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Hoje a camisa dele é da cor de um pires de creme.

Aja naturalmente, Sn. Entre como uma mulher sensual. Nada de ficar sem jeito. Vá.

Ele olha para mim, meus tornozelos tremem e eu solto a bolsa. A tampa do pote onde trago meu almoço se abre e um tomate rola pelo chão. Relaxo as mãos e os joelhos e meu salto agulha se prende no cinto solto do casaco.

– Droga! – exclamo enquanto tento me arrastar.

– Vá com calma.

Louis se levanta e se aproxima.

– Cale a boca.

Ele solta meu casaco e recolhe meu almoço antes de estender a mão para mim.

Hesito por um instante antes de aceitar, permitindo que Louis me ajude a levantar.

– Posso rebobinar o filme e refazer minha entrada?

Ele tira o casaco dos meus ombros e o dependura para mim.
A porta do senhor Bexley está aberta; as luzes, acesas. Helene costuma chegar mais tarde. Provavelmente ainda está na cama.

– Como foi sua noite, Sn? Parece cansada.

Meu estômago afunda em consternação com o tom impessoal de Louis até eu olhar seu rosto e perceber que seus olhos estão iluminados como o de quem está aprontando alguma travessura. Se o senhor Bexley estiver bisbilhotando, não vai ouvir nada fora do comum.

Esse é um jogo novo e perigoso, o Jogo do Aja Naturalmente, mas vou arriscar mesmo assim.

– Ah, foi boa o suficiente, acredito.

– Legal. Hum. Fez alguma coisa especial?

Ele está com o lápis na mão.

– Fiquei no sofá.

Louis se mexe em sua cadeira e eu olho para seu colo.

– Olhos de assassino em série – balbucio para ele.

Sento-me na beirada da minha mesa, pego o Lança-Chamas e começo a deslizá-lo por meus lábios, usando a parede mais próxima como espelho.
Louis olha para as minhas pernas com uma luxúria tão exposta que quase chego a molhar a calcinha.

– E você, Louis, o que fez à noite?

– Eu tive um encontro. Pelo menos acho que foi um encontro.

– E como ela era?

– Pegajosa. Realmente se jogou em cima de mim.

Dou risada.

– Ser pegajosa não é um traço atraente. Espero que tenha se livrado dela.

– Acho que me livrei, de certo modo, sim.

– Isso vai ensinar uma boa lição a essa mulher.

Começo a ajeitar os cabelos para prendê-los em um coque alto antes de ajeitar meu vestido. É um vestido de lã creme, elástico e quente, e admito que o escolhi para combinar com a camisa de Louis. Ele gosta de bibliotecárias cheias de frescuras? Hoje é isso que vai ter.

Ele observa minhas mãos. Eu observo as dele. Os nós de seus dedos estão pálidos.

– Mas não sei se vou voltar a vê-la.

Ele soa entediado e está clicando em seu mouse. Quando seu olhar perfurante encontra o meu, penso na última noite e meu interior se aperta.

– O que acha de levá-la ao casamento do seu irmão? É sempre gratificante ir a um evento assim com alguém interessante.

Nós dois nos encaramos e eu relaxo lentamente na cadeira. O Jogo de Encarar nunca foi tão sacana. O telefone toca. Olho para o identificador de chamadas e a palavra “PORRA!” se acende em neon no meu cérebro.
Louis dá uma olhada em meu rosto.

– Se for ele, eu vou…

– É Julie.

– Um pouco cedo para ela, não é? Você vai ter que ser firme com ela.

O telefone continua tocando. E tocando.

– Vou deixar cair na caixa de recados. Estou cansada demais pra enfrentar isso agora.

– Não vai, não.

Ele digita asterisco e nove e atende na extensão. Por aí, ensinam os operadores de call center a sorrir quando atendem uma chamada. As pessoas podem ouvir o sorriso em sua voz. Louis precisa aprender isso.

– Telefone de Sn Hutton. Louis falando. Um instante. – Ele aperta um botão e aponta o aparelho na minha direção. – Atenda. Estou de olho.

Nós dois observamos a luz de ligação em espera piscando.

Eu ainda sou aquela menininha sorridente na plantação de morangos. Olhe para mim, sou uma garota boazinha. Sou a menina mais meiga, mais doce e adorada por todos. Nenhum problema é grande demais. – Quero ver você ser tão forte com outras pessoas quanto é comigo.
Pressiono a luz piscando.

– Oi, Julie, como está?

Meu ouvido quase explode de tão alto que é seu suspiro.

– Oi, Sn. Não estou nada bem. Estou insuportavelmente cansada. Nem sei por que vim trabalhar hoje. Acabei de me sentar aqui e a tela já está me matando.

– Que pena que está se sentindo assim.

Olho fixamente nos olhos de Sn. Ele intensifica seu semblante com aqueles lasers assustadores. Está me imbuindo com seus poderes. NÃO vou ligar para as desculpas ou pedidos que ela fizer.

– O que posso fazer por você, Julie? – pergunto em um tom profissional, mas com um toque de calor humano.

– Era para eu estar trabalhando em um documento para o Alan, um documento que ele vai editar e enviar para você.

– Ah, sim. Preciso receber antes do fim do horário comercial.

Louis ergue o polegar, mas com sarcasmo.

– Bem, estou tendo problemas para encontrar alguns dos relatórios antigos na rede. Aqui me diz que o atalho foi excluído. Tentei de várias formas e acho que preciso descansar um pouco, sabe?

– Contanto que eu receba o relatório até às 17h, fique à vontade.

Louis olha para o teto e dá de ombros. Pensei que eu estivesse sendo firme, mas ele não parece impressionado.

– Estive pensando se eu não poderia ir para casa e terminar amanhã bem cedinho, quando estiver me sentindo melhor.

– Mas você não acabou de chegar? Ou eu estou ficando louca? Acabei de verificar para ter certeza de que horas são.

– Eu entrei rapidamente para verificar meu e-mail – ela conta com o tom de um soldado. – Alan disse que não teria problema, contanto que eu combinasse antes com você.

Julie já está balançando a chave do carro ao fundo.
Aquele laser me dá uma força de aço.

– Sinto muito, mas para mim não funciona. Preciso receber até as 17h, por favor.

– Estou ciente do prazo – ela rebate com sua voz subindo um tom. – Estou tentando avisar que Alan não vai conseguir enviar o documento dentro do prazo.

– Mas é você quem precisa de mais tempo, e não ele.

Beijão💋

O jogo do amor "Ódio"!   Louis Partridge Onde histórias criam vida. Descubra agora