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Ele está frio como gelo e seu tom de voz me faz ter flashbacks. Pronunciou as palavras como se fossem a coisa mais ridícula que já ouviu na vida. A bobinha da Sn Hutton, aquela que é impossível de se levar a sério e sem dúvida não é páreo para Louis Partridge em nenhuma área. Sou uma piada. Não vou ficar com a promoção. Afinal, por que ficaria? Eu sou aquela que tem de receber orientações para enfrentar até mesmo um simples telefonema.

– Talvez não – o senhor Bexley reflete.

Claramente contente por ter sido expulso de nossas mesas, ele vai embora.
Enquanto espera o elevador, olha outra vez em nossa direção.

– Mas, doutor Louis, você pode querer repensar isso.

A porta do elevador se fecha e Louis balbucia “vá se foder”. Em seguida, olha para mim.

– Eu estava mentindo.

O silêncio ecoa como duas taças de cristal que se tocam.

– Bem, você é um excelente ator. Eu sem dúvida acreditei.

Pego minha garrafa de água e tomo um gole, tentando acalmar o aperto furioso em minha garganta. Na verdade, sou grata a ele. Era justamente isso que me faltava. Somos dois cavalos de corrida avançando a caminho da linha de chegada. Eu estou chicoteando, mas acabo de sentir o primeiro golpe do chicote.

Preciso me apegar a esse sentimento até a entrevista terminar.

– Sempre fui. Estava nervoso com o fato de ele ficar olhando daquele jeito para você e aí acabou saindo. Tenho o péssimo hábito de estourar. Olhe para mim, Sn.

Quando o encaro, ele repete lentamente: – Aquelas palavras não foram sinceras.

– Tudo bem. Era o que eu precisava – respondo com o mesmo tom frio e direto que ele acabou de usar com Bexley.

Não sei o quão fria consigo soar enquanto a raiva parece uma chama em meu peito. Ao mesmo tempo, sou também uma boa atriz.
Sua testa franze daquele jeito preocupado que é sua marca registrada.

– Você precisava disso? Precisava me ver sendo um idiota? Porque foi só isso que recebeu de mim.

A vida é uma questão de perspectiva e, se eu escolher acreditar que acabei de receber um impulso de motivação vindo de meu concorrente, posso ignorar meu orgulho ferido. Vou me concentrar no futuro. Meu foco agora é um raio laser que Louis me deu.

Meu computador bipa. Cinco minutos para eu e Henry nos encontrarmos para discutir o projeto de meu e-book.

– Espere. Precisamos resolver isso. Mas ainda não posso explicar. – Seu rosto se repuxa agitado. – É um péssimo momento. Eu não queria que tivesse soado como soou.

– Eu vou sair – respondo enquanto pego minha bolsa e meu casaco.

– E aonde está indo? Para caso Helene me pergunte… – indaga, e parece se sentir péssimo. – Você volta hoje?

– Vou encontrar alguém para um café.

– Bem… – Louis diz depois de um instante. – Eu não tenho como impedir.

– Obrigada por me permitir fazer meu trabalho.

Depois de maliciosamente empurrar sua bandeja de papéis, marcho até o elevador.

E, depois, até a Starbucks do outro lado da rua. O problema de estar em combate com Louis Partridge? Eu nunca realmente saio vitoriosa. E isso é o que há de mais ilusório nessa história toda. Assim que penso que venci, acontece alguma coisa para me lembrar que não venci coisíssima nenhuma.

Por favor, que eu me permita apreciar este momento. Louis Partridge é oficialmente meu amigo.

Este momento não é nada além de uma derrota antecedida por perdas, perdas e mais perdas.
Henry já está sentado próximo à janela. O fato de eu estar atrasada é mais um prego no caixão onde jaz meu profissionalismo.

– Olá, obrigada por me encontrar. Desculpe pelo atraso.

Peço meu café e rapidamente esboço a minha ideia.

– Tenho tempo nesse fim de semana – Henry oferece com toda a nobreza.
Ele olha para mim com um interesse nada disfarçado – para os meus cabelos presos, minha garganta exposta e o vermelho em meus lábios.

Tenho a má sensação de que ainda alimenta a esperança de que nosso beijo ruim foi apenas um mau momento.

– Eu vou pagar do meu bolso. Pode me dar uma ideia de quanto custaria?

Henry não parece preocupado.

– Por que não fechamos um acordo? Dê os créditos do meu trabalho durante a entrevista e fale a Helene sobre o meu novo software editorial.
Talvez existam algumas cruzadas que se adequem a seu projeto e… trezentos contos.

– Está ótimo. E claro que farei isso – apresso-me em garantir.

Indicá-lo é uma coisa que posso fazer. Ajudá-lo, expondo seu trabalho aos executivos, contribuir para que sua empresa ganhe espaço.
Parte do pessoal da B&G está na fila esperando café e nos observando com olhares especulativos. Outro funcionário passa pela rua e acena para mim.

Estou sentada em um enorme aquário redondo. Minhas bochechas começam a queimar quando penso em tudo o que falei e fiz com Louis no último andar. As farpas, os insultos, os beijos eletrizantes. Em nosso mundinho isolado, tudo parecia normal e aceitável.

– Obrigado por se lembrar de mim para esse projeto – Henry agradece antes de tomar um gole de seu café.

– Bem, depois do nosso jantar na segunda-feira, eu sabia que podia confiar meu segredinho a você. E, conforme você disse, precisei de ajuda e você foi a primeira pessoa em quem pensei.

– Então é um segredo?

– Helene sabe, obviamente. O senhor Bexley sabe do conceito do projeto, mas desconhece o produto final que espero apresentar.

Eu queria não ter que dizer a próxima parte, e fico chateada com quão complicada essa situação se tornou:

– Preciso lhe pedir para, por favor, não dizer nada a Louis. Sei que você não vai voltar a vê-lo, mas vamos manter isso entre nós. Ele está com toda a certeza de que vai ficar com a vaga. Agora, vencê-lo é mais importante do que nunca.

– Não vou dizer nada, mas, se você reparar, Louis está bem ali, atrás de você.

– O quê?! – quase grito. Não consigo dar meia-volta. – Aja de maneira totalmente profissional.

Desenho um diagrama no meu bloco de notas e Henry traça algumas linhas aleatórias.

– Qual é o problema desse cara? Ele parece estar sempre furioso.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora