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– Admita, você parece estar prestes a explodir.
– Faça um favor a si mesma e fique em casa esta noite. Sua aparência está horrível.

– Obrigada, Doutor Louis. Aliás, por que o Gordo do Pinto Pequeno o chama de doutor?

– Porque meus pais e meu irmão são médicos. É o jeito que ele achou para lembrar que eu não desenvolvi todo o meu potencial.

Seu tom indica que eu sou parte da classe baixa da cidade, e ele então se levanta.
Acompanho-o pelo corredor, em direção à fotocopiadora. Ele não diminui o passo, então agarro seu braço.

– Espere um minuto. Eu estou tentando corrigir essa situação. Você está certo, sabia? Eu vim hoje na esperança de que esses últimos dias juntos pudessem ser diferentes.

Louis abre a boca, mas eu me mantenho no controle. Ele está me deixando prendê-lo contra a parede, mas nós dois sabemos que ele poderia me erguer como se eu fosse uma peça de um jogo de xadrez, se assim quisesse.

Ouço passos. Alguém de salto alto vem em nossa direção e minha frustração só aumenta. Preciso dar um jeito nisso agora ou então vou sofrer um aneurisma.

A despensa de produtos de limpeza vai ter que funcionar. Por sorte está destrancada, então entro e fico em meio a produtos de limpeza e aspiradores de pó.

– Entre aqui.

Relutante, ele obedece, então fecho a porta e apoio o corpo contra ela.
Permanecemos em silêncio enquanto os passos fazem uma curva e seguem seu caminho.

– Aqui é confortável. – Louis bate o pé em um pacote de rolos de papel higiênico.
– Então, o que você queria dizer?

– Eu estraguei tudo. Sei que estraguei.

– Não há nada que estragar. Você me irritou, só isso. O status quo foi mantido.

Ele apoia um cotovelo na prateleira para passar a mão nos cabelos e sua camisa desliza um pouquinho para fora da calça. Estamos tão próximos um do outro que posso ouvir o tecido esfregando em sua pele.

– Pensei que talvez a guerra pudesse chegar ao fim. Pensei que talvez pudéssemos ser amigos. – Seus olhos brilham com desgosto, então talvez agora seja a hora certa de falar tudo. – Louis, eu quero que sejamos amigos.
Ou algo assim. Não tenho ideia do motivo disso, afinal, você é horrível.

Ele ergue um dedo.

– Há algumas palavras interessantes no meio do que você acabou de dizer.

– Eu digo muitas palavras interessantes. É você que nunca as ouviu.

Esfrego os olhos até meus dedos estalarem, e então me dou conta do que está acontecendo.

O motivo da minha crescente angústia é o seguinte: eu jamais voltarei a ver esse lado gentil que ele esconde. Penso em suas mãos apoiadas nas laterais do meu travesseiro, penso em Louis conversando comigo enquanto estou febril. Suas mãos deslizando facilmente por minha pele.

Neste exato momento, ele parece querer me lançar na fogueira. Foi meu amigo por alguns instantes, por uma noite de delírio, e terei de me satisfazer com isso.

– Ou algo assim – ele ecoa, usando os dedos para marcar aspas no ar. – Você disse que queria que fôssemos amigos ou algo assim. O que exatamente significa “algo assim”? Quero saber quais são as minhas opções.

– Provavelmente inclui não nos odiarmos. Sei lá.

Tento me sentar em algumas caixas empilhadas, mas elas amassam, então volto a ficar em pé.

– Então, o que ele é? Seu namorado?

Louis está com as mãos na cintura e essa saleta se torna microscópica.
Agora posicionou-se mais perto de mim. Não sei qual é o sabonete divino desse homem, mas preciso tê-lo. Vou guardar uma barra na primeira gaveta para perfumar minha lingerie. Sinto minhas bochechas começando a esquentar.

– Você não daria a mínima se eu saísse com Henry. Você acha que nenhum homem quer sair comigo.

Em vez de responder, ele estende a mão, mantendo a palma para cima. As mangas de sua camisa continuam enroladas, o que me permite notar os tendões em seus pulsos. Pela primeira vez, percebo que ele tem aquelas veias que os homens musculosos têm nos braços.

– A gente se tocar no trabalho é contra a política do RH.

Minha garganta fica seca. Não se tocar é que deveria ser ilegal.

Ele me olha com expectativa até eu encostar minha mão à sua. É difícil resistir a alguém estendendo a mão assim, e é completamente impossível se essa pessoa for Louis. Percebo o calor e o tamanho de seus dedos antes de ele virar minha mão para analisar o arranhão na palma. E ele manipula o meu braço como quem segura uma pombinha ferida.

– Agora, falando sério, você limpou isso? Espinhos de rosas podem ter fungos.
O arranhão pode infeccionar.

Ele pressiona os dedos na lateral do ferimento e franze a testa. Como consegue ser dois homens tão diferentes? Percebo mais uma coisa: talvez eu seja um fator determinante. Essa ideia me assusta. O único jeito de fazê-lo baixar a guarda é eu mesma baixar a minha. Talvez eu possa fazer tudo mudar.

– Louis.

Quando ele me ouve encurtando seu nome, dobra meus dedos e solta a minha mão. Chegou a hora de arriscar. Espero que eu não esteja errada.

– Eu queria você lá em casa na noite de sexta-feira. Você e só você. E, se não quiser ser meu amigo, vou fazer o Jogo do Ou Algo Assim com você.

Uma longa pausa se instala e ele não reage. Se eu julguei errado, nunca vou superar a vergonha. Meu coração pulsa desconfortavelmente rápido.

– Sério?

Ele parece cético.
Empurro-o contra a porta e sinto o frio na barriga quando ouço seu peso contra ela.

– Me beije – sussurro, e o ar esquenta.

– Então o Jogo do Ou Algo Assim envolve beijos? Veja só que interessante, Sn.

Ele desliza seus longos dedos por meus cabelos, afastando com cuidado os fios que caíram no rosto.

– Eu ainda não conheço as regras. É um jogo novo.

– Tem certeza?

Louis olha para baixo e observa minha mão aberta sobre a sua barriga.
Empurro seus músculos. Eles não cedem.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora