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Na manhã seguinte, Iori acordou cedo com seu estômago doendo, mais uma vez havia dormido sem comer e apenas álcool preenchera seu estômago na noite anterior. Sua cabeça doía, com certeza sua glicose havia baixado, se levantou e antes de qualquer coisa se dirigiu à cozinha para preparar seu café da manhã.
Enquanto passava seu café e cortava algumas frutas, cogitava contratar uma empregada para ajuda-la no trabalho de casa, visto que não teria muito tempo livre e pelo menos tentaria se alimentar melhor, ou não conseguiria ficar de pé  nos plantões. Enquanto comia sua primeira refeição do dia olhava as mensagens que recebeu durante a madrugada, fotos de Nobara dançado em cima de uma mesa com megumi tapando o rosto ao fundo. Balançou a cabeça e sorriu, realmente a noite foi longa para eles.
Após organizar a mudança, seu apartamento finalmente tinha cara de lar. Na enorme sala havia um sofá estilo vintage branco no centro, acompanhado de duas poltronas uma de cada lado. Um tapete felpudo no chão com uma mesinha de centro por cima, onde haviam vasinhos de planta e pequenas esculturas. A mesma decoraçao enfeitava o aparador por cima da da lareira, onde havia alguns porta retratos com fotos de familia. Amava decoração minimalista, e assim decorou cada cantinho de seu apartamento.
Olhou para o relógio e já beirava as 13h, ainda não havia almoçado e estava decidida a manter seu foco em se alimentar adequadamente. A casa estava tão arrumadinha que decidiu pedir algo pelo delivery, uma salada proteica mas dessa vez incluiu algum carboidrato.
Por volta das 18h já estava pronta para seu plantão. Fazia calor em Tokyo naquela noite, então optou por um look mais fresquinho. Vestia uma saia midi plissada com uma estampa singela, uma blusa rosa claro com um decote coração e calçava sandálias de salto baixo. Prendeu um pouco do cabelo deixando o resto solto, pegou sua bolsa e caminhou em direção ao seu carro.
Quando chegou, Nobara já estava com seu scrub azul marinho, sentada em uma das poltronas reclináveis do estar médico aguardando sua preceptora. Conversaram brevemente sobre a noite anterior e a performance da ruiva em cima da mesa, que ria envergonhada.
Mal pegaram plantão e Iori já tomava o seu primeiro café da noite antes de passar visita em seus pacientes, acompanhada pela sua "sombra".

Os plantões noturnos costumavam ser tranquilos, as cirurgias que aconteciam eram casos de urgência e por isso Iori e Nobara caminhavam pelos corredores jogando conversa fora, quando se depararam com Yuji num canto, o mesmo não estava sozinho.
O rosado mantinha um olhar firme, enquanto o homem a sua frente parecia encurrala-lo. O rapaz apenas acenava com a cabeça em concordância, enquanto o outro falava.
— Caramba, o Yuji deve tá levando o maior esporro - falou a ruiva em tom de preocupação.
Iori observava a cena, o homem alto que usava um jaleco por cima do pijama cirúrgico estava de costas para elas enquanto falava com Yuji. Seus olhares se cruzaram rapidamente e seguiram em frente, deixando o pobre garoto para trás.
— sinceramente, não sei por que o Yuji não pede pra trocar de preceptor. Nanami não tem um pingo de simpatia, eu nunca vi aquele homem ser gentil com ele - a ruiva desabafou.
— Se ele quiser se mudar pra Geral, eu adoto ele - Iori sorriu e abraçou a ruiva, confortando-a.

Era por volta de 3h da manhã e Iori já se sentia cansada apesar da tranquilidade do plantão. Como organizou a casa durante o dia descansou pouco para quem ficaria 24 horas sem dormir. Se dirigiu ao estar médico e procurou um quarto vazio para se deitar, e quando achou tirou os crocs e deitou no colchão macio da beliche, cuja parte de cima já estava ocupada por Nobara que dormia pesadamente. Começou a pegar no sono, quando seu celular tocou. Coçou os olhos por conta da claridade da tela e atendeu.
"Doutora Utahime, precisamos de você na sala 3, com urgência!"
Iori se levantou num salto, calçou seus crocs e correu em direção aos elevadores, prendendo seu cabelo num coque desajeitado enquanto colocava sua touca de estampas de pirulitos. Precisava descer logo para o bloco, mas todos os elevadores estavam subindo. Não perdeu tempo e correu para as escadas, descendo o mais rápido que conseguia os 3 andares abaixo.
Ao chegar se escovou, vestiu o capote estéril e as luvas, entrando ofegante na sala de cirurgia.
—tô aqui, qual é o caso? - falou ainda recuperando o fôlego.
— Ah, resolveu finalmente nos dar o ar de sua graça, Doutora. - o homem alto respondeu num tom debochado enquanto falhava na tentativa de estancar um volumoso sangramento que jorrava do abdômen do que parecia ser um homem de meia idade deitado inerte sobre a mesa cirúrgica.
Reconheceu a figura rosada de Yuji que auxiliava Nanami, o mesmo prontamente respondeu.
— Não conseguimos encontrar o foco da hemorragia, já secamos e cauterizamos mas ele ainda sangra.
Iori entrou no campo, e olhava com atenção a cena a sua frente. Se continuasse sangrando daquele jeito, ele não resistiria.
— pressão 74 por 43 e caindo, frequência cardíaca 118
— compressas, rápido! - Iori secava a cavidade abdominal do homem, que seguia jorrando sangue.
— eu já olhei aí, não é aí o foco. - disse Nanami com rispidez. - Doutora Utahime, está me ouvindo? Já disse que o foco do sangramento não está aí!
Iori tentava não focar no homem que gritava com ela, olhava atentamente cada centímetro daquela cavidade tentando encontrar a causa daquela hemorragia.
— pressão 61 por 37, ele vai parar!
— Você aí - Nanami chamou a circulante da sala que apenas observava aquele caos- ligue para o cirurgião na prontidão, preciso de alguém que saiba o que fazer aqui!
— não vai ligar pra ninguém! Eu achei! - gritou Iori fazendo Nanami encara-la.- prolene 4.0 por favor Yuji.
O rosado rapidamente entregou o porta agulha com o fio para Iori, que secava e suturava o grande vaso rompido que deu origem ao enorme sangramento, enquanto isso o paciente recebia diversas bolsas de sangue. Nanami apenas observava enquanto a mulher estancava a hemorragia, suas mãos eram ágeis e aos poucos o paciente foi melhorando os sinais vitais.
— é isso aí, pressão arterial 95 por 57, subindo. Doutora Utahime, você conseguiu. - Yuji sorria para a mulher que mantinha seu foco enquanto finalizava a sutura.
— Bom, acho que já fiz minha parte aqui. Mais alguma coisa? - Iori perguntou.
— está dispensada. Só venha mais rápido da próxima vez. - Nanami respondeu sem encará-la.
Iori sentiu seu rosto esquentar e seu sangue ferver, enquanto tirava o  seu capote cirúrgico ensopado de sangue. Não aguentou e devolveu no mesmo tom.
— Claro doutor, pode deixar que da próxima vez farei um jutsu de teletransporte e chegarei mais rápido para salvar a sua pele.
Não esperou pela resposta do colega. Saiu apressada da sala de cirurgia, tremendo de raiva.
— que filho da puta!

Enquanto se acalmava, decidiu ir até a cafeteria tomar seu café da manhã, faltava poucas horas pro dia amanhecer. Não tentou dormir novamente devido a irritação que tomou conta de si. Agora entendeu a má fama de Nanami. Toda vez que lembrava de sua arrogância seu sangue fervia.
Tomava seu café ainda remoendo o ocorrido, quando uma Nobara sonolenta sentou ao seu lado.
— Bom dia - cumprimentou a ruiva bocejando.
— Bom dia.
— Iiih, que bicho te mordeu ein?
Iori respirou fundo e quando ia começar a contar sobre o ocorrido com Nanami Yuji se aproximou, sentando-se ao lado das garotas.
— digamos que ela recebeu um carinho do Nanami essa madrugada - o rosado disse tentando amenizar a situação.- mas você  retrucou, e posso te contar? Quando você disse aquilo e saiu, ele ficou todo vermelho de raiva, tipo, muito puto.
Iori sorriu ao saber daquilo, ao menos devolveu na mesma moeda.
—Meu Deus Yuji, como você aguenta esse sujeito? A grosseria em pessoa, você ao menos consegue aprender alguma coisa?
O rosado coçou a cabeça, sua expressão tornou-se séria.
—Bom... Nanami não é nem um pouco carismático, mas é um dos melhores cirurgiões do país. É uma oportunidade e tanto poder aprender com ele. No começo foi difícil mas hoje em dia eu aprendi a ignorar seus ataques de pelanca.
As moças caíram na risada da expressão utilizada por Yuji, e pensando bem, era disso que se tratava o mau humor de Nanami.

Os dias correram numa velocidade que Iori nem percebia. Sua rotina se resumia do hospital para casa, casa para hospital e algumas saídas com Nobara e os amigos.
De volta ao hospital, se preparava para pegar o plantão indo em direção à sala dos médicos. Quando entrou no local deu de cara com Nanami sentado numa cadeira da grande mesa de reuniões, os olhos atentos no computador.
Iori inspirou fundo.
— Bom dia. - Iori cumprimentou educadamente.
—Bom dia.
O mais velho respondeu sem tirar os olhos da tela. Agora sem o capote cirúrgico e a máscara Iori conseguia observar melhor o homem a sua frente. Kento era alto, cabelos loiros e olhos castanho claros. Parecia ter músculos bem definidos, dava para notar através da camisa social impecável que o homem vestia. Suas mãos grandes cheias de veias, cujos dedos deslizavam apressadamente pelas teclas do notebook a sua frente davam um toque a mais na aparência máscula do homem. Por uma fração de segundo, Iori se perguntou como seria ter seus cabelos puxados por aquelas mãos enormes.
— que porra é essa? - pensou consigo mesma e afastou aquele pensamento, balançando a cabeça em negação.
Pegou seu café expresso e se sentou na outra ponta da mesa aguardando Nobara, sendo copiosamente ignorada pelo loiro a sua frente.
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Obrigada por ler ❤️

Anatomia - Dr Kento Nanami Onde histórias criam vida. Descubra agora