²⁶* A fulga.

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Pov'Ellen.

Sentia meu peito doer, era dor física, não emocional, a dor era quase insuportável, mal consegui chegar em casa e mandar uma mensagem para Giacomo pedindo para buscar Francesca, procurei um dos remédios que a obstetra me receitou para dor de cabeça ou enxaqueca e tomei, depois me enfiei embaixo do coberto em posição fetal, queria dormir e esquecer tudo que aconteceu, não sei se era o medo falando mas eu preferia viver na ignorância, o conhecimento as vezes é uma maldição; claro que eu só pensava isso porque o que descobri era pavoroso e eu não sabia o que fazer, como fugir dali, como agir, ou como seria agora, ia encarar Giacomo e gritar que eu sabia quem ele era? Que sabia que o homem que amo é um mafioso, só de pensar na palavra senti meu estômago revirar, levantei da cama com urgência e corri antes de vomitar no chão ou em mim mesma.

Agora a dor era em meu estômago não aguentava mais vomitar, não tinha mais nada o que sair, mas o enjôo não passava, eu chorava e vomitava sem parar, sinto que acabei dormindo ali mesmo no chão do banheiro porque me despertei com um toque em meu rosto, o grito que soltei me assustou, abri os olhos e encarei Giacomo.

- o que faz aí? - sua pergunta saiu ao mesmo tempo que me pegava em seus braços e me tirava do chão, meu primeiro pensamento foi de me afastar, mas precisava de ajuda ou passaria a noite ali.

- não tenho forças pra levantar - minha voz saiu rouca, quando senti a cama sob mim, me encolhi e tentei voltar ao sono.

- a quanto tempo está no banheiro?

- a tarde toda - puxei o cobertor até o pescoço.

- Ellen - sua expressão era de dor - trouxe uma sopa, vou buscar.

Giacomo não esperou a resposta, saiu do quarto com urgência. Senti a dor em meu peito voltar, mas agora era emocional, não conseguia acreditar em quem ele era, no que fazia, como pude ser tão burra e não notar os sinais? Não entender a realidade? Como me alienei em uma realidade paralela? Os sinais estavam ali, tudo estava na minha cara, Catherine notou logo que chegou, porque eu não? Mas ela não estava cega de amar, eu sim.

Observei ele entrar segurando uma bandeja, me ajeitei na cama mesmo sentindo medo, eu precisava me acalmar, precisava pensar direito, pensar em meu filho, precisava comer, ia pegar a colher, mas ele se adiantou, seu sorriso encantador surgiu quando me ofereceu o alimento, exitei por dois segundos antes de abrir a boca, me deixei ser alimentada, mas não conseguia corresponder ao seu sorriso, quando a sopa acabou ele me ofereceu água, essa bebi sozinha, Giacomo levantou e pegou a bandeja.

- vou só ajudar Francesca e volto.

- tudo bem, acho que vou acabar dormindo, estou exausta.

- se quiser ir até o hospital - agora ele parecia sem jeito.

- não, ainda não - murmurei.

- tudo bem - Gio se curvou e beijou minha testa, então se afastou e saiu do quarto.

Esperei um tempo até ter certeza que não vomitaria, olhei a hora, já poderia tomar um outro comprimido, levantei da cama me apoiando nas paredes até chegar ao banheiro, tomei o remédio e voltei para a cama do mesmo modo, deitei me cobrindo quase que por completo.

Quando Giacomo voltou para o quarto trouxe consigo um balde e um copo gigante de água, se curvou perto de mim e voltou a me beijar, eu não dormia, mas ele achou que sim, então apenas me mantive calada, abri os olhos quando ouvi a porta do banheiro sendo fechada, sentei na cama e olhei em volta, meu desejo naquele momento era fugir, eu deveria fazer isso. Eu faria isso, fugiria dali sem falar nada, salvaria ao meu bebê, e a mim daquele lugar e daquelas pessoas, precisava de dinheiro e um lugar para ficar.

Mas com dinheiro você consegue muita coisa, onde eu ia conseguir dinheiro em espécie? Voltei a fechar os olhos quando ouvi o barulho da porta, me encolhi mais para garantir que ele não me tocasse, tinha medo de não suportar fingir, o senti deitar ao meu lado, ajustar o cobertor, senti seu movimento e ele beijar meu cabelo, depois se ajeitar, apertei os olhos com força até ter certeza que não vomitaria ali. Não me movi um único milímetro, ouvia o som do celular dele enquanto digitava, as vezes falava algo muito baixo, sentia seu toque em minha testa como se para verificar minha temperatura, quando se mexia era bem devagar para não me incomodar, mas eu não me movi, não dei sinal de estar acordada, não queria falar com ele, ou encarar, ter que responder suas perguntas, meu desejo era fugir naquele segundo.


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Dinheiro, precisava de dinheiro e sabia onde encontrar. Esperei Giacomo sair para trabalhar, ou seja lá o que ele fazia quando saia de casa, a primeira coisa que fiz foi arrumar uma mala com o necessário, meus documentos pessoais, passaporte, peguei outra mala e coloquei poucas peças, desci até o escritório de Giacomo que eu raramente entrei, mas por uma conversa boba sabia que ali ele mantinha dinheiro, uma conversa boba que agora parecia bem séria.

"Mantenho dinheiro em casa para uma emergência"

"Que tipo de emergência?"

"Não sei, mas é bom ter"

E ele não falou mais nada, não sei se a emergência que ele tinha na cabeça era essa, mas serviria, a senha do cofre era a data de nascimento de Francesca. Quando abri o cofre me deparei com mais dinheiro do que achei que teria ali, não parei para pensar sobre isso joguei tudo dentro da bolsa grande e tranquei o cofre, devolvi o quadro ao lugar e sai, subi mais rápido que pude para o quarto ajeitei a  bolsa no fundo da mala e joguei as roupas por cima, depois fechei. Digitei uma mensagem para Giacomo falando que pegaria um plantão para uma colega que estava doente.

"Você se sente bem para isso?

"Sim, hoje estou muito melhor, não se preocupa, do notícias"

"O que acha de passar com você para almoçamos juntos?"

"Ótima idéia, vou adorar"

"Só me avisar quando tiver livre, amo você"

"Eu aviso, te amo"

Eu o amava, sim o amava muito, amava um criminoso, um mafioso, quantas pessoas será que ele matou? Ou fez mal? Parei aquele pensamento antes que ele me fizesse vomitar, refleti sobre o que precisava mais uma vez então desci, já havia conseguido uma passagem, teria que fazer ponte aérea, mas foi tudo que consegui, preferia isso a ter que esperar mais um dia ali, fiquei uns cinco minutos na sala até o táxi chegar, olhei mais uma vez para a casa onde eu achei que construiria uma vida, na verdade eu agora sentia que havia destruindo ela.

Teria um filho de um mafioso, meu filho não teria um pai. Entrei no táxi com aquele sentimento de tristeza, de fracasso, me sentindo uma idiota por não ter percebido os sinais, sempre fui uma mulher tão precavida e de repente me apaixonei perdidamente por um homem que deixei de sentir o mundo a minha volta. Olhei para o motorista e agradeci enquanto pagava a corrida, peguei minhas malas e segui até o embarque, parei na fila e procurei meu passaporte, peguei meu documento pessoal e os segurei firme.

- Ellen? - ouvi a voz masculina e desconhecida.

- sim, posso ajudar?

- sim... Você vem comigo - o homem alto me olhou, apesar de não ser feio ele me assustou, seus olhos verdes brilhavam de maldade.

- sinto muito, estou prestes a embarcar.

- prefere que eu cause um ... Incidente aqui? - ele passou a mão por sua cintura, olhei para baixo e vi a arma.

- quem é você?

- não importa, mais para o seu bem o e bem do seu filho, é melhor ir comigo.

O homem pegou uma das malas em ofereceu o braço.

- a muito mais pessoas que podem se machucar, e você não quer isso quer?

Ele voltou a oferecer o braço. Peguei a outra mala e segurei em seu braço.




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Olha quem apareceu. Kkkkkk




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