço desculpas; Eu agi errado; Sou um completo idiota; A guerra terminou; Eu me rendo.

Somos amigos agora.

Mas, em vez disso, aquelas quatro palavrinhas. Você é sempre linda. A confissão mais estranha vinda da última pessoa que eu poderia esperar.
Permito-me pensar na ideia que venho evitando tão claramente.

Talvez ele nunca tenha me odiado. Talvez sempre tenha me desejado.

Mais um barulho em meu bolso.

Louis Partridge: Onde você está?

Onde mesmo? Não é da sua conta, Partridge. Estou escondida atrás do seu prédio, olhando para as lixeiras, tentando descobrir se esse café do outro lado da rua é o que você frequenta ou se você costuma ir àquele parquinho no qual há uma fonte. Estou olhando para as luzes que iluminam a calçada.

Estou vendo tudo de outra forma.
Onde eu estou? Em outro planeta.
Outra mensagem de texto.

Louis Partridge: Sn, estou ficando irritado.

Não respondo. Para que responder? Preciso esquecer esta noite, considerá-la só mais uma estranha experiência da vida. Olho para a rua e vejo meu carro no fim da quadra, pacientemente esperando. Um táxi passa devagar e, quando faço que não com a cabeça, ele acelera.

Então é assim que a perseguição começa? Ergo o olhar e avisto uma mariposa orbitando em volta da lâmpada de um poste. Esta noite, eu entendo perfeitamente essa criatura.

Uma passadinha na frente do prédio dele e só isso. Vou virar a cabeça e observar as caixas de correio. Quem sabe eu queira deixar uma ameaça de morte. Ou uma nota sacana embrulhada em uma calcinha do tamanho de uma bandeira marítima.

Dou passos maiores enquanto passo pela porta principal, vislumbrando o saguão superarrumado, e então percebo alguém andando à minha frente.

Um homem alto, de corpo perfeitamente proporcional, mãos nos bolsos, passos agitados. A mesma silhueta que vi no meu primeiro dia na B&G.

Aquela silhueta que conheço melhor do que a minha própria sombra.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora