20

12 1 0
                                    


Entro em seu carro e fico quase inconsciente. Seu cheiro se torna mais forte aqui, intensificado pelo verão, preservado pela neve, selado e pressurizado dentro do vidro e metal. Inalo como uma perfumista profissional. Notas superiores de menta, café e algodão. Notas médias de pimenta do reino e pinho. Notas leves de couro e cedro. Luxuoso como casimira. Se esse é o cheiro de seu carro, imagine o cheiro da sua cama. Boa ideia. Imaginar a cama dele.

Louis entra, joga meu casaco no banco traseiro e eu olho de soslaio para o seu colo. Puta que pariu! Deslizo o olhar para outro lado. Seja lá o que ele tem ali, é grande o suficiente para atrair outra vez a minha atenção.

– Você ficou chocada – censura como um professor.

Minha respiração sai trêmula e ele se vira para me observar com olhos sombrios e venenosos. Ergue a mão e me faz estremecer. Franze a testa, pausa, então ajeita cuidadosamente o meu brinco.

– Pensei que você fosse me matar.

– Ainda quero te matar.

Louis estende a mão para alcançar o outro brinco, e agora a parte interna de seu pulso está tão próxima que eu poderia morder. Afasta com cuidado as mechas de cabelo até meu brinco estar outra vez no lugar certo.

– Eu quero. Você não tem ideia do quanto.

Ele liga o carro, dá ré e sai dirigindo como se nada tivesse acontecido.

– Precisamos conversar sobre isso. – Minha voz sai dura e rouca.

Seus dedos se ajeitam ao volante.

– Parecia o momento certo.

– Mas você me beijou. Por que fez isso?

– Eu precisava testar uma teoria na qual venho pensando há algum tempo.
E, para dizer a verdade, você retribuiu meu beijo.

Remexo-me em meu banco e o semáforo à nossa frente fica vermelho. Ele diminui a velocidade até parar e olha para minha boca e para minhas pernas.

– Você tinha uma teoria? Para ser sincera, acho que você só queria me deixar perturbada antes do meu encontro.

Os carros atrás de nós começam a buzinar e eu olho por sobre o ombro.

– Verde. Vá.

– Ah, verdade, seu encontro. Seu encontro imaginário.

– Não é imaginário. Vou me encontrar com Henry Cavill da equipe de design.

A expressão de choque em seu rosto é impressionante. Quero contratar um pintor para capturá-la em óleo sobre tela e poder transmiti-la às futuras gerações. É impagável.

Carros começam a nos ultrapassar pelos dois lados, buzinando e cantando pneus.
Uma série de palavrões parece tirá-lo de seu estupor.

– Como é que é?

Ele enfim nota que o semáforo está verde e acelera fortemente antes de frear para não atingir o carro mudando de faixa à nossa frente. Louis leva a mão à boca. Eu nunca o tinha visto tão afobado.

– Henry Cavill. Vou encontrá-lo em dez minutos. Você está me levando ao meu encontro com ele. O que há de errado com você?

Ele não diz nada enquanto percorremos vários quarteirões. Estudo teimosamente as minhas mãos, mas só consigo pensar em sua língua em minha boca. Em minha boca. Estimo que, na história da humanidade, cerca de 10 bilhões de beijos já aconteceram em elevadores. E odeio nós dois por sermos tão clichês.

– Você achou que eu estivesse mentindo?

Bem, tecnicamente eu estava mentindo, mas só no primeiro momento.

– Eu sempre parto do pressuposto de que você está mentindo.

Ele muda de faixa violentamente, como se houvesse uma nuvem negra sobre seu humor.

Aqui está um fato: odiar alguém é esgotante. Cada pulsar do sangue em minhas veias me leva mais perto da morte. Desperdiço esses minutos finais com alguém que sinceramente me detesta.

Fecho as pálpebras para poder lembrar outra vez. Meus nervos estão à flor da pele enquanto levo uma caixa à minha mesa no recém-reformado escritório da B&G, no décimo andar. Há um homem na janela, observando o trânsito do início da manhã. Ele se vira e fazemos contato visual pela primeira vez.

Nunca mais vou receber um beijo desses, pelo resto da minha vida.

– Eu queria que pudéssemos ser amigos – digo acidentalmente em voz alta.

Guardei essas palavras dentro de mim por tanto tempo que agora tenho a sensação de que lancei uma bomba atômica. Louis fica em um silêncio tão profundo que talvez não tenha me ouvido. Mas ele não demora a lançar um olhar tão presunçoso a ponto de fazer meu interior se contorcer.

– Jamais, nunca mesmo, seremos amigos.

Ele diz “amigos” como se estivesse pronunciando a palavra “patético”.

Em frente ao bar, diminui a velocidade e eu saio correndo antes de ele sequer parar completamente o carro. Ouço-o gritar com irritação meu nome.
Percebo que me chama de Sn.

Avisto Henry no bar, com uma garrafa de cerveja dependurada entre os dedos.

Atravesso a multidão e me lanço em seus braços. Pobre Henry, que chegou adiantado como um bom cavalheiro, sem ter a menor ideia de que concordou em passar a noite com uma mulher insana.

– Oi! – Henry fica contente. – Você chegou!

– É claro! – deixo uma risadinha trêmula escapar. – Depois do dia que enfrentei, preciso de um drinque.

Agarro-me ao banco do bar como um jóquei a seu cavalo. Henry acena para o garçom. Tacos de basebol idênticos balançam nas telas posicionadas acima do bar. Sinto a memória da boca de Louis na minha e levo meus dedos trêmulos aos lábios.

– Um gin com tônica enorme. O maior que você puder fazer, por favor.

O garçom traz a bebida e eu coloco metade do conteúdo na boca. Acho que talvez tenha deixado um pouco escorrer pelo queixo. Passo a língua nos cantos dos lábios e ainda sinto o gosto de Louis. Henry me olha nos olhos quando baixo o copo.

– Está tudo bem? Acho que você precisa me contar sobre o seu dia.

Dou uma boa olhada para ele. Percebo que trocou de roupas e está usando calças jeans escuras e uma camisa xadrez. Gosto do fato de ele ter feito o esforço de ir para casa e se trocar para mim.

– Você está bonito – elogio com sinceridade, e seus olhos brilham.

– E você está linda – ele responde com um tom intimista.

Em seguida, apoia o cotovelo no balcão do bar e mantém uma expressão sincera, sem malícia. Sinto uma bolha estranha de emoções dentro do peito.

– O que foi? – pergunto enquanto seco o queixo.

Ele me olha como quem não me odeia. Chega a ser bizarro.

– Eu não podia dizer isso no trabalho, mas sempre a achei a mulher mais linda de toda a empresa.

– Ah, bem…

Devo estar vermelha como um pimentão, e sinto minha garganta apertar.

– Você não lida bem com elogios.

– Não recebo muitos.

É verdade. Ele apenas ri.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora