★Henry acena na direção do bloco de notas e fingimos mais alguns movimentos profissionais.
– É essa cara dele.
– Vocês dois têm uma dinâmica estranha.
– Não tem dinâmica nenhuma. Dinâmica nenhuma.
Começo a mexer meu café. Está quente demais e foi uma ideia terrível vir a este lugar.
– Mas você sabe que ele é apaixonado por você, não sabe?
Inspiro uma enorme lufada de ar e começo a me arrastar em um terreno seco.
Henry se aproxima e me toca a área entre as minhas omoplatas.
Lágrimas descem por meu rosto. Eu queria que ele me deixasse morrer.– Não é, não – chio. Uso um guardanapo para secar o rosto. – Essa foi a coisa mais idiota que já ouvi. Em toda a minha vida.
– Como seu amigo – Louis articula com um sorrisinho –, digo que ele é, sim.
– O que ele está fazendo?
– Assustando o caixa. As pessoas estão preocupadas com como será se ele ficar com a vaga. Sabemos como Louis é bom em cortar empregos. Tem um pessoal da área de design que já anda atualizando o currículo, só por precaução.
– Tenho certeza de que seria tranquilo trabalhar com ele – respondo, exercendo minha diplomacia.
Não vou descer ao mesmo nível de Louis. Levanto-me e reúno as minhas coisas.
– Vamos falar oi para ele – Henry propõe, e tenho certeza de que é só para provocar.
Sua boca já forma um sorrisinho.
– Não, vamos escapulir pela janela do banheiro. E rápido.
Ele ri e faz que não com a cabeça. Mais uma vez, fico impressionada com sua coragem. Todo mundo tenta evitar o monstro que vive rondando. Mas conheço um segredo de Louis. Penso nele ontem à noite, medindo meu pulso, contando cada batida do meu coração. Cobrindo-me com uma manta, ajeitando meus pés.
É impressionante o fato de ele ter conseguido manter essa fachada fria e assustadora por tanto tempo.
– Oi – nós dois cumprimentamos em uníssono quando nos aproximamos.
– Ora, olá – Louis responde maliciosamente.
– Pare de me perseguir tanto.
Meu tom é tão ofendido que a menina preparando os cafés chega a gargalhar.
Louis arruma o punho da camisa.– Sentiram saudade um do outro, não sentiram?
Estou gravando a laser a palavra SEGREDO no cérebro de Henry. Arqueio as sobrancelhas e ele assente. Louis observa essa troca.
– Lucy veio falar comigo sobre uma… oportunidade de… trabalhar com ela.
Henry é um gênio. Nada mais verossímil do que a verdade.
– Verdade. Henry está me ajudando na minha… apresentação.
Não poderíamos ser mais escusos, nem se tentássemos.– Você está trabalhando na sua apresentação. Certo. Entendi. – Louis pega seu café quando seu nome é anunciado e lança um olhar tão acusador que meu rosto quase derrete. – E nós também estávamos fazendo isso, Sn?
Ontem à noite no meu sofá?Henry fica tão boquiaberto que seu maxilar deve ter tocado o chão. Eu não estou achando a situação nada engraçada. Se essa informação se espalhar, minha reputação vai ficar em frangalhos. Henry ainda tem contato com muita gente da área de design. E também é um cara do tipo que vive em busca de uma fofoca.
– Nos seus sonhos, Partridge. Ignore o que ele diz, Henry. Vamos embora.
Puxo Henry para ele não ser lançado no meio do trânsito. Louis segue a passos lentos, tomando goles de seu café. Seguro o braço de Henry tão apertado que ele chega a repuxar o rosto enquanto atravessamos a rua.
– Mesmo se ele sequestrar e torturar você, não conte o que está fazendo para mim. Esse cara vai usar todas as informações que tiver para me ferrar.
– Nossa, vocês dois são mesmo inimigos mortais.
– Sim. Até a morte. Revólveres, espadas e tudo o mais.
– Então ele está tentando descobrir sua estratégia para a entrevista?
Henry cumprimenta um colega e verifica seu celular.
– Exatamente. – Deixo escapar um choramingo nervoso. Acho que tudo já foi explicado a Henry. – Eu ligo para você depois do horário comercial, assim que eu definir qual livro quero que diagrame para mim.
Louis está mesmo em cima da gente. Começo a pensar que talvez eu mesma jogue Henry no meio do trânsito, só para acabar de vez com essa situação agonizante.
– Está bem, conversamos à noite. Tchau, Louis. Boa sorte na entrevista.
Henry segue seu caminho.
Louis e eu não trocamos uma palavra sequer enquanto dividimos o elevador. Ele está irritadíssimo, é uma coisa visceral mesmo. Enquanto isso, ainda me pego um pouco impressionada com o que Henry falou.
Mas você sabe que ele é apaixonado por você, não sabe?
– Ele não é extremamente gentil? Que cara mais gentil! Acho que entendo o que você vê nele – Louis diz com tanta dureza que chego a dar um salto para trás. – Devo ter tido um sonho vívido ontem à noite.
– Ei, o que posso dizer? Eu menti. Sou boa atriz.
Abro os braços e vou à minha mesa.
– Então, você está com vergonha de mim?
– Não, é claro que não. Mas ninguém pode saber. Acho que ele curte uma fofoca. Ah, não olhe com essa cara torta. As pessoas vão falar de nós.
– Grande coisa. As pessoas sempre falaram de nós. E você não liga se falarem de você com ele, mas liga se falarem de você comigo?
– Você e eu trabalhamos a dois metros um do outro. É diferente. Eu quero restabelecer um nível mínimo que seja de profissionalismo neste escritório.
Louis aperta sua ponte nasal.
– Tudo bem. Vou entrar no seu jogo, então. Se essa é a última conversa pessoal que teremos neste prédio, então vou aproveitar para dizer: traga a sua mala na sexta-feira.
– O quê? O que vai acontecer na sexta-feira?
– Traga as suas coisas para o casamento. Vestido e tudo o mais.
Enquanto estou de olhos arregalados, ele prossegue:
– Você vai ao casamento do meu irmão. Você insistiu, lembra?
– Espere, por que eu tenho que trazer o vestido na sexta-feira? O casamento é no sábado. Por acaso vai ter algum ensaio? Eu não concordei em ir duas vezes ao casamento.
– Não. O casamento é em Port Worth e teremos de fazer o caminho de carro.
Ainda sem entender, olho em volta.– Não fica tão longe daqui.
– Longe o suficiente para precisarmos sair depois do trabalho. Minha mãe precisa de ajuda com os preparativos na noite anterior.
Estou explodindo de irritação, terror, mágoa e a certeza absoluta de que isso vai ser um desastre. Fitamos um nos olhos do outro.
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Beijão💋
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O jogo do amor "Ódio"! Louis Partridge
RomanceSn Hutton e Louis Partridge se odeiam. Não é desgostar. Não é tolerar. É odiar. E eles não têm nenhum problema em demonstrar esses sentimentos em uma série de manobras ritualísticas passivo-agressivas enquanto permanecem sentados um diante do outro...