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Em uma sala adjacente ao salão de baile, passamos quase duas horas interagindo em vários níveis de desconforto na recepção regada a uma quantidade infinita de champanhe. Quando digo interagindo, quero dizer que forço Louis em uma sucessão de encontros sociais com parentes distantes enquanto ele fica ao meu lado, observando-me beber champanhe para acalmar os nervos, o que queima meu estômago vazio como se fosse gasolina. Toda vez que sou apresentada a alguém, a sensação é essa.

– Sn, esta é a minha tia Yvonne, irmã da minha mãe. Yvonne, Sn Hutton.

Quando essa tarefa é concluída, ele começa a se ocupar acariciando a parte interna do meu braço, abrindo as mãos em minhas costas para encontrar a pele nua sob meus cabelos ou entrelaçando e soltando nossos dedos. Sempre me encarando. Louis quase não consegue parar de me olhar.

Provavelmente está impressionado com minha capacidade de jogar conversa fora com as pessoas.

Depois de um tempo, é levado por sua mãe ao jardim e eu observo pela janela enquanto ele posa para fotos com vários membros da família. Seu sorriso é forçado. Quando ele me vê espiando, sou conduzida para o lado de fora e posamos diante de uma linda roseira. Quando ouço o clique do obturador, aquela versão antiga de mim mesma acena uma negação e se pergunta como chegamos a esse ponto. Louis Partridge e eu, capturados lado a lado na mesma fotografia e sorrindo? Cada novo acontecimento entre nós parece a realização de algo impensável.

Ele me faz virar e segura meu queixo. Ouço o fotógrafo dizer “lindo”. Mais um clique da máquina fotográfica e esqueço o mundo assim que seus lábios tocam os meus. Queria poder afastar nossas antigas desconfianças, mas isso tudo se parece demais com um sonho. Do tipo que eu devo ter tido uma vez na vida e me odiado depois.

Vejo Patrick e Mindy do outro lado do gramado, em uma posição romântica clichê diante de outra câmera e então me dou conta de que também estou em uma posição romântica clichê. O homem que me odiou por tanto tempo agora está me exibindo aos outros, puxando-me para perto de si. Voltamos para dentro e ele beija minha têmpora. Sua boca desliza para perto do meu ouvido e ele me diz que sou linda. Tenho de me virar outra vez para ser apresentada a mais alguns parentes. Louis realmente está me exibindo.
O que ainda não consegui entender é: por quê?

Cada vez que sou apresentada a alguém, depois de conversarmos sobre como Mindy estava linda e como a cerimônia foi maravilhosa, sempre surge a pergunta inevitável.

– E Sn, como foi que você conheceu o Josh?

– A gente se conheceu no trabalho – Louis respondeu da primeira vez, quando o silêncio se estendeu por tempo demais.

Depois disso, essa se tornou minha “resposta padrão”.

– Ah, e onde vocês trabalham? – é a próxima pergunta.

Ninguém da família tem a menor ideia de onde Louis trabalha ou do que faz.
Eles se sentem desconfortáveis, como se ter abandonado a faculdade de Medicina fosse algo de que se envergonhar. Pelo menos trabalhar para uma editora parece ter glamour.

– É tão legal vê-lo com uma namorada – outra tia comenta.

Ela me lança aquele olhar significativo. Talvez corram por aí rumores de que Louis seja gay.
Peço licença e puxo-o de lado, para trás de uma pilastra.

– Você precisa se esforçar mais. Estou exausta. É a minha vez de ficar lá parada e vê-lo falar.

Um garçom passa e me oferece mais um canapé minúsculo. A essa altura, ele me conhece, pois já comi pelo menos doze. Sou sua melhor cliente. Estou obcecada pelo jantar, que esse garçom me garantiu que será servido às cinco em ponto.

Observo os ponteiros do relógio de Louis, convencida de que provavelmente vou morrer de fome antes desse horário.

– Não consigo pensar em nada para dizer.

Ele percebe um hematoma da partida de paintball em meu braço e fica agitado.

– Pergunte como as pessoas estão, costuma funcionar. – Percebo o número de pessoas que estão nos espreitando. – Você precisa me dizer por que todo mundo está me olhando como se eu fosse a esposa do Frankenstein. Sem ofensas, seu louco.

– Detesto quando perguntam como eu estou.

– Já percebi. Ninguém aqui sabe qualquer coisa sobre você. E você não respondeu minha pergunta.

– Eles estão olhando para mim. A maioria não me vê desde o “grande escândalo”.

– É por isso que você quer que eu faça o papel de namorada? Para todo mundo esquecer que você não é médico? Você se sairia muito melhor se entregasse seu cartão de visita. Pare de tocar em mim. Não consigo pensar direito.

Puxo meu braço para longe dele.

– Agora que comecei, acho que não consigo mais parar. – Ele me puxa para mais perto e encosta a boca em meu ouvido. – Você é inteira macia assim?

– O que acha?

– Eu quero descobrir.

Seus lábios tocam em meu lóbulo e não consigo me lembrar do assunto em curso.

– Por que você está agindo assim, cheio de beijos e como meu namorado?

Observo atentamente seus olhos e, quando ele responde, tenho certeza de que está escondendo alguma coisa.

– Eu já disse. Você é meu apoio moral.

– Por quê? O que está escondendo de mim? – Minha voz fica um pouco dura e algumas cabeças se viram em nossa direção. – Louis, sinto que estou à espera de algo inevitável.

Louis acaricia a lateral de meu pescoço. Tremo tanto que ele percebe.
Quando se aproxima para beijar meus lábios, fecho os olhos e não há nada além dele no mundo. Quero existir apenas aqui, na escuridão, com seu antebraço em minha lombar. Com seus lábios me dizendo “Sn, pare de surtar”. É um movimento injusto da parte dele.

Abro os olhos e um casal (que acredito serem os pais de Mindy) está conversando com a gente. Os dois me inspecionam com olhos atentos.

– Pare de me distrair. Precisamos estar inteiros e aqui até o jantar. E você vai pensar em alguns assuntos e conversar com a sua família. Por que está tão tímido? – Assim que digo isso, me dou conta: – Ah, porque você é tímido.
Essa descoberta me faz vê-lo por um outro ângulo. Continuo: – Durante esse tempo todo, pensei que você fosse apenas um idiota arrogante. Quer dizer, você é. Mas tem algo mais. É incrivelmente tímido.

Ele pisca os olhos e percebo que acertei em cheio.
Uma sensação estranha borbulha em meu peito. Ela cresce, multiplica-se e aumenta um pouco mais. E não para: é cada vez mais rápida, maior, estufa meu peito como uma almofada. Não sei o que está acontecendo, mas essa coisa incha em minha garganta e não consigo respirar. Ele parece saber que tem alguma coisa acontecendo comigo, mas não me pressiona; em vez disso, decide me abraçar na altura do ombro, a outra mão embalando minha cabeça. Tento falar mais uma vez, mas não consigo. Ele simplesmente me abraça e eu aperto inutilmente as mãos nas lapelas de seu terno e o hall vermelho ao longe brilha como uma joia.

– Louis – Elaine chama. – Ah, você está aqui.

Sua voz é calorosa. Louis dá meia-volta sem me soltar, fazendo meus sapatos deslizarem pelo chão de mármore.
Os olhos dela estão um pouco acesos demais quando ela nos olha.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora