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Contudo, conforme percebo que o ar está tomado por uma animação palpável, percebo que minha grande ideia agora se tornou uma conquista dele. Sou mesmo uma idiota.

Avisto Marion com a bandeira. Ela acena alegremente com uma caneta presa entre os dentes, uma prancheta na mão e binóculos dependurados no pescoço.

Está levando seu trabalho (que não é lá tão importante) muito a sério.

– Equipe, qual é o plano?
Não consigo ver nossos oponentes.

– Ficamos juntos ou nos separamos? – Annabelle está confusa.

– Hum, eu sugeriria ficarmos juntos, já que estamos em uma atividade cujo propósito é formar equipes.

Dependuro-me em um galho do pinheiro e queria poder secar o rosto. Esta roupa é tão quente que me leva a pensar que vou desmaiar.

– Melhor escolhermos uma pessoa para perseguir a bandeira e protegê-la – Andy propõe, e é uma boa ideia.

– Gostei da estratégia. Quem vai fazer isso?

Os dois olham furtivamente, com medo, para Louis. Por algum motivo, esse capacete não fica ridículo na cabeça dele. Suas mãos enluvadas parecem grandes o suficiente para abrir um buraco em uma parede de alvenaria. Ele deveria ser reproduzido em miniaturas e vendido em lojas de brinquedos para meninos violentos.

– Annabelle – Louis decide. – E, se ela levar um tiro, a gente persegue a bandeira em ordem alfabética, de acordo com as iniciais dos nossos primeiros nomes.

Ótimo. Sou uma das últimas basicamente, ninguém me protegeria. Eu seria carne de canhão. Começamos a marchar em busca de um esconderijo. Andy percebe que meu pânico é cada vez maior e oferece um sorriso gentil.

– Nós todos vamos cuidar de você, Sn, não se preocupe.

Eu sabia que Louis encontraria uma maneira de me ferrar. Vou sair dessa experiência ferida, com hematomas e toda manchada de tinta. E não posso atirar nele até eu ir parar em outro time.

Uma buzina ecoa e eu me vejo rastejando desajeitadamente por um terreno inclinado, a terra me fazendo deslizar. Vou na frente, o que faz sentido, considerando a nossa estratégia. Vou reconhecendo o caminho antes dos demais.

Sou a mais descartável.

Meus braços parecem não me sustentar direito e acabo caindo de barriga.
Annabelle corre à minha frente com membros desajeitados e zero estratégia ou discrição. Ajoelho-me e tento dizer para ela ir para trás. Uma mão agarra a minha panturrilha e sou puxada para trás até Louis estar ao meu lado, com a arma empunhada. Ele acena para que eu me deite.

– Não faça isso – chio para ele.

– Você vai levar um tiro na cara se ficar com a cabeça erguida.

– Por que você não me deixou de cabeça erguida, então?

Sua mão se abre em minha lombar, prendendo-me firmemente junto ao chão. Na privacidade da minha mente, posso admitir que o peso de sua mão é delicioso. O tecido entre nossas peles começa a esquentar.

– Qual é o seu problema, hein?

– Problema nenhum – rebato, tentando me afastar.

– Sua aparência está péssima.

– Obrigada. Temos que proteger Annabelle.

Levanto-me um pouquinho e a vejo cambaleando entre os caules finos das árvores, completamente exposta. Andy corre elegantemente atrás dela. A bandeira é uma faixa alaranjada ao longe.

E então me pego em pé e correndo. Louis vem atrás de mim. Abaixo-me atrás de uma pedra e vejo Marnie, da equipe rival. Ergo a arma e atiro algumas vezes, acertando-a no ombro. Decepcionada, ela exclama: – Ai!
E sai do jogo.

Quando olho para Louis, ele parece ligeiramente impressionado.

– Fodona!

Annabelle está fora de nosso campo de visão. O ar é preenchido com estouros e gritos de dor. Depois de algumas corridas curtas, encontro Andy ajoelhado no chão, tentando amarrar o cadarço de sua bota e com uma enorme mancha de tinta no peito.

– Ah, Andy!

Ele me observa com os olhos penosos de um veterano da guerra do Vietnã que sabe que está prestes a morrer, com o sangue escorrendo de uma ferida na barriga e segura meu joelho: – Vá salvá-la.

Ele anda assistindo a filmes de ação em excesso, mas, a julgar pelo peso da responsabilidade e do senso de proteção dentro de mim, eu também. Vou dar um jeito de salvar Annabelle.

– Vou buscar uma Coca-Cola – Andy me informa, arruinando o momento.

Volto a correr. Minha respiração é rasa e meus óculos de proteção estão ligeiramente embaçados. Ouço um estalo e um pulo atrás de uma pirâmide de barris, que ecoam o barulho dos tiros. Olho para baixo. Nada me atingiu até agora. Imagino que sentiria se tivesse sido acertada. Dou uma olhada na parte de trás das minhas pernas.

– Você está limpa – Louis grita.

Olho para ele, que está agachado atrás de um tronco enorme. Segura tranquilamente sua arma apontada para o céu. Tento copiar sua posição, mas a arma é pesada.

– Besta – comenta desnecessariamente.
Louis deve ter punhos fortes.

– Cale a boca.

Annabelle está agachada atrás de uma árvore minúscula. Vejo-a erguer a arma e acertar Matt, do time adversário. Deixo escapar um grito de felicidade e ela se vira com o polegar erguido para mim, com um sorriso enorme no rosto enquanto acena para que eu a acompanhe. A bandeira tremula a cerca de 30 metros. Nem preciso olhar para Louis para saber que ele já está acenando uma negação para mim.

– Vá em frente, então. Eu vou protegê-la. Somos só você e eu agora. O mais velho vai na frente.

– Ótimo. Agora chegou a minha hora de morrer.

Louis corre rapidamente até o barril onde estou me escondendo e checa sua munição, olhando por sobre o ombro.

– Seus pais foram militares?

Isso explicaria muita coisa. O comportamento severo, os modos impessoais. O vício em regras e sequências. Sua organização e frugalidade em tudo o que faz.
Agora ele tem poucos amigos e a incapacidade de formar laços com as pessoas.

Aposto que seus pais passaram muito tempo em missões no exterior. Aposto que é superdetalhista até para arrumar a cama.

– Não – ele responde, verificando a minha arma para mim. – Eles são médicos.
Cirurgiões. Bem, eram.

– Eles morreram? Você é… órfão?

– Eu sou o quê? Eles se aposentaram. Estão vivos e bem.

– Entendi. Você é daqui?

A ponta da minha arma descansa no chão. Estou cansada demais. Espero que me acertem. Preciso descansar.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora