³⁹* Uma boa companhia.

21 6 10
                                    

Pov'Ellen.

  Parecia que agora até respirar era mais fácil, apesar de que parecia mais difícil, com vinte semanas completas, minha barriga já não se escondia mais, queria dizer que mudei meu guarda roupa, mas na verdade eu não fiz, só comprei roupas confortáveis e que me agradavam, nova vida, novas roupas, novo tudo. Mas depois de quase dois meses longe da Itália, eu conseguia dormir em paz, o medo era quase inexistente, eu tentava aproveitar o máximo de cada momento da minha gravidez, depois de Catherine me convencer a fazer uma sexagem fetal para desvendar de vez o mistério, porque meu bebê se recusava a se mostrar, eu fiz, e ela garantiu que ia pegar o resultado e comprar o primeiro presente do afilhado. Mesmo depois do que fiz, minha amiga tinha a capacidade de me amar, de me acolher e se importar tanto, isso era incrível, eu não poderia desejar ter mais ninguém ao meu lado vivendo esses momentos.

- cheguei - a vozinha animada dela ecoou na casa - eu não aguentei, comprei mais de um presente - minha amiga falava, sai da cozinha em direção a sala e vi as várias sacolas em seus braços, ela jogou todas no sofá, e procurou apenas uma - esse é o presente eu também não sei.

- como assim?

- escolhi duas roupinhas, pedi pra vendedora olhar o resultado e colocar na caixa o que condizia com o sexo... Queria descobrir junto com você.

Senti um no seu formar em minha garganta, eu tinha mais que uma amiga, era minha irmã, e meu anjo da guarda que estava fazendo da minha gestação algo memorável, abracei ela tentando conter minhas lágrimas, eu era a pessoa mais sortuda do mundo naquele momento.

- obrigada por se importar.

- tá, tá, abra logo tô curiosa - Catherine se remexeu, dei um passo para trás soltando uma risadinha.

- vamos ver - abri a caixa e depois puxei o papel de seda que cobria a roupinha - azul.

- você tinha razão - Catherine que raramente chorava deixou as lágrimas saírem - um menino.

- eu tinha - concordei chorando junto com ela, e agora eu fui abraçada - obrigada - suspirei.

- obrigada por me trazer para vida dele.

- Guilhermo - sussurrei.

- nosso Guilhermo.

- nosso - falei baixinho.

***************

O tempo parecia estranho, ao mesmo tempo que os dias parecia se arrastar e nunca chegar ao fim, as semanas parecia correr como um maratonista, vi minha barriga crescer desenfreada, junto com ela os olhares, alguns sorridentes, as pessoas passavam e cumprimentavam, alguma olhavam torto, principalmente quando me via ao lado de Catherine, isso nos fazia rir por horas, porque já imaginávamos o contexto dos pensamentos, deveria ser bem parecidos com os de Thomas, isso não me incomodava, poucas vezes na minha vida me importei com a opinião alheia.

O quarto de Guilhermo começava a ganhar forma, sempre esperava minha amiga estar de folga para arrumarmos juntas, ou comprar o que ainda faltava, então na maior parte do tempo não fazia nada e isso era o pior, mas quais minhas outras opções? Ler? Eu já havia lido mais livros nos últimos meses do que em toda vida, estava aprendendo tricô, mas não tive muito sucesso, tentei pintura, foi pior, comprei pela internet um kit de sutura, e isso foi bom, minha perícia nesse ponto seria invejável, conseguia usar até a mão esquerda, o que era uma qualidade admirável em um cirurgião, o que não ia me valer de nada já que eu nunca mais poderia praticar medicina.

Sentia que a minha vida nunca mais teria sentido, não no sentido super dramático, mas no sentido profissional, eu sempre sonhei em ser médica, era algo que eu idealizava desde a infância, e agora estava fadada a apenas ouvir Catherine contando sobre seus plantões, às vezes queria ser egoísta e falar que não me importava em ouvir, que preferia não saber nada, mas seria injusto com ela, e no final era tudo que me restava.

Vingança, segredos e poder.Onde histórias criam vida. Descubra agora