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– Enganar você?

Louis se senta ao meu lado e tenta segurar a minha mão, mas eu a afasto.

– Pode deixar as bobagens de lado. Você ficou desfilando comigo na frente de Mindy e da família dela. Talvez devesse ter contratado alguma mulher mais bonita do que eu.

– Você acha, mesmo, que é por isso que está aqui?

Ele tem a audácia de parecer abalado.

– Tente se colocar em meu lugar. Eu o levo ao casamento do meu ex-namorado e fico o tempo todo colada em você. Faço-o sentir-se especial.
Importante. Faço-o sentir-se lindo. – Há um tremor em minha voz. – E aí você descobre tudo, e de repente se pega questionando se alguma coisa foi real.

– O fato de você estar aqui não tem nada a ver com Mindy. De forma alguma.

– Mas ela é a Loira Alta com quem você terminou depois da fusão, não é?
Foi sobre ela que conversamos hoje cedo na cama. Foi ela a responsável por seu coração partido. Por que não simplesmente me contou hoje de manhã?

Levo as mãos ao rosto e apoio o os cotovelos nos joelhos.
Ainda sentado, Louis vira o corpo para o lado.

– Nós estávamos na cama e você começava a olhar para mim como se não me odiasse. E ela não é a responsável por partir meu coração.

Eu o interrompo: – Eu suportaria ser uma acompanhante de alguém, mas você devia ter deixado as coisas claras para mim desde o início. O que você fez foi coisa de cafajeste e, francamente, estou furiosa comigo mesma por não ter previsto que você seria capaz de algo assim.

A urgência de Louis é crescente. Ele apoia a mão em meu ombro e me vira gentilmente para que eu possa encará-lo. Olhamos um nos olhos do outro.

– Eu queria você aqui porque sempre quero você comigo. Não estou ligando se ela acabou de se casar com Patrick. Para mim, essa é uma história que ficou no passado. Como eu poderia ter contado hoje cedo para você?
Essa história arruinaria aquele momento. Eu sabia como você reagiria.
Justamente assim.

– Você está certíssimo, eu reajo assim. – Como um dragão cuspindo fogo aos prantos. – Eu não perguntei de forma bem direta se havia algum assunto delicado sobre o qual eu devesse saber de antemão, para estar preparada?
Você podia ter me contado no escritório. Dias atrás. E não hoje.

– Você jamais teria concordado em vir sob essas circunstâncias, caso tivesse sabido antes. E se recusaria a acreditar que esse fim de semana poderia ser qualquer coisa além de uma atuação. Seja qual fosse a sua reação, não seria boa.

Contrariada, admito a mim mesma que ele provavelmente está certo.
Mesmo se Louis acabasse me convencendo a vir, eu teria inventado uma carreira e uma história de vida imaginária e sem dúvida estaria usando cílios postiços.

Louis encosta a ponta de um dedo em meu punho.

– Eu estava com o foco em outras coisas, acredite se quiser. Nos arranjos de flores da minha mãe, no humor do meu pai. Na sua taxa de glicose.
Contar essa história para você acabou se tornando algo secundário. – Ele olha para a água e solta o nó da gravata. – Mindy é uma boa pessoa, mas eu não trouxe você aqui para mostrar a ela que superei o término. Para mim, o que ela pensa pouco importa.

– Não acredito que você consiga ser tão tranquilo com toda essa situação.

Não consigo detectar qualquer emoção em seus olhos enquanto ele continua contemplando a água.

– Ela jamais seria minha esposa, entenda isso. Nós éramos pessoas erradas juntas.

Ouvir sua voz dizendo “minha esposa” me faz ficar paralisada demais.
Olhos congelados, sem piscar. Pupilas dilatadas como moedas. Terror, pânico e possessão secam minha garganta. Não quero examinar por que me sinto assim.
Preferiria pular na água e começar a nadar.

Ele me olha de soslaio, com o rosto tenso.

– Agora que garanti que você não está aqui porque é parte de alguma vingança planejada, poderia explicar por que motivo se sente tão incomodada? Além da minha mentira por omissão e de as pessoas nos encararem? Pessoas que você nunca mais vai ver na vida?

Essa pergunta já está muito perto de invadir meus novos e confusos sentimentos.
Preciso de vários minutos para tentar criar uma resposta que soe pelo menos em parte convincente. E não consigo. Então, levanto-me e saio andando rápido de volta para o hotel, e Louis tem de apertar o passo para me acompanhar.

– Espere.

– Vou tomar um ônibus para casa.

Tento fechar a porta do elevador na cara de Louis, mas ele consegue entrar facilmente. Aperto o botão para nos levar ao nosso andar e procuro meu celular para dar uma olhada nos horários dos ônibus. Não tenho ideia de que horas são agora, mas logo noto que tenho várias chamadas não atendidas. Louis tenta falar, mas eu ergo a mão e, exasperado, ele cruza os braços.

Distraidamente, dou uma olhada nas ligações. Henry tentou falar comigo algumas vezes durante a tarde. Tenho algumas mensagens de texto com questionamentos do tipo: “Alguma preferência de fonte?” “Pode deixar que eu escolho, então.” “Me liga assim que conseguir.”

O elevador bipa.
Louis parece prestes a perder a sanidade. Conheço bem essa sensação.

– Me deixa em paz – ordeno com toda a dignidade que consigo antes de sair rumo ao fim do corredor, onde duas poltronas estão posicionadas ao lado da janela.

Durante o dia, este deve ser um belo lugar para ler um livro. Ao anoitecer, enquanto os últimos raios de sol se despedem do céu, é o lugar perfeito para passar raiva.

Sento-me ali e ligo para uma empresa de ônibus. Há um traslado que sai às 19h15 e eles vão passar pelo hotel para pegar outra pessoa. Os deuses estão sorrindo para mim.

Voltar ao quarto significaria terminar as coisas com Louis, e me sinto desgastada.
Acabada. Preciso procrastinar.
Henry atende no segundo toque.

– Oi – cumprimenta com um tom um tanto irritadiço.

Nada mais frustrante do que um cliente que não atende, imagino.
Especialmente quando você está fazendo um favor.

– Oi, desculpa por não poder atender. Estava em um casamento e deixei o celular no silencioso.

– Não tem problema. Acabei de terminar.

– Muito obrigada. Deu tudo certo?

– Sim, quase tudo. Agora estou em casa, verificando tudo no iPad, repassando as páginas. A formatação ficou boa. De quem é o casamento?

– Do irmão de um insuportável.

– Você está com Louis?

– Como adivinhou?

– Tive essa sensação. – Henry dá risada. – Não se preocupe, seus segredos estão seguros comigo.

– Espero que estejam.

A essa altura, eu não dou a mínima. Aliás, bem mereço ser humilhada nos corredores da B&G.

– Quando você volta? Eu queria mostrar o produto final.

– Amanhã, em algum momento. Ligo para você quando chegar, aí podemos nos encontrar.

– Se você puder vir na segunda-feira à noite, fica perfeito para mim. Eu guardei a planilha que pediu. Ali, descrevo quanto tempo demorou e também os custos tanto de um designer freelance quanto de um funcionário assalariado.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora