³⁴* Preocupações.

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Pov'Catherina.

Olhar Ellen parada ali no meu closet com uma aparecia de quem iria cair dura a qualquer segundo me deixava triste, me sentia frustrada porque eu estava com muita raiva dela, de como ela não percebeu o que estava tão óbvio, como ela se deixou envolver tanto nessa trama diabólica. E ainda sim triste, porque eu sabia que ela não era a verdadeira culpada, as pessoas que deveria amar e cuidar dela mentiram, incluindo a mãe que deveria ter dado uma dica antes de morrer, algo sutil como "Ellen seu pai é a merda de um mafioso", "Ellen não volte pra Itália, seu pai é um mafioso", droga qualquer coisa, se ela não podia contar a verdade, que fala-se algo que afastaria Ellen da Itália e da família de bandidos, mas não teve nada, e agora a garota estava traumatizada, grávida e sofrendo por um canalha, e prestes a cair desmaiada no meu tapete.

Eu não sabia qual das alternativas era a pior.

- amanhã vamos comprar roupas pra você - falei entregando um pijama - e pra mim, é o mínimo - tentei fazer brincadeira, mas por sua expressão não foi boa.

Mas ouvindo minha própria voz que estava mais pra raivosa do que pra divertida, eu não julgava.

- tenho certeza que um dia de compras não vai fazer nem cócegas na minha conta bancária.

Ignorei aquele detalhe, porque eu não queria imaginar que esse dinheiro era fruto de algo perverso.

- vou falar com uma amiga minha, você precisa de uma obstetra.

As compras eram o de menos, apesar de que ela não ia poder desfilar com minhas roupas pra sempre, então era a segunda coisa mais importante.

- antes de ... Tudo, eu fiz uma ultrassom, ele está bem.

Ellen mostrou um sorriso sem vida.

- ele?

- ainda não tenho certeza - sua voz era só um sussurro - mas acho que é um menino.

- vamos saber em breve - apesar de estar com raiva, me senti emocionada em saber que minha única amiga de verdade estava grávida, eu não queria pensar muito nisso, porque ainda queria ficar com raiva dela mais um pouco, mas estava eufórica com a notícia.

- obrigada - Ellen virou para sair do closet e a vi cambalear, segurei seu braço antes que se batesse na porta.

- não morre hoje - pedi a ajudando a chegar até a cama.

- não vou te dar esse prazer - ela mostrou um sorriso sem graça.

- já morreu o suficiente por uma vida - zombei, dessa vez nos dias rumos de verdade - tenta dormir, preciso de um banho também.

- ok.

- amanhã o dia vai ser melhor - falei.

Só não sabia se era para ela ou para mim.

******

Ellen parecia doente, talvez ser médica não ajudasse nessas horas, nosso olhar clínico sempre via muito além, mas ela dormiu mais de 15 horas e só acordou porque a chamei, voltou a dormir o restante do dia e outra vez só acordou porque chamei, passou algumas horas acordada conversando comigo, mas dormiu logo depois das onze da noite, tudo bem que ela passou umas 24 horas acordada direto, mas parecia um pouco pior que apenas cansaço físico, era como se ela não quisesse ficar acordada para não sentir, ela pouco falou comigo durante os curtos períodos que ficou acordada.

Mesmo preocupada fui trabalhar só para me preocupar de lá também, porque Ellen dormiu o dia todo, e outra vez só acordou porque eu a acordei quando liguei, eu tinha horas suficiente de psicologia para saber que ela poderia estar entrando em um quadro depressivo, e isso não seria bom pra ela, muito menos para o bebê, eu precisava dar um jeito naquilo antes que as consequências fosse pior.

- qual o motivo para essa viagem?

- como disse, minha prima está mal, não tem ninguém pra ajudar no tratamento do câncer - menti - decidi ir cuidar dela.

- não seria mais fácil trazer ela?

- não quando você mora em um apartamento de um cômodo único, e sua prima tem dois filhos pequenos - mostrei um sorriso desanimado.

- vamos sentir sua falta apor aqui - James murmurou.

- também vou sentir falta, mas vai ser temporário - na verdade não - com sorte consigo meu emprego de volta.

- podemos arrumar isso.

- se não for pedir muito, agradecia se fizesse uma carta de recomendação - mostrei meu sorriso conquistador.

- vou ver o que faço - ele sorriu mais.

- obrigada.


*****

Quando cheguei em casa por um milagre, Ellen estava acordada, mas estava enfiada na cama com o cobertor até o pescoço e o rosto inchado de tanto chorar, aquilo era doloroso, Ellen era uma das mulheres mais fortes que conhecia, e estava ali como uma menina indefesa.

- trouxe comida - falei para chamar sua atenção - melhor levantar, hoje vamos comprar o que precisa.

- não estou muito afim de sair - ela falou baixo, se esticou na cama e sentou.

- ah... - soltei fingindo surpresa - isso não foi uma sugestão - completei mostrando um olhar sério - nós vamos.

- Cath - Ellen me encarou com uma expressão frustrada.

- não quero saber, você veio atrás de mim, pediu minha ajuda, acabei de pedir demissão do meu trabalho... Você não tem opção, ou é do meu jeito ou pode procurar ajuda de outra pessoa.

A ameaça era falsa, eu não deixaria ela sair dali, mas minha amiga não precisava saber disso, só fazer o que eu estava falando, porque naquele momento eu era a única que estava de fato usando a razão, e apesar de estar triste com tudo e muito feliz por ela estar grávida, minha razão ainda falava mais alto.

- destruí minha vida, agora estou destruído a sua - Ellen voltou a sentar na cama e escondeu o rosto com as mãos.

Ouvi seu choro, a deixei chorar um pouco e então falei.

- sem drama, James vai me fazer uma boa carta de recomendação, e vou arrumar um trabalho seja lá o lugar para onde vamos.

- você sempre amou esse lugar.

- as coisas mudam Ellen, e pelo amor de Deus, levanta logo dessa cama, arruma uma roupa adequada, nós vamos comer e sair, e decidir para onde vamos mudar, porque aqui não é o lugar certo.

- você é toda minha família, obrigada - lá estava as lágrimas que me torturavam.

- Ellen, você é minha família também - eu não era fã de abraços e declarações, mas acho que ela precisava disso, porque não havia feito em nenhum momento desde que ela me encontrou, então a abracei - agora nos duas temos esse bebê, e tudo vai ficar bem, vamos procurar uma cidade legal, comprar uma casa com jardim pra ele poder correr quando crescer.

- obrigada - Ellen parecia que se desmancharia em lágrimas.

- você sabe que odeio frescura - me afastei um pouco - mas sabe que eu te amo.

- eu sei - ela sorriu de verdade, mesmo chorando, aquele sorriso era verdadeiro - queria não ter sido tão idiota.

- eu também queria isso, mas se não tivesse, agora não estaria grávida, e eu sei que filhos são algo maravilhoso.

- você está certa.

- como sempre - zombei.



****

Apareci.












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