³¹* Medo e raiva.

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Pov'Ellen.


- eu não vou mudar de idéia, pai - falei no mesmo tom que ele estava usando comigo, como se eu fosse uma criança que precisa ser disciplinada.

- nos vivemos isso a anos... Ele não vai vencer.

O olhar de Jeff era cauteloso, mas tinha aquele toque de autoridade de sempre, ele queria me fazer ficar, suportar o que viesse, lutar aquela batalha que nunca foi minha, uma batalha que acabaria. Om mais sangue sendo derramado, onde Giacomo e eu estariamos em lados opostos, e uma batalha que não era para me defender, mas para mostrar quem era o mais forte, meu pai estava com raiva por que Giacomo entrou em nossa casa tão facilmente, e através de mim, literalmente eu estava vivendo o filme "dormindo com o inimigo", mas agora que eu sabia disso preferia me afastar, aquela não era uma batalha minha, muito menos uma que eu deseja enfrentar.

- não pai, ele não vai ... Nem você, esse confronto nunca vai chegar ao fim, mas ainda sim alguém sempre perde, dessa vez fui eu... Eu perdi meu filho, perdi a vida que desejei... Perdi o homem que amo, uma criança que aprendi a amar, junto disso o respeito por vocês.

- não fala besteira. Giacomo estava usando você.

- não é besteira, nem infantilidade, não estou sendo impulsiva, como você já falou várias vezes, eu sei exatamente o que estou fazendo, e prefiro isso a ter que viver no meio dessa guerra... E ainda que seja verdade, e ele tenha me usado, eu não fiz isso, e esse é mais um motivo para me manter bem longe, vou virar alvo fácil da vingança deles, serei moeda de troca nessa guerra ridícula.

- certo Ellen, você venceu - Jeff saiu do meu quarto.

- disse que não confia mais em nós, e ainda sim pediu minha ajuda - Eric questionou.

- eu preciso dela... E não deixei de confiar em você, só não me sinto capaz de viver desse jeito... eu não sou como você que cresceu aqui, que sempre soube, que por escolha ou não - minha voz estava estranha, como se eu fosse chorar a qualquer momento - ... Sempre esteve no meio de tudo, eu... - suspirei alto tentando conter minhas lágrimas - eu cresci com a mamãe, respeitando a mais simples regra, longe desse mundo bizarro... Não sou capaz de viver desse jeito.

- que bom que cresceu com ela. E não aqui - Eric sorriu um pouco então me abraçou, ficamos assim por um tempo, eu me sentia de uma certa forma tranquila com ele, eu o amava e confiava.

Era uma confiança diferente, eu sabia que Eric nunca me faria mal, mas não era dele que eu tinha medo, e sim do que ele fazia, e disso acabar me machucando mais.

- acha que um dia vai voltar? - ele perguntou depois de um tempo.

- não, não sei, eu estou morta... Ninguém pode me ver.

- e se ele morresse?

- Giancarlo? - chequei.

- sim.

- talvez, mas isso começaria uma guerra ainda maior.

- ou acabaria com ela.

- isso não é algo que posso opinar...

- é melhor ir, não quero te ver nisso.

- obrigada.

Meu irmão me olhou nos olhos, dava pra ver a dor neles.

- seus documentos ficam prontos amanhã - ele falou antes de sair do quarto.

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- consegui tudo,  passaporte, documentos, tem um bom dinheiro nessa conta, você vai conseguir se manter por anos sem passar necessidade - Eric sorriu sem graça - eu sinto muito.

- eu sei.

- o jatinho está a sua espera, vai ser melhor, o destino é New York, de lá você escolhe o próximo, não precisa falar.

- obrigada.

- se precisar de algo é só ligar.

- não vou precisar - falei um tanto rude.

- desculpa não proteger você disso - Eric pegou minha mão.

- eu também sinto por você estar preso a essa vida.

-  Me avisa que está bem.

- eu aviso - concordei - eu te amo - sorri um pouco.

- te amo ellenzinha - meu irmão me abraçou.

Observei quando o carro parou, já era madrugada, esperamos ficar bem tarde para poder sair de casa, assim menos pessoas me veria, além disso meu irmão apareceu com uma peruca ruiva, que parecia realmente cabelo humano; Eric desceu e me ajudou a descer, olhamos para onde o jatinho me esperava.

- até um dia - ele sorriu sem esperança.

- quem sabe...

Peguei a bolsa de mão que só tinha os documentos que Eric conseguiu, cartões e nada mais. Uma nova vida começou, Ellen morreu junto com seu bebê, quando entrei no jatinho e me ajeitei em uma das poltronas, abri a bolsa e peguei o documento de identidade, li o meu novo nome.

- Eleonora Grey - isso me fez rir ao lembrar que Eric brincou falando que era um bom nome "Ellen é um bom apelido" - a pior parte é não poder exercer medicina.

Quando reclamei sobre ele poder ter conseguido um diploma, seu argumento foi "médicos são conhecidos, muita gente os vê, você não quer ser reconhecida, mesmo morando em outro país".

- minha vida acabou - me enterrei na poltrona.

A viagem parecia nunca chegar ao fim, mesmo com todos meus esforços eu não conseguia dormir, minha mente não parava de pensar em Giacomo, na dor dele quando entrou no quarto do hospital depois de saber do aborto, eu sabia que aquilo tinha sido crueldade demais, teria que viver com essa escolha, me sentia um ser humano sem coração, e ao mesmo tempo muito corajosa, ou muito covarde, porque fugi daquela vida, eu não era capaz de viver ali e fingir normalidade.

No aeroporto de New York eu senti outro tipo de medo, já não usava a peruca, mas mantive meu cabelo solto tentando cobrir meu rosto o máximo possível.

- uma passagem para Seattle.

A moça olhou minha identidade, depois gerou a passagem, sentia meu coração esmagando meu peito de tão rápido que batia. Não alívio nem quando ela me entregou a passagem, para mim todos ali sabiam quem eu era, e contariam a verdade.

Só relaxei um pouco mais quando estarei no avião, e ainda sim não conseguia dormir, nem comer, parecia que meu corpo estava congelado, sem vida alguma

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- ooiii... Sabe onde encontro a doutora Catherina Scorsone?

- ela deve estar na sala dos médicos, o plantão dela acabou agora a pouco.

- obrigada - andei em direção a sala familiar, passei a mão por meu cabelo tentando o manter alinhado.

Parei diante da porta e esperei até a porta se abrir, minha velha e única amiga saiu da sala e soltou um sonoro "porra" ao me ver.

- o que faz aqui?




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Apareci.
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