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Hora de reparar esse probleminha.

– Sei que, no passado, a comunicação entre mim e o senhor Partridge foi um pouco… complicada. Estou disposta a corrigir isso e fortalecer o trabalho em equipe na B&G – digo com a voz mais profissional que consigo e vejo seu rosto se apertar com desconfiança. Louis aponta seus olhos como se fossem focos de laser na minha direção.

– Esbocei uma recomendação a Helene falando sobre uma tarde para focarmos em trabalho em equipe, e isso para todos… Membros da equipe corporativa, do design, executivos, finanças… Chamamos esse grupo de CDEF, com base nas iniciais de cada equipe, para facilitar. Essa foi minha última ideia. E seria excelente contar isso na entrevista.

Realmente excelente.

– Vou co-assinar para demonstrar meu comprometimento – Louis diz, esse maldito ladrão.

Meu pulso treme com a necessidade de jogar chá quente no rosto dele.

– Não se preocupe com nada – garanto a Jeanette enquanto estamos à sua frente.

– Vai dar tudo certo.

Seu poncho sacode entristecido enquanto seguimos caminho.

– Quando eu for seu chefe, vou fazer você trabalhar pra caralho – anuncia Louis com uma voz rouca.

Agora está mais difícil acompanhar seu ritmo, mas ainda assim eu consigo.
Parte do meu chá respinga no carpete.

– Quando eu for a sua chefe, vai fazer tudo o que eu mandar e, ainda por cima, com um sorriso no rosto.

Aceno educadamente para Marnie e Alan enquanto passamos por eles.
Viramos em um canto, tal qual cavalos de corrida.

– Quando eu for o seu chefe, qualquer coisa além de três erros nos seus cálculos financeiros resultará em uma advertência por escrito.

Murmuro bem baixinho, mas ainda assim ele me ouve:

– Quando eu for a sua chefe, serei condenada por assassinato.

– Quando eu for seu chefe, vou implementar uma política de vestimentas.
Já basta dessas suas roupinhas retrô. Aliás, já pensei no catálogo de roupas corporativas. Um vestido cinza. – Ele faz uma pausa dramática. – Poliéster.
Acho que até a altura dos joelhos, o que significa que no seu corpo vai alcançar o tornozelo.

Sou insanamente sensível com relação à minha altura e detesto fibras sintéticas com todas as minhas forças. Abro a boca e um rosnado de um animalzinho delicado sai por ela. Sigo em frente e bato o quadril na porta de vidro aberta.

– É disso que você precisa para deixar de me desejar? – provoco, e ele olha para o teto e deixa escapar um enorme suspiro.

– Você me pegou, Moranguinho.

– Ah, você caiu direitinho.

Nós dois estamos com a respiração um pouco mais pesada do que a situação requer. Cada um coloca sua caneca sobre a mesa e seguimos discutindo.

– Eu nunca vou trabalhar para você. E não vai ter nada dessa sua ideia de vestidos de poliéster. Se você ficar com a vaga, eu peço demissão. Nem precisava dizer isso.

Por uma fração de segundo, ele parece genuinamente surpreso.

– Não me diga!

– Como se você não fosse se demitir caso eu fique com a vaga.

– Não sei.

Seus olhos se apertam com ares de especulação.

– Louis, você tem que se demitir se eu ficar com a vaga.

– Eu não desisto das coisas – sua voz sai com um toque de decisão e ele leva uma mão ao quadril.

– Eu também não desisto das coisas. Mas, se você tem tanta certeza de que a vaga é sua, por que está tão relutante em prometer que vai pedir as contas?

Observo-o refletindo sobre as minhas palavras.

Quero que ele seja meu subordinado, que fique todo nervoso enquanto eu reviso seu trabalho, o qual vou rasgar em sua frente. Quero vê-lo de quatro aos meus pés, em pedaços, murmurando pedidos de desculpas por sua incompetência.

Chorando no escritório de Jeanette, repreendendo a si mesmo por sua própria inaptidão. Quero transformá-lo em uma pilha de nervos.

– Está bem. Eu concordo. Se você for promovida, eu prometo me demitir.
Você está outra vez com aqueles olhos de quem não se aguenta de tesão – acrescenta, virando-se para se sentar.

Ele destranca a gaveta e pega sua agenda, bufando como alguém muito ocupado enquanto olha as páginas.

– Está me estrangulando mentalmente outra vez?

Ele está fazendo uma anotação com o lápis, um único risco, quando percebe que estou de olho.

– Do que está rindo?

Acho que ele faz uma marca em sua agenda quando nós discutimos.

– É melhor eu ir dormir.

Estou conversando com meus pais. Também estou usando uma escova de dentes para limpar delicadamente o Smurf de dois dólares que comprei no eBay há algumas semanas. Ao fundo passa Law & Order e os personagens perseguem uma pista falsa. Tenho uma máscara de argila branca no rosto enquanto meu esmalte seca.

– Está bem, Smurfette – meus pais pronunciam, os dois ao mesmo tempo, como se fossem um monstro de duas cabeças.

Ainda não se deram conta de que não precisam sentar um grudado ao outro para caberem na tela do vídeo. Ou talvez saibam, mas preferem agir assim.
Meu pai está perigosamente bronzeado e com a marca dos óculos de sol à mostra. Parece um guaxinim, mas com as cores invertidas. Adora rir e falar, então posso vislumbrar o dente que ele lascou enquanto comia costela. Está usando um moletom que tem desde que eu era criança, o que me dá uma saudade insuportável de casa.

Minha mãe nunca olha direito para a câmera. Ela se distrai com a janelinha que mostra seu rosto na tela. Acho que analisa as rugas. Isso dá um ar desconexo à nossa conversa e me faz sentir ainda mais saudade dela.

Sua pele clara não se dá bem com ambientes externos e, enquanto meu pai fica bronzeado, ela fica com as sardas mais aparentes. Temos o mesmo tom de pele, então sei o que vai acontecer se eu deixar de usar filtro solar.

As sardas invadem cada centímetro de seu rosto e braços. Minha mãe chega a ter sardas nas pálpebras. Com seus olhos azuis e cabelos pretos presos em um coque incomum sobre a cabeça, sempre é percebida por onde passa.
Meu pai é um escravo da beleza de minha mãe. Tenho certeza disso porque eu o ouvi se declarando ainda há dez minutos.

– Agora, não se preocupe com nada. Você é a pessoa mais determinada lá dentro, tenho certeza disso. Queria trabalhar em uma editora e conseguiu. E quer saber? Independentemente do que acontecer, você sempre será a chefe da Morangos Sky Diamond.

Meu pai vinha explicando detalhadamente todos os motivos pelos quais eu mereço ser promovida.

– Ah, pai! – Dou risada para disfarçar a emoção que venho sentindo desde a ocasião do blog, quando praticamente tive um colapso emocional na frente de Louis. – Minha primeira medida como CEO vai ser mandar vocês dois irem para a cama cedo. Boa sorte com os morangos Sn 42, mãe.

Enquanto jantava, li os últimos dez posts do blog. Minha mãe tem um estilo de escrita claro e direto. Acho que estaria trabalhando em alguma publicação grande hoje em dia se não tivesse deixado a carreira de lado.

Annie Hutton, jornalista investigativa. Em vez disso, passa os dias mexendo na terra e cuidando das plantas, embalando produtos para entrega e criando suas variedades híbridas – os Frankensteins – de morangos. Para mim, o fato de ela ter deixado de lado seu emprego dos sonhos por causa de um homem é uma tragédia, mesmo meu pai sendo maravilhoso ou o resultado disso ser eu estar sentada aqui, agora.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora