³⁷* Meu coração ainda batia.

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Pov'Giacomo.


É surpreendente como nossa mente pode nos dar exatamente aquilo que precisamos ou achamos precisar, a minha estava me fazendo passar outra vez pelo luto, e dessa vez parecia ainda pior que a primeira, talvez porque com Jeanine eu não vivi de fato, Ellen surgiu em minha vida, o desejo de vingança me tomou e eu não me deixei sentir a perda deles, e agora eu queria sentir essa dor, me apegar a ela, porque a dor era tudo que me restava no momento, era a única coisa que me fazia ter certeza que o que vivi foi real, que eu tive a felicidade em minhas mãos e a deixei ir. Eu desejava ir atrás de Ellen, ir a cada país, cada cidade, cada palmo de chão até achar ela e implorar que em deixasse ficar em sua vida, que eu faria qualquer coisa para tê-la de volta.

Mas eu não podia, não a acharia mesmo que quisesse, e eu sabia que ela não queria e isso era suficiente para me fazer ficar exatamente onde estava - no meio da guerra entre Giancarlo e Jeff - e eu sabia que seria o mais prejudicado, eu perderia muito, porque eu tinha o que perder, e eles não achavam o mesmo.

Minha vida agora seria aquilo, meu ódio me levou aquele lugar, aquele ponto da minha vida, a destruição de tudo o que eu amava, de todos que eu amava, a minha própria destruição, porque mesmo que houvesse uma saída, que eu achasse ela e conseguisse passar por ela, eu não voltaria a ser quem fui, agora teria que carregar o sangue em minhas mãos, carregar a dor de perder Jeanine, meu filho, Ellen... E saber que nunca conheceria aquele bebê, que mesmo que eu culpasse Ellen, era minha culpa, o sangue dele estava em minhas mãos. Então tudo o que acontecesse agora era consequência das escolhas que fiz.

- você não tem outra opção Giacomo...

Olhei mais uma vez a minha volta, não havia mais ninguém, estava sozinho, a voz que ouvia era a minha, eu estava sozinho, a não ser pelo homem que estava sobre a mira da M4 em minhas mãos, fazia um mês desde a partida de Ellen, um mês que eu não dormia direito, que estava me afundando naquele mundo, Giancarlo fez questão de dizer que eu não tinha escolha, aquele era mais um dos testes, matar o segurança e e invadir a casa, pegar o que ele queria e chegar vivo. De qualquer forma eu estaria morto em algum momento, mesmo que meu coração continuasse batendo.

Ouvi o disparo.

Meu coração ainda batia, e pela primeira vez eu desejei que ele parece. Caminhei devagar entre as árvores, mal ouvia meus passos, o cara estava morto, passei por ele e entrei no casebre e logo não estava mais sozinho, mais dois homens entraram. Os ignorei, eu sabia que estava sozinho, mas não desacompanhado, Giancarlo havia mandado reforços, ou quem carregasse o que ele queria, vasculhei a casa por alguns segundos então puxei o tapete e vi a porta do alçapão, sério que ele faziam esse tipo de coisa ainda? Esconder armas e drogas nesse tipo de lugar? Tudo bem que estávamos no meio do nada, estávamos a mais de 1 mil quilômetros da civilização, mas ainda sim, só quando liguei a lanterna e desci as escadas eu descobri o porque de esconderem algo assim ali. Não era só armas e drogas, que porra Giancarlo me fez fazer?

- quem é ela?

- o prêmio - um deles ria tranquilo - leva a garota, nós levamos o resto.

- ele não falou sobre isso.

- falou para nós, ela vale muita grana - o outro falou.

- não vou andar com ela sem saber o porque - falei baixo, a garota estava amordaçada, ouvidos tapados com abafadores e olhos vendados, ela não fazia ideia do que acontecia a sua volta, aquilo era tortura.

- ela é filha de alguém que Giancarlo quer agradar...

- ele fez isso?

- não, você não pergunta, você faz.

Me aproximei da garota e tirei apenas os abafadores, então falei.

- você vem comigo.

Ela se contorceu tentando se afastar, mas foi em vão, a joguei em dificuldades em meu obri e subi com ela, quando alcançamos o lado de fora da casa a coloquei no o chão então voltei a falar.

- vamos andar agora, então se não quiser morrer hoje, coopera.

Ouvi apenas seu arfar, ela estava chorando, puxei a mordaça da sua boca e perguntei.

- entendeu?

- sim - sua voz saiu seca.

- não vai adiantar gritar, ninguém vai te ouvir.

- vai se ferrar cretino.

- não sou o cretino, estou te salvando - comecei a andar e puxar ela junto.

- até parece, se está aqui e tão bandindo quanto quem me sequestrou.

- sou a porra do bandido que te salvou, então cala a boca e anda.

- e se eu me recusar?

A garota travou, virei pra ela e falei com raiva.

- isso não vai ser um problema - joguei ela no ombro outra vez.

- me solta - ela falo alto.

- quer que eu te amordasse? Porque sinceramente eu não me importo.

- não - ela choramingou.

- ótimo - continuei andando, segui na mesma direção que estava antes, onde havia deixado o carro, só parei quando chegamos nele, a coloquei no banco de trás e usei a mordaça para amarrar suas mãos, peguei minha gravata e amarrei seus pés.

- não precisava.

- pode apostar que sim - dei partida no carro e segui em direção a casa de Giancarlo.

Uma longa viagem.

- pode me falar alguma coisa? Faz uma semana que não ouço nada.

- não.

- não o que?

- não posso falar - liguei som e coloquei música, as favoritas de Ellen, deixei a música alta o suficiente para que a garota não conseguisse falar.

O que Giancarlo queria de mim? Eu sabia que era me testar, ver até onde eu iria para me manter leal, mas mentir? Ou omitir informações? Me deixar nas escuras achando que faria uma coisa e na verdade era outra! O que ele esperava? Que eu fugisse? Que me negasse a andar com aquela menina?

Ou era o contrário? Ele queria ver se eu faria, se faria o que fosse preciso, mesmo que eu não soubesse, que não contestaria suas ordens, mesmo quando pego de surpresa, apenas faria, o teste não era ver até o de eu iria, e ver se eu faria sem questionar.

Aquela viagem me deu a chance de pensar sobre isso, e decidir o que faria com minha vida, e eu tinha a resposta.













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