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A maneira como ele coloca o cartão na gaveta à sua esquerda é lenta e decidida.
Por um breve instante, sinto medo. Louis é uma massa enorme, escura e trêmula vindo em minha direção, átomos vibrando, manchando a minha visão conforme se aproxima e pressiona seu dedão no meu casaco.

O Jogo de Encarar nunca aconteceu enquanto estávamos trancados em um quarto de hotel.

Com um movimento rápido dos dedos, Louis liberta o primeiro botão. A peça traiçoeira se abre totalmente, como se dissesse: “Sirva-se, senhor!”.

Ele desliza a mão para dentro do casaco e seus cílios baixam um pouco quando, ao receber seu toque, meu corpo arqueia. Apoia os dedos em minha lombar, pressionando suavemente a espinha.

– Vamos fazer logo.

Eu deveria escrever sonetos.
Seguro seu cinto e puxo-o na direção da cama. Ele me abaixa cuidadosamente na beirada do colchão e usa uma de suas mãos para segurar meus punhos. Posso senti-lo tremer. Louis tira meus sapatos e os ajeita ao lado da cama.

Muito tempo já se passou desde a última vez em que senti a pele de um homem tocando a minha. Desde que conheci Louis, sou uma celibatária. A confusão deve estar estampada em meus olhos agora que me dei conta disso. Ele percebe e leva um dedo ao meu queixo.

– Eu só estava nervosa comigo mesma.

Ele se abaixa entre os meus pés. Um menino bonzinho, ajoelhando-se ao lado da cama, prestes a fazer suas preces.

Os olhos castanhos parecem teimosos quando ele volta a olhar para mim. Tenho certeza de que está prestes a beijar minha bochecha e se afastar, então o prendo com uma perna e o puxo para o ninho entre minhas coxas. Um gemido escapa por sua boca e eu seguro seu maxilar com as duas mãos e o beijo.

Em geral, Louis gosta de beijos leves. Esta noite, eu quero beijar forte. Abro sua boca assim que nossos lábios se tocam. Ele tenta me conter, mas não vou permitir. Cutuco-o até ele empurrar o quadril junto a mim. Sinto um baque.
Se eu achava que era viciada antes, o vício não passava de um enorme eufemismo. Quero ter uma overdose de Louis. Ao final dessa semana, estarei em um beco, sem conseguir andar, sem conseguir sequer dizer meu próprio nome. Pelo menos entendo essa luxúria. Posso lidar com ela e, francamente, é a minha única saída. Estou segurando-o com minhas pernas e braços em uma pegada de aço e me pego surpresa quando tenho a sensação de que estou suspensa. Abro os olhos e percebo que ele está se levantando e me levando consigo.

– Vai me matar esta noite? – pergunta, sua boca contra a minha.
Beijo Louis furiosamente.

– Vou tentar.

Meu último namorado, o último homem com quem transei, mil anos atrás, só tinha 1,70 m. Jamais conseguiria me erguer assim. Teria rompido um disco em sua espinha frágil, quase pueril. Louis abaixa-se em uma linda poltrona que percebi que existia assim que entramos.

Antes de Louis, passei toda a vida achando um horror os homens mostrarem sua força. Mas talvez parte de mim ainda goste de ser levada e agradada. Minha saia deslizou tanto que ele provavelmente é capaz de ver a calcinha, mas seu olhar não desce. A palavra “cavalheiro” surge em minha mente.
Louis ergue a mão e, no passado, eu teria estremecido, mas agora me entrego.

– Mais devagar.

Descrente, aceno uma negação, mas ele me observa nos olhos.

– Por favor.

A dúvida começa a tomar conta de mim.

– Você não está a fim?

Ele mexe o quadril. A prova pesada, dolorosamente ereta, toca em mim.
Ele quer tanto que seus olhos voltaram a ficar daquele jeito característico, escuros como os de um assassino em série. Pressiono minha sobrancelha à dele.

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora