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– Eu… fiquei interessado em conversar mais sobre esse assunto com você, Louis.

Eu me intrometo: – Agora que você sabe que ele é um homem bem-sucedido?
Agora que sabe que ele quase certamente será promovido ao cargo de diretor de operações de uma das editoras mais importantes do país? Agora que você tem algo a contar para os seus colegas das partidas de golfe?

– Squash – Patrick me diz. – Ele joga squash.

Acabo de dar a Anthony o maior sermão de sua vida. Ele não consegue falar. E isso é maravilhoso.

– Você deveria amá-lo e sentir orgulho dele, mesmo se ele trabalhasse separando as correspondências da empresa. Mesmo se estivesse desempregado e louco e vivendo debaixo da ponte. Agora nós vamos embora. Elaine, foi um prazer.
Adorei conhecê-la. Mindy, Patrick, meus parabéns outra vez e aproveitem a lua de mel. Desculpe pela cena que causei. Anthony, tudo isso é verdade. – Levanto-me. – Agora nós saímos cantando pneu como Thelma e Louise.

Louis se levanta e vai beijar o rosto de sua mãe. Ela tenta, em vão, agarrar o punho do filho.

– Mas quando vou voltar a vê-los? – pergunta, olhando para Louis e para mim.

Percebo o maxilar de Louis se apertando e quase posso ouvir um pedido de desculpas brotando em sua língua. Talvez ele simplesmente suma do radar da família Partridge. Minhas próximas palavras surpreendem até a mim mesma, especialmente considerando que eu basicamente acabei de me despedir deles pela última vez na vida.

– Se a senhora for para a cidade nos próximos tempos, podemos nos encontrar para um almoço. E depois assistir a um filme. Anthony, você também está convidado.

Seu queixo, ainda caído, parece balançar com a brisa. Eu continuo: – Mas só se estiver pronto para agir civilizadamente e aproveitar a oportunidade de conhecer seu filho. Acho que já sabe que não vai mais poder ter ataques com Louis. Só eu posso ter meus surtos, porque ele adora os meus ataques.

– Você e eu vamos ter uma discussão. Lá fora. Agora – Elaine anuncia ao marido, já se levantando e apontando para as portas duplas que levam ao jardim.
Anthony mais parece um homem indo para a forca. Seguro a mão de Louis e passamos pelo nosso público enfeitiçado.

– Não precisa pagar nada – o caixa me diz. – Senhora, isso foi melhor do que teatro.

Pego nossas malas com a recepcionista, e ainda bem que dessa vez quem está ali não é a loira luxuriante. É bem possível que, depois de tudo o que passamos no restaurante, eu arrancasse a cabeça dela. Andando juntos, marchando com passos coordenados, deixamos o lobby como dois advogados em busca de justiça em algum desses seriados de TV.
Peço ao manobrista para trazer nosso carro e dou meia-volta.

– Está bem, deixe comigo.
Acabo de fazer um escândalo incrivelmente constrangedor. Posso ver as pessoas cochichando sobre mim enquanto esperam seus táxis. Vou ser a estrela do relato de pelo menos vinte pessoas sobre “aquele incidente do restaurante”.

Louis me ergue em seus braços.

– Obrigado – ele me agradece. – Muitíssimo obrigado.

Então nos beijamos.

– Você não está bravo por eu tê-lo resgatado? Meninos não precisam ser resgatados.

– Este aqui precisava. E vou deixar você escolher qual quer ser: Thelma ou Louise – diz, colocando-me de volta no chão enquanto nosso carro chega.

– Você é o mais bonito, então acho que é Thelma.

Ele empurra o banco do motorista para trás. Percorremos meio quarteirão antes de Louis explodir em risos.

– Você disse ao meu pai que aquilo foi “real”.

– Como se eu fosse uma roteirista péssima de TV que acha que é assim que as crianças falam.

– Mas eu me sinto mal pela minha mãe. Ela pareceu tão arrasada.

– Não se preocupe. Ela vai falar um monte de merda para ele.

– Eu não duvido. É por isso que ela e eu nos damos bem.

Ele reflete por um instante enquanto segue dirigindo.

– Depois de tudo isso que aconteceu, não sei como agir com meu pai.

– Nada é insuperável – afirmo, tentando acreditar em minhas próprias palavras.

Abro a janela um pouquinho para a brisa bater no meu rosto. O sol aquece minhas pernas e Louis está outra vez sorrindo.
Eu não me permito pensar que tudo isso vai terminar.
O caminho para casa costuma levar cinco horas, mas juro que Louis o percorre em três. Mas as horas não significam nada enquanto atravessamos o interior, deixando a brisa do mar para trás.

A memória é iluminada pelos raios de sol que atravessam as árvores.
Enquanto fazemos nosso caminho, nada além de tons cobres e verdes tocam nossos braços, iluminando nossos olhos. Vejo meu rosto no retrovisor e quase nem me reconheço.
Eu mudei. Hoje, sou outra pessoa. Hoje é um dia importante.

Sempre vou me lembrar do caminho para casa como uma montagem em filme, um filme do qual participei. Cada detalhe foi vívido e intenso. Eu sabia que um dia acabaria precisando dessas memórias.

A montagem é dirigida por um francês. Ele teria preferido um conversível, mas as janelas estão abertas, então pelo menos temos vento. O dia está estranhamente ameno para essa época do ano, com cheiro de madressilva e grama recém-cortada.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora